Quase dois anos após meus planos de assistir a “Edge of Tomorrow” em IMAX eu finalmente decidi tirar o atraso – ele tinha saído de cartaz e dado lugar a “How to Train Your Dragon 2” no dia que fui ao cinema. Não vou dizer que foi uma troca injusta porque a mencionada animação é muito divertida, mas este filme de ação com toques de ficção científica é uma experiência muito sólida para ser esquecida. Roteiro, elenco, história e ação competentes resultam num dos melhores filmes pipoca do ano, um respiro de Tom Cruise após “Oblivion”, Sci-Fi não muito bem aceito pelo público.
O Major do exército americano William Cage (Tom Cruise) não é um soldado. Antes da Terra ser invadida por alienígenas ele era dono de uma agência de publicidade e depois da invasão se junta ao exército na parte de comunicação social. Ele nunca viu um dia de combate em sua vida e nem está disposto, então tenta chantagear seu superior quando é ordenado a cobrir o conflito em pessoa. O resultado coloca Cage na linha de frente de uma missão suicida; e sem patente ou experiência para protegê-lo ele não dura muito. No entanto, sua morte não significa o fim, e sim uma nova oportunidade quando o dia recomeça a cada vez que ele morre.
A primeira impressão sobre “Edge of Tomorrow” pode ser que ele é apenas outro conjunto de explosões sem nada a dizer. De forma alguma. Este é o melhor filme de ação do ano, com “Dawn of the Planet of the Apes” seguindo logo atrás. O segredo do sucesso? A genial idéia do dia reiniciar cada vez que o protagonista morre. Para mim – e imagino que para outros também – essa mecânica foi crucial para me sentir envolvido com a premissa simples, afinal de contas as coisas funcionam exatamente como num video-game. Para a história progredir o herói deve sobreviver, então faz sentido que o jogo volte a um ponto onde ele esteja vivo quando o jogador morre. Entretanto, há uma sacada aqui neste longa: o protagonista é como se fosse o jogador do jogo, ele lembra de exatamente tudo o que aconteceu antes de sua morte.
Isso abre um leque gigantesco de possibilidade e, mais do que tudo, transforma um possível filme genérico em uma experiência divertida e criativa. Em termos de roteiro, especialmente, o longa se beneficia por usar de maneira inteligente esse esquema. Humanos com exo-esqueletos, metralhadoras e mísseis rendem boas cenas de ação, então por que não dar um jeito de mostrar várias destas cenas? De brinde ainda há o protagonista amador literalmente se matando no campo de batalha, o que sempre rende uma risada ou duas. Todas aquelas cenas que são chatinhas, mas avançam a história? Inexistentes. É só o protagonista dizer que já viveu aquela situação antes para evitar que o espectador se entedie com os detalhes que o levaram até ali. O resultado é um roteiro enxuto, que evita qualquer coisa que desacelere o rimo sem nunca emburrecer a história com a omissão de detalhes importantes.
Não apenas evitam que a trama se torne burra como faz com que este longa seja um dos raros exemplos de filme de ação inteligente, não apenas esperto. Exemplos de obras espertas estão aos montes na franquia 007, por exemplo. São filmes divertidos e formulares que impressionam com twists da estrutura base: quem assiste sabe que James Bond tem dezenas de bordões na manga de seu smoking, mas a surpresa está em saber qual vai ser o da vez. “Edge of Tomorrow” tem isso e mais um pouco, pois ele literalmente manipula o espectador ao conduzi-lo por um caminho totalmente imprevisível. O reiniciar dos dias fica manjado já no começo para não criar confusão, o que não pode ser dito do caminho resultante dessa brincadeira. Em momento algum senti que o filme estava se repetindo demais ou que ele estava me enrolando, muito pelo contrário, cada nova cena resultava em uma nova surpresa, como alguém morrendo ou algum alienígena sendo obliterado por tiros. O único detalhe que pode ser questionado é o final, no qual as coisas simplesmente acontecem sem muita explicação. Pode não agradar alguns, mas eu não me incomodei por não achar que há tanto motivo para ver a conclusão negativamente; em nenhum momento o filme segue um manual de instruções que explica como as coisas funcionam. Inconsistente a obra não é, se ela é feliz em sua decisão já é outra história.
De qualquer forma, a falange de reviravoltas e recomeços não deixa pontas soltas e conclui bem tudo o que veio construindo. O final pode incomodar alguns, mas não é o bastante para estragar os sucessos de um roteiro inteligente e instigante. De forma alguma “Edge of Tomorrow” dá a impressão que precisaria reiniciar por conta de algum erro.