Fica difícil se empolgar com tantos filmes de superheróis em tão pouco tempo. Por mais que ver o Doutor Estranho no cinema possa ser legal, por exemplo, ele é apenas um em um monte de filmes do gênero que saem anualmente. Ainda assim, tive a impressão de que as expectativas por “Batman v Superman: Dawn of Justice” estavam altas —na medida do possível. Batman é um dos heróis mais populares, e teve muito sucesso com a recente trilogia. Já Super-Homem só voltou a ganhar mais atenção com a pegada mais séria de Zack Snyder em “Homem de Aço”, parte da expansão da Warner Bros. no universo cinemático da DC. Este mesmo diretor volta para dirigir um filme com tremendo potencial: o embate entre as duas maiores figuras da DC e uma história que já tinha dado certo 30 anos atrás em “The Dark Knight Returns”. O resultado, porém, desaponta por tantas razões que fica difícil citar todas.
Para não dizer que tudo é uma absoluta porcaria, dou crédito ao roteirista que teve a idéia de usar a destruição da cidade em “Man of Steel” como estopim para este novo filme. Na luta contra General Zod, Superman (Henry Cavill) colocou metade da cidade no chão, matando civis no processo. Isso trouxe o escárnio de vários fãs, os quais diziam que o herói não se importou com as consequências de seus poderes.N destruição, milhares de vidas se perdem e a figura de Superman é questionada, especialmente por Bruce Wayne (Ben Affleck) — que perde pessoas queridas na confusão — e pelo jovem Lex Luthor (Jesse Eisenberg), que teme o herói e procura formas de controlá-lo a qualquer custo. Uma coisa leva à outra — de um jeito que o roteiro não explica muito bem — e dois dos maiores heróis daquele mundo se encontram de lados opostos do ringue.
Quando disse que o roteiro não explica bem como os eventos desenrolam não foi porque ele omite fatos ou os expõe de forma pouco clara, mas sim porque é pouco convincente em seu desenvolvimento. Antes de falar sobre como isso acontece prefiro apontar o elemento que, para mim, causa tudo isso em primeiro lugar. Eu não vi problema na caracterização de Superman em “Man of Steel” — um problema para muitos espectadores. inclusive acho que há uma boa margem para justificar o que é mostrado lá. Não é o caso de “Batman v Superman: Dawn of Justice”. Parece que a obsessão da história de fazer super-heróis — seres já fantásticos e fantasiosos por si — serem coisas maiores que o universo tem voz ativa sobre qualquer outra coisa. Neste caso, essa visão é aplicada de forma que todo e qualquer aspecto relacionado a eles seja super-dramatizado ou muito mais obscuro que suas imagens populares. Tudo bem interpretar o herói de uma forma diferente, mas o que fazem com figuras como Batman simplesmente não desce. Acredito que a visão sobre ele já estava bem concretizada na mente do público depois de cerca de sete filmes, o que pode ter levado a produção a desejar algo diferente do que já foi visto. Uma causa justa, sem dúvida, mas se for para piorar algo bom é melhor deixar em paz os cães que dormem.
Isso não é apenas uma reclamação por conta de uma visão nova de personagens clássicos, é um protesto aberto que denuncia esta a caracterização dos personagens para remendar as falhas de um roteiro fraco. Acima de tudo, o conflito principal tem muito pouco espaço para algo que está em letras garrafais no título do filme. Como em qualquer história boa, um evento tem mais impacto quando o caminho até ele é cativante Qual seria o efeito de uma figura histórica importante — como, por exemplo, Martin Luther King Jr. — se ele não tivesse realizado todo o importante trabalho pela liberdade social dos negros? Ele não seria um mártir se fosse apenas um cidadão comum. Levando isso em consideração, é simplesmente triste ver como todo o antagonismo crescente entre Batman — um herói reconhecidamente inteligente — e Superman se resume a artifícios desprezíveis que insultam a inteligência de quem assiste.
Independente de comparações com quadrinhos ou com cultura popular, chega um ponto em que o roteiro — no geral, considerando trama, caracterização e desenvolvimento de personagens —mostra como é podre e não funciona no próprio universo que criou. Lex Luthor é outro personagem conhecido por sua inteligência e poder manipulativo. Vê-lo em ação é simplesmente triste. Ele é apresentado como alguém completamente diferente dessa imagem conhecida, mas querem que o sentido dessa versão bizarra seja aquela que não está no filme. Entregam um louco varrido na esperança de que o espectador o veja como um gênio do mal. Os diálogos, cheios de exposição, fazem questão de indicar tudo o que as imagens não comunicam e logo se chega ao ponto em que a visão tão séria, dramática e obscura atrapalha o desenvolvimento da trama. Claro, sempre há um modo otimista de enxergar todo esse dilema. Neste caso, o público teria de aceitar que todos os personagens são completos imbecis. E isso eu me recuso a fazer.
Visualmente, “Batman v Superman: Dawn of Justice” é competente. Não achei o uso da computação gráfica incômodo, ainda mais diante de outras obras recentes que pecaram muito mais nesse sentido, como “Jurassic World“”. A direção de Snyder, no geral, captura bem os eventos apresentados, sendo muitas vezes o toque que impede algumas cenas de serem desastres completos. Resta saber qual foi a influência do diretor no roteiro, que é ainda mais lamentável quando visto sob um olhar mais técnico; os eventos ruins por si são prejudicados por serem tão mal dispostos no contexto geral do enredo, desacelerando o ritmo e matando o drama de alguns momentos importantes.
“Batman v Superman: Dawn of Justice” era um filme que eu estava apenas curioso para ver. A expectativa não era muito alta, então achei que a possibilidade de me decepcionar seria menor. Engano meu. Mesmo indo para o cinema sem esperar um grande filme, saí da sessão revoltado e triste por ver uma oportunidade desperdiçada dessa forma.