Revisitar “Jurassic Park” depois de ver o decente “Jurassic World” foi realmente inspirador. Pelo que lembrava, o filme era bom, mas não uma obra prima de Spielberg. Levando essa qualidade em conta, acabei me sentindo um pouco mais otimista quanto às continuações frequentemente destruídas pelo público. Bem, “The Lost World: Jurassic Park” faz questão de mostrar em todas as cores que meu otimismo era infundado. Não sei bem o que pretenderam fazer com este longa, sinceramente, pois não entregam nem uma simples cópia do primeiro, nem algo ruim por ser diferente demais. É apenas um filme fraco com dinossauros e, curiosamente, o nome de Steven Spielberg na Direção.
Quatro anos depois do desastre que matou três pessoas na Ilha Nublar, a poeira baixou e todo o incidente foi acobertado. Eis que o Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum) é convocado para visitar a Ilha Sorna, instalação do Jurassic Park onde muitos dinossauros eram criados para depois serem levados a Ilha Nublar. Antes mesmo da tragédia de anos antes, todos os projetos dessa outra ilha foram abandonados quando um furacão devastou os laboratórios, mas vários dinossauros sobreviveram e fizeram da ilha sua casa. Curioso para ver as criaturas vivendo sem influência humana, John Hammond (Richard Attenborough) recruta a namorada do Dr. Malcolm sem ele saber, finalmente convencendo-o a se juntar a expedição.
Como dito, é uma absoluta incógnita para mim o que esta obra era pra ter sido. Tirando os dinossauros, não há nada que remeta à magia do primeiro filme; a história, os personagens, o ambiente e até algumas sequências específicas não têm aquela toque especial de antes, tudo parece batido. No entanto, não digo isso porque “The Lost World: Jurassic Park” copia seu predecessor descaradamente, é uma história bem diferente com algumas semelhanças inevitáveis e que ainda assim consegue ser tão desimaginativa quanto possível. Uma nova ilha que já existia antes da original? Conveniente! Protagonista totalmente diferente de sua versão no outro filme? Uma nova protagonista feminina e uma criança nova? Três tiranossauros em vez de um? Aí já estão tentando enganar o espectador, se fazendo de dissimulados para dizer que existe conteúdo novo.
O protagonista agora não é mais o Dr. Alan Grant de Sam Neill, quem assume o posto é o playboy despreocupado Ian Malcolm. Isto é, com exceção da parte do playboy despreocupado, pois agora ele é um pai atencioso e um cientista comprometido com a verdade. Tudo bem estes traços existirem, contanto que não mudem um dos personagens mais icônicos daquele universo. Pra completar o pacote, agora ele tem uma filha com a incrível capacidade de só proferir frases descartáveis e uma esposa que é, provavelmente, a pior profissional de todos os tempos. Sua primeira reação ao encontrar dinossauros, criaturas incríveis e supostamente extintas, é sair correndo no meio deles tirando fotos e depois tentar tocar no filhote da manada. Entusiasmo tem limite, a paciência do espectador também.
Parte do sucesso de “Jurassic Park” foi devido a maneira como conseguiram apresentar algo conhecido — dinossauros, neste caso — como se eles fossem uma verdadeira novidade. Todo mundo sabe como é um Tiranossauro Rex e ainda assim o filme fez a surpresa dos personagens ser do espectador também, uma catarse magnífica. Mesmo com uma história diferente, envolvendo personagens novos em um lugar que não tem parque nenhum, o filme rende poucas surpresas. Na maior parte do tempo, o espectador fica apenas se perguntando quando tudo vai acabar, quando aquela mistura de conteúdo novo ruim com partes desfiguradas do antigo vai dar lugar a algo que preste. Entretanto, não vou exagerar e dizer que tudo é lixo. Algumas partes ainda conseguem conservar o espírito do primeiro ao inserir humor em cenas bem dirigidas, tal como aquele humor negro — e que todos negam — da cena da criança eletrocutada na cerca. De resto, o que sobra são coisas tipo uma versão extremamente alongada, mal dirigida e desprovida de emoção da cena do jipe na árvore, entre outras aberrações. Basicamente, resta ficar garimpando por coisas que sejam minimamente satisfatórias, considerando que não há personagens realmente cativantes, um senso de novidade ou mesmo visuais bonitos. Podem até criticar “Jurassic World” por usar efeitos especiais demais, mas que fique claro que foi aqui onde começou a tendência de abrir mão dos efeitos práticos.
É uma pena que “The Lost World: Jurassic Park” seja tão mais fraco que o original. O pior de tudo é que nem consigo enxergar algum potencial desperdiçado para poder dizer que o filme foi decepcionante, toda a fonte de frustração vem exclusivamente porque o nível foi baixado muito mais do que a típica continuação costuma fazer. É uma versão menos original, menos divertida e menos relevante do primeiro.