Não, “The Witch” não é tudo isso. Desde que o filme ganhou o prêmio de Melhor Diretor em Sundance, trailers começaram a lotar a internet e encher os fãs de expectativa. De fato, um filme de Terror tem de ser realmente bem feito para ganhar tal prêmio, então ao menos uma pequena garantia sobre a qualidade deu as caras. Então vieram os trailers e mostraram que, além de prêmios, havia certo potencial naquilo tudo; uma originalidade que despertava o interesse justamente por passar longe do amontoado de lixo lançado todo ano. Tudo o que é prometido nos trailers está, de certa forma, presente, mas o conjunto da obra infelizmente não atinge seu potencial.
Nos Anos 30 — 1630, no caso — uma família é expulsa de uma comunidade agricultora por conta de conflitos do patriarca. Com sua esposa e cinco filhos, William (Ralph Ineson) parte para uma casa no campo, isolada da população e localizada nas redondezas de uma floresta. Na nova casa, as coisas não correm exatamente como planejado: as colheitas não crescem direito e a caça não rende tanto quanto esperado. O ápice da calamidade chega quando o filho recém-nascido da família desaparece misteriosamente enquanto estava sob cuidados da filha mais velha, Thomasin (Anya Taylor-Joy). Conflito após conflito, todos passam a cair na miséria conforme a confiança deixa de existir entre pais, filhos e irmãos.
O segredo para aproveitar “The Witch” ao máximo, sem nenhuma expectativa que possa atrapalhar, é se limitar ao que é dito nos trailers. Estes são um dos poucos exemplos que não distorcem completamente a história para parecer mais comerciável, pois o fato do filme ser um Terror diferente já é comerciável por si. O problema é que há tanta gente falando extremamente bem desta obra que fica difícil não imaginar que reinventaram o gênero inteiro. Como não é possível se livrar de tanto falatório, vale a pena diminuir um pouco das expectativas. Este longa-metragem não é essa maravilha toda, nem um lixo absoluto, é apenas um filme decente com seus defeitos.
Longe do exagero apontado por muitos, esta ainda é uma experiência de Terror diferente da maioria. O foco não está nem um pouco na manipulação barata de emoções, normalmente vista em jumpscares e em conteúdo explícito, pois o diretor Robert Eggers mostra-se muito mais preocupado em estabelecer outras prioridades. Logo de cara, uma delas fica bem clara: a ambientação e como ela é construída por uma diversidade de elementos. Uma casa no maior estilo medieval, rodeada pelo nada do horizonte e pelo tudo de uma floresta, é um ambiente mais que apropriado para uma corrente de desastres acontecer; mais ainda quando a fotografia transmite um vazio existencial, um misto do tédio miserável de morar num lugar daqueles com a desesperança daquela situação. Falta vida em tudo. A grama do vizinho não é mais verde pois não há vizinho nem grama, apenas uma imensidão de nada, que deixam os personagens sós em seu próprio sofrimento.
Inicialmente, as coisas demoram um tanto para engrenar. Tudo bem, introduzir o espectador a todo um ambiente e contexto novos faz parte do processo de contar uma história, mas demora um bom tempo até as coisas realmente se mexerem. Mesmo depois do incidente incitante, aquele evento que dá início à cadeia de conflitos, o filme não tem pressa para colocar as engrenagens para rodar. Não é surpresa que muitos espectadores fiquem se perguntando onde está toda a falácia, todo o sangue, toda a desumanidade de “The Witch”.
O começo desta obra é lento, mas quando engata mostra o que muitos queriam. Tão logo que o mal começa a se manifestar, a história entrega seus frutos podres e corrompidos; não por serem ruins, mas por serem chocantes com seu conteúdo que apenas as mentes mais distorcidas se atreveriam a prever. Para tornar tudo ainda mais impactante, a direção de Eggers — seu jogo de câmeras, em especial — dá um jeito de incrementar até cenas simples com uma combinação de cortes fluídos e uma edição de som sempre a par do sentimento que a cena quer transmitir. A câmera não fica tempo demais no inútil, nem dá 15 minutos de fama para qualquer cena forte; é sempre o bastante para satisfazer o desejo parcialmente, deixando margem para mais. A história, no geral, foca muito na relação do pecado com a religião; como aquela família se prende tanto a dogmas religiosos que fica tornando difícil imaginar a perversão lá. Os pais procuram manter a família nos eixos a todo o momento, mas palavras são vento, aqui são as atitudes e pequenos gestos que têm voz. Pois bem, partindo deste plano de fundo, o diretor torce a faca na barriga da religião, recompensando fé e oração com heresia e violência; não gratuitamente, claro, procurando sempre trabalhar o assunto de forma que não torne a história um ataque barato ao fervor religioso. No entanto — excluindo a possível crítica social e procurando enxergar tudo em termos de trama — é difícil ver para onde tudo está indo. Demora, mas eventualmente o enredo se desenvolve e começa a criar uma ambiguidade em cima da origem daquele mal — essencialmente uma resposta para o mistério daqueles ataques. Será tudo real? São as forças antagonistas uma metáfora para a vida dos personagens? Quando chega o final de tudo, não resta ambiguidade, apenas um grande ponto de interrogação; a questão permanece não respondida porque falta estrutura para o roteiro de Eggers. Os eventos vão crescendo em termos de impacto para no fim simplesmente acabar e desperdiçar o que veio antes.
Sim, esta obra tem vários daqueles momentos tão comentados por aí. Sim, eles são realmente únicos em sua essência, pois pouca coisa chega perto de criar algo parecido. No entanto, um começo extremamente lento e uma conclusão que não conclui nada dão um gosto esquisito a “The Witch”, tornando tudo quase um pouco sem sentido. No fim, as dúvidas levadas para fora do cinema pelo espectador não vêm da ambiguidade de um final profundo, mas sim de algo que se mostra insatisfatório.
30 comments
Eu nem terminei de ler seu texto. Uma pessoa que começa seu texto falando mal de uma obra premiada, e que não consegue analisar a “época de filmes de terror” atuais, p/ mim não entende nem sequer de cinema.
Então vá estudar ao menos como se ganha a simpatia de um leitor.
E aposto que deve ter uma crítica do fim do filme.
Abs., críticas construtivas.
Bem, vamos lá. Se eu fosse começar o texto vangloriando o filme, estaria mentindo. Então sim, prefiro criticar uma obra premiada e que é diferente do Terror atual do que ser desonesto com o leitor e comigo mesmo. Aliás, acho que elogiar algo pelo simples fato de ser premiado não constitui conhecimento sobre cinema. Talvez minha opinião não corresponda à sua, o que é completamente compreensível, só não acho que ser antipático seja uma crítica construtiva se você quer que eu ganhe sua simpatia.
Qualquer coisa estou por aí,
Att
Uma pessoa que fala: “nem terminei de ler o texto” está entre milhões de brasileiros que postam um monte de asneiras só lendo o título de uma matéria, parabéns Kleber você é só mais um.
Esse tal de Caio é o dono do Blog?? Que ainda tá remoendo meu comentário?? Kkk
Obrigado pelos parabéns, devia saber que ter uma página pública, iria receber críticas, e também elogios. Ou os dois ao mesmo tempo. Então, tenta pensar que com dois posts seu blog tá bombando e vc é o dono da razão, deveria estar preocupado com a próxima matéria.
E se o Caio não for o dono do blog, peço desculpas ao owner, e sim, continue postando suas matérias com suas opiniões, isso é a democracia, é melhor, a internet. E ao Caio que se remoeu, é só mais um ostentador de picuinhas.
Vc leitor, também é só mais um, entre milhões no mundo inteiro, e só mais um em uns 1000 que leram essa matéria (e até o fim). Ah, é só estou respondendo novamente Pq estou recebendo e-mails a cada novo post.
Sou sim. E não, não to remoendo seu comentário, você comentou e eu respondi. Também não acho que com “dois” posts meu blog tá bombando, estou aberto a feedback. Até porque essa é uma das propostas da sessão de comentários.
Só não entendo como o Caio dono do blog e ser o Caio ostentador de picuinhas podem ser tão diferentes pra você. Não sou o dono da razão nem disse que era, a minha credibilidade é medida por cada um que lê o texto. De qualquer forma, estou sim me preocupando com a próxima matéria. Desde seu primeiro comentário saíram outras 2 postagens novas e totalmente abertas a críticas, elogios ou os dois ao mesmo tempo.
Att
A mensagem foi P/ o Anailton, que ao invés de deixar sua opiniao sobre seu texto, leu o meu e deve ter achado mais interessante. Caio, perdão.
Enfim, parabéns por ter seu blog e articular aqui suas impressões e opiniões. Elas são suas, e o canal é seu. Concordar ou não contigo, é uma questão de gosto e ponto de vista, até porque, mesmo após ler algo que não expressa minha opinião, resolvi escrever, não só p/ “falar mal”, mas é uma forma de ser lembrado (um professor nunca esquece o nome de um aluno bagunceiro, mas dos razos…). Mas aposto que vc, como um bom blogueiro entendeu.
Abraço, e vamos aproveitar a nossa democracia internetiana.
Sem problemas, Kleber.
Qualquer feedback que quiser dar estou à disposição.
Abs!
veja a analise desse site, ele sim passa uma imagem correta do filme http://cronologiadoacaso.com.br/2016/05/23/entendendo-o-filme-a-bruxa-por-entre-o-satanismo-ignorancia-e-desprendimento/
Muito boa a análise, assisti o filme hoje é minha opinião é bem parecida com a sua!! Ótimo trabalho, parabéns.
Péssima análise, pretensiosa e sem visão.
Também não concordo com a análise… Talvez por ser superficial em relação ao foco do filme, ao que tentaram transmitir e está nas entrelinhas e nos pequenos detalhes de cada ação… O medo é encontrado/causado pelo mal que, naturalmente, pode significar diferentes coisas para as pessoas, e no filme está sendo retratado através das diversas formas de opressão que são impostas sobre Thomasin (que representa a mulher sendo abusada e silenciada ao longo da história, fisicamente e psicologicamente).
Olá Maria Fernanda!
Então, concordo plenamente com o que tu disse, inclusive considero essa a parte boa e o diferencial desse filme. Infelizmente, não me aprofundei nos detalhes pra evitar spoilers, mas em essência é o que tu falou mesmo. O que quebra as pernas do filme pra mim é que o roteiro; a história, no geral, não vinga. Minúcias, detalhes e sutilezas são importantes sempre, mas não salvam um filme que sofre de um enredo mal estruturado. Pra mim isso é importante justamente porque ele influencia diretamente na maneira como as entrelinhas são usadas.
Obrigado pelo comentário,
Abs!
Eitaa…Internet…rsrsrs. Vendo aqui sua opinião geral do filme e alguns comentários fora de tudo ( e sim construtivo a certo ponto ), precisamos analisar que: o ponto forte do filme, não é o ato em si de provocar medo e dúvida no expectador e sim atrapalhar psicologicamente sua forma de agir. Coisa que ele já vêm fazendo aqui…rsrs. Filmes como The Witch não são os primeiros desse gênero e longe de serem os último. Recomendo vocês a assistirem INCUBUS 1966 ( vera dá onde nasce a perturbadora forma de Black Phillip ), HAXAN a feitiçaria através dos tempos de 1922, tratando a forma de bruxaria como a Maria fernanda falou e ANTICHRIST 2009 de Lars von Trier sobre o isolamento perpetuo causado pela narrativa do filme, ocasionando o conflito e quebra de religiosidade entre as pessoas, no caso a família aqui como querer dá ordem ao Caos. E também não fugindo disso o perturbador BORGMAN de 2013 levando o terror duma forma psicológica e não material. Vera da onde Robert Eggers bebeu dá fonte ou dessas fontes. Longe de ser ruim e longe de ser o melhor filme de Terror desse gênero.
Eu amei o filme. O mal está presente durante todo o filme, destruindo a confiança e o amor na família, mostrando que todo o fervor religioso não foi suficiente para manter todos unidos.
O fato da personagem ser silenciada e sofrer opressões durante todo o filme, para no final seguir o mal até a floresta e finalmente se sentir ” feliz ” foi um final muito impactante.
Entre a opressão religiosa e a ” liberdade ” que o mal a lhe ofereceu, ela escolheu fazer o pacto e viver na floresta.
Gostei muito. Muito diferente e foge do comum que vemos anualmente titulados como terror.
O filme tinha todos os elementos pra dá certo. Foi premiado, alcançando até um sugestivo status de cult. O filme não é terror, desemboca num suspense, retrata dilemas religiosos, mas tem um final que deixa um vácuo. Fora que reproduz o cansativo esteréotipo da bruxa má que comi criancinhas. O diretor se apropriou de relatos e documentos antigos que abordavam à figura da bruxa, mas esses mesmos textos não passavam da pespectiva de religiosos. O filme tem boa fotografia, figurino, trilha sonora, bons atores. Até um roteiro interessante, mas não surpreendeu.
Caio tudo bom? É a primeira vez que entro aqui no teu blog e gostaria de deixar a minha opinião. Nós seres humanos somos passíveis de críticas construtivas e destrutivas todos os dias. Lendo algumas opiniões das pessoas aqui penso assim, quando vou assistir à algum filme, série, peça de teatro, estou preocupado com a trama e o desenrolar da estória, não ficar investigando a fundo todo o pano moral, religioso, etc. Não significa que o fato do filme ter sido ganhador de um prêmio seja isento de questionamentos e críticas. Me admira o fato de pessoas questionarem suas análises, por mais democráticos que dizem serem, a verdade é que se trata de uma análise subjetiva e não coletiva, se eu gostar de algo pode ser que vc não goste e vice versa. Com relação ao filme em questão, achei também o final sem sentido e algumas partes do filme chegou a dar sono sinceramente. Talvez nossa sociedade ainda não seja póstuma e esteja mais acostumada a trivialidade, mas essa é apenas a minha opinião, e respeito a de todos. Parabéns pelo blog!
Olá Marcelo!
Falou bem. Em nenhum momento o site procura representar outras pessoas ou dizer que está análise é a verdade absoluta. Claro que é bacana quando as opiniões batem, mas não tem problema algum discordar do que eu disse. O papo até fica interessante quando rola uma polêmica. rs
Obrigado pelo comentário, abs!
Obrigado por ser sensato em dizer que não é nenhuma maravilha. Sou fã de terror desde bem novinho, via escondido e tudo. Muita gente se doendo por um filme apenas “bom”. Querem pagar de conhecedores. Eu rio é disso tudo.
Quanto ao filme, é bom, muito bem feito, e muito bem escrito. Ponto final.
Pois é, Leon! Não falei em nenhum momento que o filme é um lixo ou ruim, só disse que não é tudo isso. Acho que as pessoas devem ter gostado de verdade para se manifestar assim. hehe
Abs!
“Os eventos demoram para acontecer”, “O filme demora para engrenar”… Nossa, meu filho, vc só deve ver curta metragens então pq LOGO no começo do filme já acontece o primeiro ato desencadeante, o que, para mim, já super levantou a trama e me deixou presa ao filme.
Olá Caio, tudo bom?
Me identifiquei muito com a sua opinião sobre o filme. Um filme que foge dos clichês e que tenta apresentar o terror de uma forma que não estamos habituados, é sempre válido. Ótima fotografia, ambientação, atuação, etc. Mas acho que a história tinha um potencial enorme e poderia ter sido trabalhada muito melhor. Perto da data do seu lançamento, teve um hype enorme com relação ao filme, então fui ao cinema e saí decepcionado de certa forma por ter assistido a um filme apenas bom. Acho que o filme não merece toda essa “adoração” como se fosse um deus do terror. É um filme bom, e apenas isso. Uma pena, pois tinha potencial para se tornar uma lenda do gênero. Lembrando aos fãs do filme, os quais estão criticando a sua opinião com “sangue no zóio” rsrs, que esta é a minha opinião, não sou obrigado a ter a mesma que vocês até pq gosto é uma questão muito particular.
Abraço!
E aí Henrique!
Resumiu bem o que eu falei no texto. Não é um filme ruim, tecnicamente é excelente, tem várias idéias boas e é só isso mesmo. Faltou uma história para usar bem tantos pontos positivos.
Abs!
Olá Caio ! Primeiramente parabéns pelo blog. Acabei de ver o filme e compartilho das suas opniões. O filme me parece único na forma como expõe o tema e gostei muito da fotografia e das atuações mas também acho que faltou um desfecho a altura do restante do filme; apesar de entender todo o psicológico envolvido pelo choque entre a religião e o inexplicável. Abraço !
Concordo com praticamente toda a análise. Não entendi também o clamor em torno do filme como se fosse uma das maiores genialidades da história do cinema. É um bom filme, uma fotografia maravilhosa, uma atmosfera perfeita, os diálogos são maravilhosos e as atuações não deixam a desejar. Ganha muitos pontos por não apelar aos sustos típicos de filmes de terror. Mas, apesar de tantos pontos positivos, o filme peca em algumas coisas. Muitas pontas soltas, coisas sem explicação.
Eu gostei do filme, não acho que tenha perdido meu tempo assistindo, muito pelo contrário.
Só um parêntese em relação ao primeiro comentário: que babaquice, hein? Quer dizer que por ser uma obra premiada o filme não merece críticas, não tem defeitos? Quer dizer que quem critica um filme premiado não entende nada de cinema? Que raciocínio mais estapafúrdio, pra ser educado…
Parabéns ao dono do blog pelas análises.
gente fico impressionado como pode ter pessoas que preferem criticar pra ofender ou menosprezar ,sem nem ao menos respeitar a opinião do outro ou tentar refletir sobre. Enfim, gostaria apenas de colaborar, haja visto, que teve gente dizendo nao ter entendido o final ou achado-o sem sentido. A menina optou pelo que ela nunca tinha tido na vida: prazer e sobreviver. simples assim. O que mais ela poderia escolher diante daquele contexto? Morrer de fome? Ser morta, após acusada pela sociedade de bruxaria, queimada viva, depois de voltar à cidade e relatar os fatos? Acho que qualquer um de nós escolheria o mesmo, se pensarmos nisso. abr
Hhahaaha… As pessoas só falam que meu comentário foi ofensivo, mas não perceberam que, graças a ele, mais de 10 pessoas se prestaram a comentar em minha resposta.
Fico feliz de todos terem me lido, e consequentemente, acessado a página da pessoa a quem critiquei.
Enfim, já é assunto passado p/ continuar dando tanto ibope.
Abs a todos.
Eu simplesmente amei o filme. Acho que todas as pontas soltas são propositais para atiçar a imaginação do telespectador. Sensacional! Há muito tempo não se fazia um filme de terror tão bom.
Comentário só com 2 anos de atraso. Primeiramente, digdim.
Segundamente: Concordo em partes com a análise, principalmente no que diz respeito a ambientação e construção da história. Concordo que a estrutura do roteiro é estranha aos olhos, mas, me parece ser proposital, justamente para causar estranheza e desconforto a quem assiste. Porém não vejo como um filme cheio de pontas soltas, nem mesmo como algo com final vago. Se feita uma análise simplista, em primeiro plano podemos concluir que o objetivo do ‘inimigo’ sempre foi o aliciamento da menina e para isso era necessária a quebra da sua crença. Quebrar uma crença enraizada em alguém desde o nascimento não deve ser uma tarefa fácil, por isso toda a desconstrução ao redor da menina. Vimos desde o início do filme que o bastião da fé da família é o pai, com o que podemos chamar de “fé mais forte”, e por isso é o último a te-la quebrado. O menino mais velho, tem a sua fé mas é um adolescente, e bem, digamos que um par de peitos nessa idade e nesses hormônios é suficiente para desvirtuar um menino. Os gêmeos ainda são crianças e pode-se interpretar que nem sabiam verdadeiramente o que estavam fazendo e por isso foram os primeiros a serem desvirtuados. O bebê é um bebê, só foi, mas serviu também para o início da quebra da fé da mãe. Por fim, depois de toda essa volta, chegamos aos finalmentes, para todos essa desconstrução de fé é que os joguetes psicológicos foram usados e é por esses pontos que acompanhamos a trama que culmina na quebra da fé da menina através também de um ato pecaminoso (o maior de todos) cometido por ela. A partir daí é só ladeira abaixo, luxúria e libertinagem com o capeta. O inimigo conquistou 24 territórios a escolha, incluindo a Oceania, game over, capeta venceu. Pra mim, mais finalizado que esse final (não a forma da quebra da fé, apenas o ‘plano’ e desfecho) só se tivesse uma narração em off “e então o capeta apareceu, fez um pacto com ela, que adentrou na floresta e foi possuída”. Analisando os demais planos ainda temos o que foi citado nos outros comentários, como opressão de gênero, etc.
Sim, concordo com essa idéia de progressão e acho que é essa mesma a intenção do autor. No entanto, acho que tem uma questão-chave a respeito da fé que deixa o final quebrado pra mim. Tudo bem, as pessoas foram caindo uma a uma e de uma forma chocante e bem representada, diga-se de passagem, mas a tal fé que é quebrada não é fé coisa alguma. Seria algo como uma fé teórica, uma mentira em que eles acreditam, um véu que eles colocam sobre os próprios olhos para que não enxerguem a verdade suja por trás de seus atos. A protagonista, por outro lado, é a que menos segue os passos da família e é oprimida por eles, atacada por não ser como eles, os falsos-crentes. Como espectador, é possível ver que ela, sim, é uma pessoa cujos atos denotam sua pureza moral. Ela aje, mas não prega; ao invés dos outros que pregam e não agem. Por isso o final foi fraco pra mim.
Parei de ler em “Não, “The Witch” não é tudo isso.” …
Brincadeiras a parte, eu discordo em boa parte da análise, pois o terror (pra mim, pelo menos) se passa em como os acontecimentos se correlacionam (essa palavra está certa?) com acontecimentos bíblicos, por exemplo, observe a imagem do pai e a forma como ele morre, não te lembra alguém e como esse alguém foi morto? Eu assisti faz muito tempo, vou rever de novo e prestar atenção nas outras com referências como essa também.
No mais, achei boa a análise… Porém nego…