Ver “Moon” pela primeira vez em pleno 2015 foi uma experiência curiosa. Há alguns meses foi lançado “The Martian“, outro filme sobre um astronauta que enfrenta a solidão no espaço sideral, e é simplesmente muito difícil não comparar os dois. Sem ter lido o livro que inspirou o filme de Ridley Scott, fui ao cinema esperando ver um “Moon”, apenas para ser surpreendido com um humor muito bem dosado. Mesmo que as duas premissas sejam muito parecidas, é interessante ver como eles ficam tão diferentes no desenrolar da trama. Pois não é apenas o lugar que muda, é uma interpretação nova do que significa estar sozinho em um planeta ou em uma lua, como acontece aqui.
A história se passa em um futuro não muito bem definido, numa época em que os combustíveis fósseis deram lugar a uma energia limpa, a Helium-3. Na Lua, uma complexa instalação produz tal substância, que sustenta 70% das necessidades de energia da terra e é coletada do solo lunar. Em sua grande parte, o lugar funciona sozinho; quatro máquinas coletam a matéria-prima e uma inteligência artificial (Kevin Spacey, dublando a IA) cuida de detalhes menores. Sobra tão pouco trabalho que Sam Bell (Sam Rockwell) dá conta do resto das tarefas sozinho, a maioria limitada a manutenção e monitoramento dos processos da base. Faltam poucos dias para o contrato de Sam expirar, o que tornará possível o retorno para sua família na Terra, mas um acidente de trabalho e um encontro inesperado tornam a situação um tanto mais complicada.
Quando mencionei as diferenças entre este longa e “The Martian” não quis, de forma alguma, dizer que a abordagem de um é melhor que a de outro. Para mim, quando se fala em solidão, a primeira coisa que vem na cabeça é um drama psicológico, uma exploração das coisas que passam na cabeça de uma pessoa deslocada de seu meio. É mais para este lado que “Moon” puxa, ainda que não seja totalmente focado no aspecto psicológico. Para que a surpresa não seja estragada, evitarei dar mais detalhes sobre o núcleo central do enredo, mas digo que ele usa um elemento clássico da ficção científica para se desevolver. Quem conhecer o trabalho de Stanley Kubrick notará que há mais de “2001: A Space Odyssey” que uma simples referência, muito do design de produção é emprestado das idéias que Kubrick lançou em 1968 — visto em coisas pequenas, como a tomada do astronauta se exercitando, ou em maiores, como o design dos interiores. Cenas psicodélicas com mais de 9 minutos, felizmente, não estão presentes, enquanto a presença do contato entre homem e máquina resgata o tema que tornou HAL-9000 um ícone da cultura pop. Uma dose perfeita de inspiração, sem ser sutil demais, nem uma cópia descarada.
No fundo, a história é um misto de conceitos tradicionais do gênero com inspiração em outros filmes, tudo condensados em um roteiro simples e eficiente. Algumas vezes até simples demais. A história é concisa e focada, nenhum trecho fica de sobra ou parece menos importante que qualquer outro. Entretanto, este não é um caso de enredo embrulhado em começo, meio e fim; toda a experiência flui como se fosse um grande desenvolvimento, como se os acontecimento do filme estivessem entre coisas maiores. A importância do que veio antes da história e o final semi-aberto — que conclui a história, mas desencadeia outros eventos — reforçam esta sensação, tornando claustrofobia e isolamento em uma história agradável.
Parece um mar de rosas e até poderia ser. Isto é, se a trama não fosse modesta demais para seu próprio bem. É bacana que um assunto como colonização espacial seja tratado sem alarde exagerado, como se fosse um álbum dos Beatles perdido. Sam faz seu trabalho com a maior tranquilidade de todas, da mesma forma descompromissada que o filme trata sua história e assim tornando a experiência leve de se absorver. No entanto, isso é interessante só até certo ponto, pois há momentos em que o lado ruim desta escolha ofusca a parte boa — quando uma escolha simples de roteiro o torna raso, em vez de pontual e direto. Em certo momento, por exemplo, pode-se ver que o comportamento da inteligência artificial da base mostra-se estranho; ele cumpre sua função de levar a história para frente, mas não há um real motivo para ela ter feito aquilo naquele momento e nunca antes. São várias minúcias deste tipo que, somadas, fazem com que o espectador enxergue a história toda com outros olhos. Se a intenção era desviar a atenção destes detalhes, poderiam ter moldado a história de forma que eles passassem batidos. Ou então a solução óbvia, escrever um novo roteiro sem estes probleminhas.
Ainda que vários detalhes de roteiro tornem a experiência um pouco simples demais, a abordagem leve em cima do material naturalmente fantástico faz com que não exista tédio durante este filme. É como o trabalho de Sam Bell, uma rotina sem variação nenhuma, até que algo acontece e torna aquele cotidiano um pouco mais interessante.