Esta obra de George Stevens foi último trabalho de James Dean em sua breve, porém bem sucedida, carreira em Hollywood. Além de ser o mais longo de seus três filmes, com 201 minutos, é também o melhor dos três. Dos filmes do ator, o único que ele teve a chance de acompanhar a recepção do público foi “East of Eden“; Dean morreu cerca de um mês antes do lançamento de “Rebel Without a Cause” e três dias depois do fim das gravações de “Giant”.
Essencialmente, este é um Épico brando; uma grande história sobre elementos pequenos, que passam despercebidos no cotidiano. Pode não parecer grande coisa, mas se tratando de uma obra de época é interessante enxergar as várias divergências entre o que era normal naquele tempo e hoje. Racismo, conservadorismo, machismo e injustiça são alguns dos temas trabalhados nos longos anos mostrados nas igualmente longas horas de filme. Evolução já foi apresentada diversas vezes em filmes muito mais curtos, mas a ambição de George Stevens mostra presença quando ele desenvolve estes temas ao longo de três gerações da família dos protagonistas. Indo além de mostrar como o racismo, por exemplo, permanece enraizado na população com o passar dos anos, o diretor consegue integrar o desenvolvimento de seus personagens com a cultura da sociedade da época. O processo é longo, a obra extensa, o conflito constante e o resultado é mais que satisfatório.
Os Benedict são uma das mais tradicionais famílias do Texas, pioneira na expansão territorial e dona de um dos terrenos mais extensos do estado. Em uma viagem ao estado de Maryland para comprar um cavalo, Bick Benedict (Rock Hudson) acaba levando de volta para casa algo que não estava nos planos: a jovem Leslie (Elizabeth Taylor) como sua esposa. Mudando de estado para morar com o marido, Leslie tem uma série de estranhamentos em relação ao estilo de vida texano. Além das mudanças que vêm com o novo estado civil, a moça tem de se acostumar a uma cultura de preconceito, dias quentes e uma série de costumes que ela não está tão feliz em aceitar. Para complicar a situação, Jett Rink (James Dean), um cowboy turbulento, mostra atração pela garota e faz o que pode para alimentar sua rivalidade com Bick.
James Dean, por incrível que pareça, não está em seu característico papel de adolescente revoltado neste longa-metragem. O mais próximo que ele chega disso é possuir uma postura dissidente e até petulante, nada que se assemelhe ao seu trabalho prévio. Seu papel não é de protagonista aqui, mas isso não impede que ele tenha um foco especial; não apenas em termos de relevância de seu personagem mas também por sua interpretação ter a qualidade de seus outros filmes. Mas se por um lado Dean ficou mais fora dos holofotes, por outro Elizabeth Taylor e Rock Hudson ganharam o foco por serem os protagonistas desta obra. A interpretação de ambos é soberba, conseguindo inclusive atingir nível de profundidade maior por conta da passagem do tempo. De casal jovem a velho casal, os atores evoluem junto com seus personagens, alterando suas interpretações conforme filhos nascem, crenças se instalam e o mundo se moderniza. É justamente com essa mecânica de transformação que o diretor trabalha tão bem seus temas. Os carros dão lugar aos aviões e os bois ao petróleo, mas algumas coisas param no tempo apesar do passar das décadas e do embranquecer dos cabelos.
Não é um estudo de personagem que temos aqui, mas sim o estudo de uma cultura. A sociedade texana é apresentada através dos olhos de uma família tradicional e conservadora. Longe da população, a família conservou seus costumes da mesma forma como eles foram concebidos por seus antepassados. Imigrantes são apenas mão de obra e não devem ser motivo de preocupação, mulheres devem saber seu lugar e não se meter nos assuntos dos homens. A quebra desses valores com a chegada de Leslie é quase que uma premonição considerando o que ocorreria anos mais tarde no mundo, mas o tempo parece não passar da mesma forma no Texas. Leslie é a mulher petulante e enxerida que conquista o coração de Bick, mas que não se mostra exatamente de acordo com as regras de seu novo lar. Por que não há lugar para mulher na política? Por que trabalhar é apenas coisa para os homens? O questionamento da moça por vezes não é o bastante, mas não deixa de criar uma série de momentos brilhantes entre ela e seu marido.
No geral, a condução da trama e do ritmo é sólida, sendo constante a ponto de não mostrar variações muito explícitas e que desbalanceiem a qualidade até então mantida. No terceiro ato, entretanto, as coisas desviam-se um pouco de seu bom curso e os temas acabam perdendo um pouco de sua força com a introdução de novos personagens. Tão logo que estes novos rostos tornam-se conhecidos, a situação melhora novamente e a obra segue firme até uma conclusão satisfatória. A única falha que realmente não merece perdão é o descuido com a maquiagem do elenco. Os anos passam, mas a velhice chega apenas para Dean; Hudson e Taylor permanecem como velhos de cabelos brancos e rostos tão jovens quanto em sua juventude. Avaliando no contexto geral deste excelente filme isto é apenas um detalhe. Altamente perceptível, mas ainda uma minúcia perante os vários acertos apresentados.
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Se verificarmos a vida hoje como ela é, veremos que nada mudou em relação ao preconceito, ao racismo, ao Rico e o pobre que ficou rico, mas não consegue fugir de sua origem, não consegue o amor da garota mais bonita e mais rica da sua juventude quando era um simples empregado e depois um rico magnata do petróleo, mas que continua irracional e pobre. Continua na mesma que o emigrante não e nada mais que uma mão de obra barata, e que o racismo não e só uma questão de brancos e negros, e muita mais do isso, Enfim e a vida, e vida que segue. Nota 10 para esse filme.