Em meados dos Anos 60 houve um movimento musical chamado “Invasão Britânica”, através do qual diversas bandas do Reino Unido tornaram-se populares nas Américas. Com essa onda vieram “The Beatles”, “Led Zeppelin”, “The Rolling Stones” e “The Jimi Hendrix Experience” como alguns dos grandes porta-vozes. Além de tais bandas ganharem fama e darem shows ao vivo na América, seus estilos musicais influenciaram muito o caráter da musica americana. No meio desta bagunça, um grupo menos popular acabou ganhando a atenção da nação por alguns anos: o “The Turtles”.
Ao contrário dos “The Beach Boys”, que possuem pelo menos 50 anos de atividade e uma história gigantesca, os “The Turtles” tiveram uma carreira de cerca de 5 anos, com poucos trabalhos lançados e ainda menos histórias para contar. Escrito por Howard Kaylan, o vocalista, este longa-metragem conta a trajetória do grupo ao longo de 1966 e 1967, os anos mais movimentados da banda. Nesta época, os lançamentos atingiram posições altas nas paradas musicais, culminando no ápice de popularidade com “Happy Together”, de longe a canção mais conhecida dos “The Turtles”. O filme começa mostrando o cotidiano do grupo até a chegada de um tour pela Inglaterra. Assustados pela perspectiva de se apresentarem na terra de gigantes musicais, Howard Kaylan e o grupo acabam embarcando em uma viagem na qual nomes famosos não faltam.
Após um lançamento extremamente limitado, não foi surpresa que este longa nunca chegou a cair no esquecimento, pois ele nunca chegou a ser popular em momento algum. Mesmo assim, um professor que me deu aulas de inglês anos atrás teve a chance de conferir a obra e me recomendá-la em uma conversa sobre John Lennon. O grande evento deste longa-metragem se resume à visita da banda à Inglaterra, onde encontram os quatro Beatles e o próprio Jimi Hendrix. Conduzida com uma entonação leve e puxada para a comédia, a obra não falha em contar essencialmente os fatos que importam, fato refletido especialmente nos mencionados encontros. Por outro lado, o resto da obra vacila entre uma exibição gratuita de algumas canções e dias banais da vida da banda. Alguns são essencialmente enchimentos para elaborar um pouco na personalidade dos personagens envolvidos, como quando Kaylan e Volman passam pelo alistamento militar; enquanto outros são naturalmente mais interessantes, em grande parte por figuras como Frank Zappa e Jim Morrison serem parte deles.
Quando chega, finalmente, o evento que dá nome para o filme, as coisas melhoram consideravelmente. Ainda que seja de natureza extremamente casual, o encontro entre Jimi Hendrix e Kaylan é realmente algo para justificar uma produção cinematográfica. Efetivamente, não há nada de extraordinário no encontro, com exceção da conclusão especial, apenas dois grandes nomes da música da época bebendo e conversando sobre suas vidas. Ambos os envolvidos serem celebridades é apenas a cereja do bolo pela facilidade de se colocar no lugar de Kaylan, ele está tão perplexo com o encontro quanto o espectador estaria se estivesse falando com Jimi Hendrix. A posição de mito do rock and roll de Hendrix ainda dá um tom de fantasia à todo o evento. Não só estamos vendo uma figura falecida há décadas como também temos um encontro íntimo com sua pessoa, sabendo de segredos e intimidades possivelmente nunca reveladas antes.
O grande problema é que todos estes acontecimentos, épicos ou comuns, estão impregnados por uma atmosfera extremamente barata. As atuações, em sua grande parte, são razoáveis e moderadas o bastante para não incomodarem. Do elenco todo, quem realmente se destaca é Royale Watkins como Jimi Hendrix e Justin Henry como Howard Kaylan; outro aspecto muito positivo que cooperou com a boa execução do lendário encontro. Em jogo está também a mediocridade de Bill Fishman como diretor, que nada faz para evitar que o sentimento de filme barato seja de alguma forma mascarado. A direção, que seria mais apropriada a um videoclipe ruim, é ineficiente e frequentemente faz exatamente o contrário do que deve ser feito: atrapalha uma visualização clara dos eventos apresentados. O que a deixa mais passável é a narração do protagonista, escrita pelo próprio Kaylan e que dá um tom de pessoalidade à história.
Ainda que uma experiência interessante, com direito a encontros com Jimi Hendrix e Frank Zappa, esta obra peca por não apresentar um cuidado com seu respeitável conteúdo. Provavelmente por conta de limitações de orçamento, essa impressão acaba sendo vista em diversos aspectos: seja na direção medíocre, nas perucas de segunda mão ou nas risíveis costeletas falsas de Justin Henry.