Desde a segunda entrada da franquia de George A. Romero, as críticas foram ficando progressivamente negativas, apesar de eu preferir “Day of the Dead” ao segundo. “Land of the Dead” foi uma surpresa agradável após tantos anos sem lançamentos, um formidável filme de zumbi vindo da mesma figura que popularizou tal criatura no cinema. Os comentários sobre “Diary of the Dead”, por outro lado, não foram tão agradáveis assim, agregando uma recepção mais negativa que qualquer outro da franquia até então. Para minha surpresa, este longa acabou sendo de fato tão ruim, se não pior, quanto diziam, ao contrário da minha crença prévia de que estavam avaliando mal a obra por conta de este ser outro alvo das aleatórias crises de ódio dos fãs de terror.
Logo quando as primeiras mortes começam a anunciar o começo do fim da sociedade moderna, um grupo de amigos se vê gravando um filme de terror para a faculdade. Um a um os jovens tentam contatar suas famílias, sem sucesso, para averiguar o que está acontecendo com o mundo. Deixados à mercê da ansiedade de não saber o que se passa com seus entes queridos, o grupo decide abandonar a universidade para encontrar suas famílias em casa; mas as coisas mostram-se um pouco mais graves que antecipado, forçando todos a se juntarem para sobreviver ao caos que se alastrou.
Tratado como o “Cloverfield” de zumbis, este longa segue o modelo estabelecido por filmes de filmagem encontrada, aqueles em que uma gravação amadora é simulada. O modo como esta história se posiciona na linha do tempo da franquia é no mínimo bizarro, este filme supostamente se passa ao mesmo tempo que o apocalipse zumbi estoura no mundo inteiro. Pelo começo de todo o caos ter sido apresentado no primeiro filme da franquia, que se passa em meados da década de 60, é estranho ver como tudo neste filme é tão tecnológico e ainda assim acontecer no mesmo período. O choque não é como ver “Prometheus” depois de “Alien”, onde tudo é futurista e criativamente maleável, neste caso usa-se internet e celulares com câmera em uma época onde a televisão mal era popular no mundo.
Seguindo ainda este linha de inconsistências, esta obra mal se preocupa em manter alguns preceitos icônicos, pelos quais as obras de Romero marcaram tanto. Por exemplo, no “Dawn of the Dead” de 2004 os zumbis corriam, o que pode ser considerado como liberdade criativa do remake, e nele a corrida ao menos estava presente o tempo todo, sem exceção. Aqui a regra se mantém por quase o tempo todo, sendo quebrada da pior maneira possível: por um simples desleixo do roteiro. Quando é conveniente, os zumbis simplesmente se movem mais rápido, talvez porque pensar em uma cena que se aplique aos preceitos antigos estava fora de questão. Em geral, a impressão que se tem é que este formato de gravação amadora é mais uma desculpa para Romero entregar um roteiro preguiçoso, do que um formato diferente de apresentar sua idéia clássica.
Por exemplo, ao cortar sem preocupações entre ambientes completamente diferentes, e presumidamente distantes, cabe ao espectador interpretar que no meio do caminho problemas relacionados a comida, munição e ao próprio trajeto são lidados com o maior sucesso que poderia ser esperado. Sobrevivência sempre foi um assunto importante em obras de zumbi, enquanto o que se vê aqui são jovens que viajam pelo país sem encontrar muitos problemas no caminho, cuidam dos eventuais problemas com uma pistola de munição infinita, mantêm roupas limpas e ainda assim morrem de maneiras completamente não condizentes com as afirmações anteriores. As regras são quebradas ainda mais quando a ação manipula regras básicas estabelecidas pelo próprio Romero, anteriormente ou até mesmo no contexto isolado desta obra. Gritos em uma casa vazia e um alarme de segurança tocando em certo momento não chamam a atenção das criaturas, enquanto mais tarde um zumbi deixa de perseguir sua vítima porque um personagem simplesmente fala com ele. Isso sem considerar a ação ruim por si, que não apresenta nem ao menos um trato visual em sua ruindade. Nenhuma surpresa até aqui, uma vez que Tom Savini, o mestre dos efeitos violentos, acabou substituído por uma computação gráfica barata e claramente falsa.
A cereja no bolo é interpretada por um elenco de personagens desinteressantes na companhia de uma série de diálogos explicativos, que se esforçam vergonhosamente para clarificar uma história cheia de cenas rasas e um terror baseado em jump scares. O comentário social, que já era relativamente sutil em outras entradas, aqui mostra-se inexistente. Em seu lugar está uma mensagem de caráter racial tão mal exposta, que prefiro acreditar que o comentário de verdade é como a vida é irônica a ponto de entregar uma continuação tão inferior em relação aos predecessores.