Conhecido por muitos pelas inúmeras vezes que esteve na televisão, “Braveheart” não se tornou tão popular apenas por sua recorrência nas tardes da programação, mas também por sua competência em ser um bom filme. O interessante é que, independente do espectador gostar ou não da obra, é inquestionável dizer que ela é marcante por si, seja pela icônica pintura facial azul e branca, pelas cenas de batalha perfeitamente montadas ou pelos diversos gritos de liberdade. Servindo como uma das influência por trás de grandes obras de Fantasia, como a trilogia “O Senhor dos Anéis”e em especial pelas cenas de batalha, esta obra de Mel Gibson ostenta uma qualidade admirável com punho de aço e um espírito de liberdade.
Na Escócia do Século XIII, o jovem William Wallace acaba presenciando alguns eventos perturbadores, todos cometidos por agentes do opressor governo do Rei da Inglaterra, Edward I (Patrick McGoohan). Após passar muitos anos morando com seu tio, Willam Wallace (Mel Gibson) volta para sua aldeia natal com planos de sossegar e constituir família. Seguindo seus planos, William passa a se relacionar com uma garota de sua infância, chegando a se casar com ela secretamente. Entretanto, quando soldados ingleses tomam algumas liberdades com a moça recém-casada, William lidera uma rebelião contra o governo e sua opressão contra o povo escocês.
Aclamado em seu lançamento e chegando a incitar um movimento nacionalista na Escócia, este filme acabou sofrendo diversas críticas nos anos posteriores por diversos motivos, indo de imprecisão histórica até homofobia. No que se refere à maneira como o longa captura os fatos daquele tempo, talvez as críticas sejam de fato aplicáveis, mas isso não impede que a história contada seja de alguma forma pior. Com um roteiro competente por conseguir criar um arco de história bem fechado, indo desde os primórdios da vida do protagonista até seu tempo como líder revolucionário, é quase injusto criticar esta obra por suas manipulações de fatos históricos. Se de alguma forma a intenção fosse retratar os fatos exatamente de acordo como registrado em documentos históricos, afetando um possível caráter informativo do longa, aí sim apedrejar as imprecisões seria justificável. Mas este não é o caso, pois até onde importa de verdade, o que o enredo proporciona é uma boa história, que sob a direção de Mel Gibson tem seus melhores frutos colhidos.
Isto não significa que esta obra esteja livre de defeitos, entretanto, pois espalhados ao longo de uma boa trama estão uma série de clichês dramáticos. Seu caráter completamente é no mínimo inapropriado, não só por sua qualidade risível frente a um roteiro que desenvolve bem suas ramificações, mas também por sua mecânica resultar em um tom que não parece pertencer a este longa-metragem. Enquanto em mais de uma ocasião o filme retrata guerreiros que literalmente se esmurram como símbolo de afeto, em contraposição se tem o protagonista demonstrando seu amor à sua amada ao dizer que não pensou em outra coisa que não ela nos seus anos de ausência. Por mais que sejam dois tipos diferentes de relacionamento, é fácil dizer qual deles é o predominante e qual é o anti-climático da história.
Em vez dos dois lados lutarem entre si para ver qual mantém hegemonia na entonação geral do longa, não demora para ver qual é o melhor e que se mantém por mais tempo na tela. Apesar da grande motivação do protagonista estar sustentada no amor, a maneira como os ideais do protagonista se concretizam é bem diferente; pois afinal de contas a Escócia foi conquistada com aço e sangue, e não com o poder do amor. Nesse quesito qualquer reclamação deve ser extremamente bem fundamentada, pois colocar defeito nas cenas de batalhas vistas aqui é um desafio talvez tão grande quanto o do próprio protagonista. Capturar de maneira clara centenas de pessoas movimentando-se ao mesmo tempo não é lá uma tarefa muito simples, tanto que um crime muito comum hoje em dia é exibir cenas de ação tão poluídas que nada se extrai de tudo aquilo. Como dito anteriormente, é clara a influência de “Braveheart” em filmes com grandes sequências de batalha, pois sua execução se dá tão solidamente que se tem uma boa noção dos elementos de um conflito. Ao contrário de uma abordagem simplista, que seria apenas mostrar um lado matando mais que seu inimigo para demonstrar vitória, pode-se notar como a estratégia é aplicada no contexto do embate, como em uma diferenciação básica de uma cavalaria e uma infantaria; além dos óbvios sucessos individuais, representados pela vitória de um indivíduo sobre o outro, frequentemente em uma cena sangrenta e bem detalhada.
O que acaba separando esta obra de ser uma possível obra-prima, no entanto, é sua incapacidade de lidar igualmente bem com alguns elementos que esta obra se arrisca a abordar. Dentre estes as já mencionadas sequências de romance e um desenvolvimento de seus personagens, que têm suas motivações claras, mas não parecem ser muito mais que suas personas revolucionárias. No geral os sucessos de “Braveheart” superam de longe quaisquer erros cometidos inicialmente, pois qualquer abundância de membros decepados é mais que o bastante para compensar qualquer diálogo clichê presente aqui.