Outra obra exibida no Festival de Cinema de Curitiba, esta é a primeira Animação do tão falado Estúdio Ghibli a que assisto, e devo dizer que a fama é de fato justificada. Embora a qualidade do som tenha deixado a desejar um pouco, talvez por conta da dublagem em português não ter sido remasterizada, a experiência foi mais que proveitosa. Um conto infantil apropriado para todas as idades, esta animação proporciona uma satisfação singular por usar artifícios tão ingênuos de forma tão eficiente. Indo de monstros a momentos de maturidade, a história contada aqui pode até parecer bobinha, mas por trás da feição jovial está um competente filme.
Quando a mãe de Setsuki (Chika Sakamoto) e Mei (Noriko Hidaka) fica doente, a família se muda para uma nova casa mais perto do hospital onde ela está internada. Acostumando-se aos poucos à nova casa, a família enfrenta novos desafios todos os dias até as coisas se ajeitarem. Mas em um dia aparentemente como qualquer outro, Mei acaba se metendo na floresta ao lado de sua casa. Lá ela encontra uma ser diferente de qualquer outra já vista, um tipo de urso meio gordo e de feição engraçada chamado Totoro. Com Totoro e outras criaturas, as crianças passam a ter diversas aventuras mágicas.
Este é definitivamente um filme infantil, e isso não quer dizer que animações são coisa de criança, mas esta obra não tenta esconder isso. Com infantil também não digo que é um filme burro ou simplificado demais, mas sim que suas temáticas e personagens são todas centradas em crianças e suas atividades. Brincadeiras juvenis estão aqui em abundância, e com elas toda a atmosfera leve e característica dessa fase da vida. Podem até querer comparar este longa-metragem a um desenho animado de sábado de manhã, e isso até é compreensível, mas o que não vem junto com a sinopse é que esta é uma ótima abordagem de temas frequentemente ignorados pelos temas em questão. Entretanto, aproveitar a ingenuidade apresentada aqui está longe de ser acompanhada de algum tipo de esforço dos mais velhos, pois acredito que ao menos uma vez na vida qualquer pessoa experienciou a magia da infância e tudo que vem no pacote.
Com isso, uma palavra pode ser usada para definir bem “Meu Amigo Totoro”: sinceridade. Poucas vezes se vê uma obra tão despretensiosa e sincera ao que se propõe. Existem bobeirinhas de criança aos montes? Sem dúvida. Mas ninguém da produção parecia estar muito preocupado com as percepções e julgamentos externos, e o que aparenta ser o foco de verdade é contar uma história juvenil sem a menor apreensão do preconceito. A fidelidade da obra aos temas abordados é no mínimo tocante, e independente do estado emocional do espectador, é difícil não esboçar um sorriso de orelha a orelha e se sentir criança outra vez. Com isso, dou ainda mais mérito a este filme por sua capacidade de ser, possivelmente, o único exemplo que conseguiu executar bem a japoronguice; ou seja, aquele humor caracteristicamente japonês encontrado frequentemente em momentos inapropriados. Humor que em outros filmes eu com certeza apedrejaria, está aqui mostrado de maneira aproveitável e até mesmo crucial para o clima estabelecido. Em nenhum momento da história da arte uma feição exagerada e uma mudança drástica do tom de voz estiveram em tão boa forma.
Talvez o filme só peque um pouco por não apresentar uma trama realmente bem definida, com alguns momentos parecendo um pouco deslocados e o direcionamento do enredo em si parecendo um tanto ausente. Próximo dos momentos finais, principalmente, pode-se notar esta característica. Embora possam querer encaixar este trabalho como um filme passeio, aqueles em que o foco está muito mais nos personagens que na trama, isso é um tanto complicado pois ainda parece que falta uma coluna vertebral para todos aqueles eventos. De qualquer forma, os acertos superam as falhas com folga, e até mesmo aspectos mais técnicos fazem questão de mostrar isso. A qualidade da animação é simplesmente de primeira classe, e não deve nada para suas contrapartes ocidentais, as da Disney em especial. Diversos cenários mais parecem pinturas, e sem dúvida poucos que passem os olhos não vão reconhecer de cara a seriedade da produção apesar do conteúdo jovial.
Definitivamente uma surpresa, além de ser uma ótima introdução aos filmes de Hayao Miyazaki e do Estúdio Ghibli. Apesar de ter ficado um pouco desanimado por saber da temática infantil de antemão, devo dizer que poucas vezes uma obra cinematográfica foi tão pura e sincera a ponto de fazer eu me sentir como uma criança crescida. Não foi preciso ignorar as dublagens exageradas, os diálogos bobinhos, ou as meninices apresentadas, a experiência garante que tudo seja aproveitado tão bem quanto possível.