Em 1981, “Mad Max 2” trouxe um muito bem vindo símbolo de esperança para o futuro da franquia. Despejando ação por todos os poros, o segundo filme da série Mad Max colocou o pé na porta sem dó e deixou fãs boquiabertos com tal demonstração de vigorosidade alheia. Mas por que se ater a uma decisão de sucesso quando há a possibilidade de estragar tudo? Essa é a grande questão da terceira e última entrada da Trilogia Clássica de Mad Max. Não é à toa que depois deste, três décadas inteiras se passaram até que um novo longa-metragem fosse lançado.
Vários anos se passam entre os eventos do segundo filme e os desse, mas isso não impede que sejamos novamente introduzidos a Max (Mel Gibson) vagando pelo deserto. Trocando o famoso Interceptor por uma charrete puxada por alguns camelos, Max é agora colocado em uma situação ainda mais árdua do que a mostrada anteriormente. Não demora para o mesmo ser roubado de tudo o que tem, logo quando o mesmo se aproximava de um centro comercial. Chegando lá, o protagonista acaba entrando em atrito com a líder local, Aunty Entity (Tina Turner); não demorando para o mesmo ser banido para o deserto novamente.
Caso tenha passado despercebido, não houve nenhum erro de digitação no parágrafo anterior. Sim, Tina Turner é a vilã principal deste filme. Para quem não é familiar com o nome, Turner é uma cantora americana de sucesso, que cantou a canção tema deste filme e de outros como “GoldenEye”. Novamente, não houve nenhum erro de digitação, colocaram uma cantora como uma das atrizes principais, com direito a todas a complicações esperadas de tal escolha. Outros astros da músicas já mostraram que às vezes o talento não se limita a uma área da arte apenas, como Jared Leto e Frank Sinatra, mas este não é bem o caso. Em uma demonstração falha de talentos dramáticos, a cantora parece se ater a uma filosofia que beira o ridículo; algo que não estaria longe de “Vou fazer o possível para parecer cool enquanto mantenho uma pose totalmente malévola”. Entregando uma atuação rasa e superficial, Turner até parece se esforçar, mas infelizmente esforço não é bem o que faz um bom ator.
Assim como o bom senso, toda a ação frenética some sem deixar rastro. No lugar dela é inserido um conteúdo no mínimo duvidoso, que está entre uma versão B de “Gladiador” e os Ewoks de “Return of the Jedi“. Com direito a uma batalha de arena e crianças selvagens, este filme literalmente troca o ríspido tom dos anteriores por algo mais leve e apelativo para o público infantil. Se por um lado o primeiro filme errou em muita coisa, manter um tom sóbrio não foi um deles; mesmo fazendo muita coisa errada, ao menos se tinha em mente o que era pretendido. Em termos de estrutura, este longa consegue manter algo mais próximo do que foi visto no segundo, sem os vazios de roteiro do original. No entanto, apesar de preencher tais trechos, o conteúdo por si não é de qualidade para se sustentar sozinho; ainda mais quando as sensacionais cenas de ação não se encontram em lugar algum.
Variar a fórmula é algo quase sempre bem vindo, mas mudança em si só é positiva quando a mesma é pra melhor. Diversas franquias de sucesso chegaram ao topo por administrarem bem o material disponível, o que lamentavelmente não é bem o que acontece com a trilogia original de Mad Max. Nas partes onde manter a tradição não era tão crítico para o sucesso da obra, decidem manter as raízes; enquanto outros trechos mais importantes são quase negligenciados em prol de um conteúdo duvidoso. Por exemplo, decidem variar a fórmula ao introduzir um vilão mais substancial, idéia interessante até a parte que Tina Turner é colocada no papel. Já em outro momento, a tradição é mantida ao trazerem Bruce Spence de volta; mas ao invés de interpretar o icônico aviador esquisito do último filme, o colocam como um personagem tão original que “falta de criatividade” está pintado nas suas costas. Até mesmo a cena na Cúpula do Trovão, que deu nome ao título do longa, falha em ser ao menos um pouco emocionante. A clássica luta de gladiadores é trocada por uma variação com elásticos presos ao teto, algo bem característico da falta de sentido dos Anos 80. Perto do fim até tentam reproduzir a famosa perseguição de caminhão, mas o resultado parece apenas uma desesperada tentativa de resgatar a qualidade que este filme não demonstrou até então.
Falhando até mesmo em cenas que eram pra ter um sucesso quase garantido, como a cena na tal Cúpula do Trovão, “Mad Max Beyond Thunderdome” mostra-se como nada mais que uma plena decepção. Após todo o fervo pelo novo filme da franquia, a curiosidade apenas aumenta quanto à qualidade do mesmo; ainda mais depois de uma trilogia de saldo negativo, com apenas um filme realmente bom.