Mesmo com o sucesso estrondoso da Trilogia Original, George Lucas inicialmente afirmou não existirem planos para mais filmes de sua épica saga. Entretanto, com o renovado interesse dos fãs na franquia por volta da Década de 90, Lucas viu que a audiência estava forte como nunca para receber novas produções. Ao invés de continuar a história de Luke Skywalker e os rebeldes após “Return of the Jedi”, o criador mudou os planos ao colocar a nova trilogia anos antes de “Star Wars”. Com isso, os originais foram renomeados como Episódios IV, V, e VI; ao passo que os novos seriam os Episódios I, II, e III. Quase 16 anos após o último lançamento, “The Phantom Menace” chega aos cinemas causando reações fortes, no mínimo.
Cerca de 30 anos antes da Saga Original, os Cavaleiros Jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) são enviados para resolver um problema político no planeta Naboo. A Federação Comercial posiciona um bloqueio no planeta visando a resolução de um impasse por conta da taxação de rotas comerciais, mas suas intenções são outras e os Jedi são atacados tão logo que chegam, apenas a tempo de presenciar o começo de uma invasão planetária. Para evitar a rendição da Rainha Amidala de Naboo (Natalie Portman), Qui-Gon e Obi-Wan devem protegê-la de qualquer mal para que a República intervenha e resolva o conflito. O destino da missão se torna nebuloso e inesperado quando os Jedi suspeitam terem encontrado um garoto que pode ser o escolhido que trará equilíbrio à Força.
Uma das continuações mais aguardadas de todos os tempos, “The Phantom Menace” se mostrou para a maioria como uma decepção em escala quase tão grande quanto sua antecipação. No entanto, ao contrário do que é frequentemente dito, essa não é a pior coisa já lançada no cinema e está um tanto longe disso. Há uma porção considerável de erros e decisões questionáveis, que vão desde o roteiro confuso e atrapalhado até uma pretensão gigantesca por parte do diretor. Com este filme, Lucas tentou aumentar algo que já era praticamente maior que o mundo. Star Wars nunca foi famoso por sua moderação: tudo é gigantesco, as proporções são enormes, e as apostas sempre altas. Após uma trilogia com estações do tamanho de luas, batalhas espaciais e explosões magníficas, tentou-se expandir o universo para além das convenções já estabelecidas nos três filmes anteriores, o que não é uma proposta infeliz por si e só traz problemas por conta de sua execução.
Para se ter uma idéia mais clara do que acontece, em um mesmo filme há uma guerra de escala planetária, a insurgência de um mal ancião, a ascensão de um político em meio a negociações galácticas, o surgimento daquele que vai cumprir uma profecia antiga e mais aqueles momentos fantásticos que fizeram Star Wars ser o que é. Assim como filmes de super-herói que acham que ter vários vilões ao mesmo tempo é uma boa idéia, esta obra acaba tentando fazer muito ao abraçar várias subtramas e entregando pouco por resolver muitos na base da conveniência. O vilão da história de verdade, não é exatamente Darth Maul, mais do que ocasionalmente o apontado é Jar-Jar Binks, o Gungan trapalhão. Por mais que seu impacto na obra seja superestimado e o ódio exagerado, ele serve como símbolo de uma falha grave de “The Phantom Menace”: a negligência de aspectos importantes do entretenimento em prol de uma apelação infantil. Há muito para abordar num roteiro com problemas essenciais em sua proposta.
Para não dizer que ele é completamente inútil, ele tem alguma função na narrativa ao levar os heróis de um lugar para outro em Naboo e introduzir a outros personagens mais relevantes. Não é como se ele pudesse ser deletado sem nenhum tipo de reescrita para adaptar o roteiro à sua falta. Mesmo assim, sua presença faz o espectador imaginar e desejar essa reescrita para pelo menos ter um pouco menos de conteúdo ruim no filme. Ele é um dos que agregam negativamente com sua inclinação para um tom mais infantil que nem mesmo “Return of the Jedi” havia alcançado com os Ewoks. A presença dos Gungans e de Jar-Jar torna praticamente todo o arco envolvendo Naboo uma grande bobagem sem impacto, facilmente resolvida com a mágica conveniência de um evento que acontece quase por acidente. Enquanto isso, muitos não esqueceram de Qui-Gon Jinn e de como ele poderia ter sido um ótimo Jedi se fosse mais explorado. Ou de Darth Maul, que recebeu pedidos similares dos fãs e eventualmente voltou a fazer parte do Universo Star Wars. Em “The Phantom Menace”, todavia, eles recebem menos atenção do que outros arcos negligenciáveis. Quem sabe fosse melhor mesmo não ter feito um filme inteiro sobre a infância de Anakin e já ter saltado em algum momento para sua adolescência.
Ainda assim, algumas qualidades estão ali para serem apreciadas da maneira graciosa como foram na Saga Original. Tudo de positivo que foi conservado aqui se apresenta tão efetivamente quanto antes, entregando ao menos um respiro do passado para até mesmo os mais saudosistas. “The Phantom Menace” ainda é inconfundivelmente Star Wars, com pecados aos montes e nenhum deles sendo uma corrupção da identidade essencial da série. De tudo isso, o que é inegavelmente tão bom quanto sua contraparte de anos antes, se não superior, é a trilha sonora espetacular de John Williams. Ilustrando ainda melhor momentos grandiosos ou disfarçando o fracasso de outros não tão bons, as músicas da trilha dão o caráter singular que faz deste filme digno de seu nome. Como esquecer da melodia de “Duel of the Fates” e da cena que o acompanha?
O grande duelo de sabre que coroa o clímax de “The Phantom Menace” chega em ótima hora para finalmente subir um pouco o nível depois de uma aventura de poucos altos, alguns baixos e vários momentos medianos. Duas notas abrem o momento épico da composição de John Williams para a melhor sequência do filme. Chega o aguardado momento do duelo de sabre, que retorna um pouco diferente de antes em coreografias mais complexas e movimentos mais velozes. Com a intenção de mostrar os Jedi em seu auge, quando o sabre de luz era algo mais popular na vivência do povo da galáxia, não um artefato do passado. As lutas são apresentadas mais visceralmente e com mais agressividade, um pouco de firula também, mas nada que entre no meio de aproveitar as cenas de ação e seu espetáculo visual.
Entre acertos e erros, este filme segue de maneira trôpega até sua conclusão. O roteiro duvidoso acaba refletido no ritmo desproporcional, assim como o número alto de arcos de história é reverberado na má execução de muitos deles. Contrapondo as inconsistências, cenas como o duelo no final, a corrida de pod, e outras sequências isoladas mostram que mesmo em um dos piores da série há algo para aproveitar. Mas ainda assim é separar trechos específicos do grande todo, que, falho como é, ainda enriquece e constrói o universo muito mais que os filmes da Disney, por exemplo. Não importa se a trama política é chata, o simples fato de existir uma Federação de Comércio, uma República regulamentando a galáxia e uma organização Jedi sólida e em atividade já apresenta conteúdo novo à beça para discussão e até mesmo eventual desenvolvimento no Universo Expandido. Aliás, até mesmo a corrida de pod, por vezes criticado, ao menos fornece um ponto de vista de como uma parcela da economia e do entretenimento funcionam em Tatooine. “The Phatom Menace” erra, mas ao menos não é vazio.