Se visto superficialmente, este filme pode ser várias coisas do que realmente é. Se levado em conta apenas por sua sinopse, pode-se achar que este é mais um longa sobre esporte, neste caso a sinuca. Já se visto através de seu terrível título brasileiro, alguém pode achar que esta obra se trata sobre política e grandes organizações. Claro que como na maioria dos casos, a tradução acaba fazendo sentido durante o filme, mas sempre tem sucesso em desvirtuar as expectativas do espectador sobre o longa. Mas de todos os tipos de corrupção presentes, poucos esperavam que a mesma se referiria a corrupção da alma, elemento chave para os eventos de “The Hustler”.
“Fast Eddie” Felson (Paul Newman) é um ás das mesas de sinuca, junto de seu parceiro ele viaja o país inteiro procurando por novos oponentes para vencer. Há um detalhe porém, Felson finge ser um jogador amador para conseguir tirar dinheiro dos outros mais fácil, assim evitando que sua reputação o preceda. Após um bom tempo enfrentando amadores, Fast Eddie decide aumentar as apostas ao desafiar o supostamente melhor jogador do país. Mas assim que o duelo começa, fica claro que Eddie precisará de mais do que sua habilidade para vencer um oponente tão habilidoso.
Induzido a acreditar que este era apenas mais um filme de Esporte que ganhou renome ao longo dos anos, devo dizer que ver um foco tão forte no elemento humano e psicológico. Tão logo que sua personalidade forte mostra ser sua maior fraqueza, Fast Eddie sai sem saber em busca de algo que também não sabe o que é. Uma jornada inesperada a procura deste algo que o leve mais perto de realizar seus sonhos, o que pode-se ver aqui é uma interessante jornada de auto-conhecimento. Mais do que isso, pode-se até mesmo aprender uma coisa ou duas com os diversos dilemas morais apresentados aqui, uma vez que estes são expostos de maneira explícita e bem encaixada o bastante para se sobressaírem significantemente.
Dentro desse escopo da psicologia pode-se denotar dois pontos relevantes: o primeiro sendo a evolução e amadurecimento do indivíduo como pessoa; e o outro se a perseverança para conquistar seus sonhos é válida. O que liga estas duas abordagem tão intimamente, criando por consequência um dos momentos mais dramáticos da obra, é uma forte relação entre ato e consequência. Para tudo que é feito há um resultado, nada é de graça e nada acontece por acaso. Fazendo muita questão de reiterar essas afirmações, questões ideológicas e até existenciais são estudadas à extensão, empregando uma interessante abordagem melodramática para contrastar os temas mais obscuros. Se não fossem por características de caráter mais realista, este poderia ter sido mais um exemplo do Noir. Entretanto, a história de Eddie Felson é vista por olhos mais pés no chão, apesar de ser executada com a mesma ironia característica do citado gênero.
O que você está disposto a abrir mão para conseguir conquistar seus sonhos mais selvagens? O que é realmente necessário para evoluir como ser humano e deixar de ser quem era antes? Perguntas como essas são arduamente respondidas através do intrigante, porém ocasionalmente arrastado, enredo. Explorar os limites do ser humano é tema comum do cinema, com os exemplos vindo de praticamente todos os gêneros: Rocky mostrou-se sempre incisivo na hora de superar o desafio da vez; Schwarzenegger quebrou barreiras para vencer campeonatos de fisiculturismo; e Maximus Decimus Meridius foi até o fim para vingar seus entes queridos. Exemplos não faltam, mas quando os limites em questão são psicológicos e naturais como os apresentados, representantes fortes se fazem necessários para servirem de elo entre o espectador e obra. Cumprindo os requisitos, a história explora com sucesso absoluto os pontos que a que se propõe através de um elenco forte. O trio composto por Paul Newman, George C. Scott, e Piper Laurie faz mais que sua parte ao entregar personagens fortes e solidamente executados; estes colocados em uma interessante harmonia com a entonação obscura e melodramática, que faz muito pela força com que as mensagens deste filme são transmitidas.
No final das contas este é sim um filme de esporte sobre dedicação e superação, mas o que faz de “The Hustler” ser diferente de outros do gênero é sua ousadia em abordar o elemento humano. Revelar que há um elemento psicológico significativo por trás do sucesso nas mesas de sinuca foi o passo a mais que fez a diferença, tornando esta obra mais que um bom filme de Esporte mas também um grande clássico do cinema.