Cerca de 65 anos depois do lançamento da clássica animação da Disney, que marcou diversas gerações e cimentou a imagem de Cinderela como uma Princesa Disney, vem uma nova versão do velho conto em um formato diferente. Contando praticamente a mesma história com o uso de atores de verdade e uma boa dose de efeitos especiais, este conto de fada clássico é trazido de volta à vida para novas gerações se familiarizarem e para conhecedores revisitarem um pedaço de suas infâncias.
Com exceção de algumas minúcias no desenvolvimento, a história é essencialmente a mesma do filme de 1950. Detalhes como um nome de verdade para a protagonista e a presença da mãe da mesma no começo do filme são adicionados, enriquecendo mesmo que sutilmente o escopo do material base. Ella (Lily James) é uma criança do campo que vive feliz ao lado de seu pai e mãe, mas um mal súbito acaba fazendo com que a mãe adoeça e se vá. Acreditando em uma chance de ser feliz novamente e dar uma nova figura materna a sua filha, o pai de Ella decide se casar com a viúva de um mercador. Mas quando até mesmo o pai Ella morre, a mesma se vê perdida nas malvadas garras de sua madrasta (Cate Blanchett) e meias-irmãs, que a tratam mais como empregada que como parte da família.
De começo, pode parecer um pouco esquisito ver as qualidade características de um conto de fada representadas por atores reais. Enquanto o estilo de uma animação casa bem com a atmosfera faz-de-conta, ver cenários e atores de verdade em papéis tão cartunescos é um pouco estranho. O que a princípio mais levanta sobrancelhas sobre esse estranhamento é a atuação de parte do elenco, que por vezes soa um pouco absurda. Normalmente atores e cenários reais são relacionados a uma narrativa mais séria ou realista, por isso ver uma atriz como Lily James interpretar uma personagem tão imaculada como Cinderella pode soar bizarro. Mas tão logo que o espectador reconheça que tudo aquilo é um “Era Uma Vez” de figurino diferente, esse sentimento de estranhamento logo desaparece.
Assim que esta sensação de anormalidade passa, a magia das atuações de Blanchett e James vem à tona. Claro que em nenhum dos dois casos pode-se falar de um marco na história do cinema, em termos de atuação, porém dá para dizer facilmente que os exemplos vistos aqui cumprem seu papel muito bem. Blanchett, por exemplo, captura perfeitamente o espírito malévolo tradicional da Disney. Desde risadas exageradas até tons de voz extravagantes, a atriz não poupa esforços na hora de mostrar presença como a face malvada do conto. O que torna as coisas ainda mais interessantes, porém, é que mostram mais do que a maldade simplesmente por valor de divergência. Inserem um plano de fundo para as ações da madrasta, uma justificativa para toda aquela inumanidade. Além de representar bem um ícone da histórias da Disney, aumentam as apostas ao implementar uma curiosa justificativa para suas atitudes.
Lily James, mantendo o mesmo nível de uma forma diferente, retrata o espírito virtuoso da jovem Cinderela. Demonstrando sua pureza e ingenuidade apropriadamente, a atriz consegue realmente encaixar o sapatinho de cristal no que se refere a entrar na personagem. Assim como atores de verdade, fazem uso também de cenários reais para ambientar a história. Nesse quesito, mais que o resto, acertaram muito ao não só utilizar cenários atraentes como também capturar estes ambientes bem. A beleza está lá para ser apreciada em ambientes pequenos, como a casa de Ella; ambientes abertos, como as florestas em volta da casa; e até mesmo em localidades dignas de um Épico, como o palácio. Cada lugar diferente melhora como pode os momentos famosos do conto de fada. Grande parte mostra-se como uma atualização dos visuais cartunescos, mas a extraordinária dança no baile recebe um destaque especial, facilmente sendo um dos poucos momentos que superam a obra original.
Entretanto, ainda não há tanta coisa nova para tornar este filme notável o bastante para ser posto à altura do clássico de 1950. Alguns furos na história mudam a percepção da qualidade deste longa momentaneamente, mas esta logo retoma seu bom ritmo. Há diversos acertos que fazem deste um interessante retorno, mas esta obra ainda está longe de alcançar ou substituir a animação.