Antes de trabalhos populares de Animação como “Akira“, “Fullmetal Alchemist” e “Grave of the Fireflies” dominarem o cenário do cinema japonêS, as obras de Akira Kurosawa já moviam milhares de pessoas com suas histórias marcantes. Possivelmente a obra mais famosa do diretor, esta história sobre o Japão feudal se manteve popular mesmo 60 anos após seu lançamento. Talvez por ter colocado minhas expectativas um pouco altas demais eu não tenha gostado tanto quanto esperava gostar, mas ainda assim é inegável que apesar de alguns defeitos esta é uma obra com conquistas demais para ser ignorada.
Localizando-se no Japão feudal, mais especificamente no ano de 1587, este é um conto sobre o sofrimento de um vilarejo agricultor em meio a situação política complicada da época. Ignorado pelo governo e extorquido por um grupo de bandidos, o povo do vilarejo é obrigado a passar fome para manter suas cabeças em seus pescoços. Os bandidos vêm ocasionalmente para roubar os alimentos da vila, deixando apenas o suficiente para a sobrevivência de todos. Sob a ameaça de não sobreviver a outra investida, o povo decide fazer algo sobre sua situação. Entre morrer de fome e morrer lutando, o vilarejo escolhe a luta e envia alguns de seus homens em busca de samurais para ajudar na batalha. Eventualmente, sete samurais são recrutados para lutar contra uma horda de quase 40 criminosos.
De todas as características desse filme, acredito que a falha se localize justamente no exagero. Começando por sua duração de quase 3 horas e meia, temos uma história muito bem contada, mas que poderia ter ficado um pouco mais enxuta se fosse mais curta. Em um filme como esse, ter empatia pelos personagens é imprescindível, não conhecer bem o indivíduo central de uma cena emotiva faz a obra perder significado aos poucos. A experiência em si não chega a ser cansativa, mas alguns cortes aqui e lá fariam muito pelo ritmo geral do longa. O porém é que um meio termo entre longo demais e curto demais é complicado de se definir — tal como o remake, “The Magnificent Seven” mostra. Felizmente, Kurosawa escolhe o menos pior entre os dois males ao não sacrificar seu enredo por um filme curto.
Outro exagero pode ser encontrado na atuação geral de muitos personagens, que em momentos se mostra desproporcional demais para ser aceita. Mesmo tendo em mente que muito do cinema da época se baseava no melodrama e na atuação teatral, há um certo limite entre o que é bem traduzido para o cinema e o que não é. Alguns personagens como Kikuchiyo (Toshirô Mifune) são espalhafatosos demais para sequer se encaixarem como um alívio cômico. Momentos desprovidos de qualquer tipo de graça se mostram inoportunos para justificar suas atitudes, o que finalmente se classificaria como a japoronguice desnecessária, já encontrada em outras obras orientais. Tais escolhas infelizes de humor fazem tanto por esta obra de 1954 quanto fazem hoje em dia: absolutamente nada de bom.
Onde “Os Sete Samurais” redime seus pecados é justamente na perícia de Akira Kurosawa como cineasta, fazendo de uma relativamente simples história um grande épico. Nas mãos de poucos diretores uma trama sobre samurais e um vilarejo contra bandidos opressores seria tão bem executada. Saber contar uma história através de uma sequência de imagens não parece tarefa difícil quando colocada no papel, mas é vendo trabalhos como este que se pode notar a disparidade de qualidade entre obras colocadas no mesmo patamar. Até mesmo falhas explícitas desde o começo são amaciadas pelo roteiro brilhante — sim, estou falando justamente do samurai espalhafatoso e sem graça. Ignorar um erro perante outro acerto muito maior é uma coisa, mas transformar um Jar Jar Binks em um personagem respeitável é um feito que poucos podem se gabar.
Mesmo esperando um pouco mais deste tão falado trabalho, posso dizer com tranquilidade que a experiência valeu a pena. Uma história simples contada por uma pessoa que não a complica desnecessariamente, mas a desenvolve de maneira que o conteúdo possa ser explorado organicamente. Poucos são os momentos definitivamente obsoletos, consideráveis são aqueles passíveis de corte, e muitos são os essenciais para a narrativa. Talvez com um polimento um pouco mais dedicado este grande filme pudesse ser algo ainda mais grandioso, mas o que se tem já se mostra o bastante para proporcionar uma experiência de qualidade.