Um dos melhores filmes do espião James Bond é também o décimo segundo filme da franquia, estrelando Roger Moore, o terceiro ator a vestir os sapatos de 007. Mantendo o pé no chão em relação a outros filmes da série, este filme traz um tom de seriedade e realismo à fórmula já conhecida. A missão da vez envolve a investigação e apreensão de um equipamento valioso para o governo britânico. Quando o barco à paisana carregando tal equipamento é acidentalmente afundado, cabe a 007 resolver a situação sem chamar a atenção das nações interessadas no artefato.
Como é de costume nos filmes de Moore, um humor e uma leveza se mostram presentes em sua interpretação como Bond, mesmo com a entonação puxando mais para a seriedade. Esta comicidade leva a um dos problemas deste filme, que em diversos ocasiões importunaria James Bond: o humor desproporcional, colocado em quantidade alta demais ou completamente fora do lugar. Mesmo que tudo aponte para um ritmo mais sério, alguns momentos insistem em trazer humor onde não é apropriado. Tomando como exemplo a sequência pré-créditos, temos uma revisitação de assuntos cativantes da trajetória do personagem, mas que parecem ter pouca importância quando são postos junto a este humor desnecessário. Pelo menos esta falha se limita a alguns poucos momentos, pois no resto do longa conseguem dosar com sucesso a comicidade que faz os filmes de Roger Moore tão icônicos.
Como em toda franquia longa, retornar às origens novamente se mostra a solução quando as entradas começam a se desviar demais da idéia original. Neste caso, o longa-metragem anterior acabou indo um pouco longe demais no humor, na tolice e na ambição em geral. Para resolver isso, são consideravelmente cortados o humor e os apetrechos, voltando ao que se viu nas obras de Ian Fleming e nos dois primeiros filmes. Com isso em mente, no que se trata das qualidades realmente importantes em um filme de James Bond, “For Your Eyes Only” se exalta com louvor. As sequências de ação mostram significativa melhora perante o que foi visto no filme anterior, “Moonraker”. Entregando uma cena espetacular após a outra e usando da criatividade como sua melhor ferramenta de entretenimento, esta obra mostra algumas das sequências mais excitantes de toda a franquia. O que torna tudo mais impressionante é o fato de variarem a fórmula em várias ocasiões, como quando trocam os famosos carros velozes por um Citroën 2CV de apenas 9 cavalos de potência.
A idade de Roger Moore, que tinha cerca de 53 anos na produção do filme, é finalmente colocada em jogo ao apresentarem o Agente 007 recusando uma garota por considerá-la jovem demais. Apesar de interessante inicialmente, a idéia é infelizmente ignorada completamente por conta da Bondgirl do filme. Claramente mais nova que o Agente e aparentando ter poucos anos a mais que a outra moça, Bond acaba sendo exibido dando os costumeiros amassos com a tal garota. O que antes foi estabelecido como mandamento acabou sendo aqui como uma das grandes falhas do longa, se não a maior. Seu relacionamento com a Bondgirl Melina Havelock (Carole Bouquet) é estritamente casual, sendo seus encontros meramente esporádicos e rasos em sua essência. Não há nada que aponte uma única possibilidade de um romance aflorar, e no fim quando o mesmo acontece tudo parece excessivamente plástico.
Para minimizar os danos, a atuação de Bouquet é um tanto acima da média estabelecida por outras Bondgirls, sem contar sua esplêndida beleza que não desaponta nem um pouco. Outros elementos característicos da franquia se mostram tão bons como sempre, como a fotografia espetacular e a trilha sonora. John Barry dá o comando da música a Bill Conti neste longa, que apesar de entregar um produto bem diferente do trabalho de Barry, não desaponta. A mistura entre o clássico Bondiano e a música popular dos Anos 80 cria um som bem característico, representando bem o Bond de sempre e ao mesmo tempo se diferenciando perante o resto das trilhas da franquia. Entretanto, no que se refere à vilania do filme temos um vilão e um capanga que não cheiram nem fedem, ambos cumprem seu papel sem mostrar motivos para serem lembrados na história de James Bond.
Mesmo errando levemente na escolha de seus vilões e no relacionamento com a Bondgirl, “For Your Eyes Only” se mostra um dos melhores filmes da franquia por acertar como nunca no resto de suas qualidades. Sequências de ação sensacionais, uma história bem trabalhada, um ritmo solidamente executado e uma trilha sonora única somam para criar uma das melhores experiências que se pode ter em um filme de James Bond e em um filme de ação em si.