Com o fim da Era Heisei em 1995 e o desastre que foi o “Godzilla” de 1998, a Toho lançou uma nova série do Grande G: a Era Millenium. Ao contrário da Era Heisei, que manteve uma continuidade entre seus filmes, a Era Millenium criou cinco linhas do tempo diferentes ao longo de seis filmes. No estilo das histórias da série “What If?” da Marvel, na qual situações hipotéticas eram apresentadas, cinco dos seis filmes lançados entre 1999 e 2004 partiram do ponto onde o “Gojira” original parou. “Godzilla vs. Megaguirus” é a segunda obra dessa nova empreitada.
Assim como “Godzilla 2000: Millenium“, a trama continua mais ou menos onde o original parou. Aqui fica um pouco mais fácil se localizar na nova linha do tempo criada, diferente do anterior que deixou tudo meio confuso. Depois do primeiro Godzilla atacar em 1954, um novo monstro surge décadas depois e passa a atacar usinas nucleares. O governo até passa a usar plasma como fonte de energia alternativa para evitar problemas, mas isso não muda nada quando ele continua atacando. Anos mais tarde, uma arma capaz de criar buracos negros, criada para ser usada contra Godzilla, traz uma libélula pré-histórica ao Japão. Ela deposita um ovo no presente antes de voltar ao passado e, com isso, se iniciam os novos problemas do Grande G.
O vilão da vez é Megaguirus, uma libélula gigantesca com o poder de criar ondas sonoras de alta frequência, assim como absorver energia e a expelir através de rajadas. Criticado entre vários círculos de fãs do Grande G, Megaguirus sempre foi tratado como um vilão pouco imaginativo por seu design parecido com o de Battra, do filme de 1992, que já era uma versão malvada de Mothra, por sua vez. Não achei tal semelhança tão discrepante, tanto que o monstro desse filme se mostra bem superior à Battra. Os poderes e as sequências de batalha de Megaguirus são muito superiores em comparação aos do kaiju de “Godzilla vs. Mothra“, que, apesar de bons, não chegam a criar cenas tão empolgantes. O vilão aqui pode até ser parecido anatomicamente, mas os poderes novos garantem que a experiência seja mais variada, assim como variações mais fracas do monstro fazem sua parte em trazer novidades para as lutas. Infelizmente, a física bizarra de vôo é mantida – o modelo bater as asas de forma não convincente – fazendo o espectador se perguntar como ainda não consertaram essa mecânica apropriada apenas aos Anos 60.
Além das críticas em cima do próprio kaiju, houve muito falatório sobre a qualidade do filme em si, normalmente classificado como o pior da Era Millenium. Até o momento, “Godzilla vs. Megaguirus” é o melhor filme de tal Era, e, consequentemente, está nas posições mais altas da classificação geral da franquia este longa se classifica nas posições mais altas. Eu tanto não achei “Godzilla vs. Megaguirus” ruim que considero as cenas de batalha o ápice de qualidade da série até então, representando perfeitamente como eu sempre imaginei que um filme do Godzilla seria: um monstro versátil, gigantesco e capaz de entregar uma batalha cheia de variedade. Curiosamente, não esperava que um protagonista voador como Megaguirus criaria cenas de batalha tão excelentes e empolgantes. Sem o exagero de golpes sem sentido – voadoras com os dois pés – da Era Shōwa nem o excesso de rajadas atômicas da Era Heisei, aqui as porradas e as rajadas são bem dosadas o bastante para criar sequências nunca vistas antes.
Mais do que isso, o uso de computação gráfica é muito melhor aqui do que em seu predecessor do ano anterior. Com orçamentos praticamente iguais, “Godzilla vs. Megaguirus” prova que nem sempre é mais dinheiro que faz a diferença, é mais importante saber usar o orçamento disponível para que as limitações sejam maquiadas ou melhoradas por outros elementos do filme, como a fotografia. Isso não quer dizer que as cenas em CGI são algo de outro mundo, eles apenas conseguem camuflar sua feiura bem o bastante para que ela seja minimizada. Mostram que o segredo de criar imagens de qualidade está em saber usar da melhor maneira os recursos disponíveis, além de não dar uma mordida maior que a boca. É mais ou menos o fio da navalha que a franquia vem percorrendo pela maior parte de suas décadas de existência: alcançar um equilíbrio entre orçamento e ambição, já que falta os milhões de dólares das produções americanas.
Mas nem tudo são flores neste filme. Em alguns momentos, a execução de algumas cenas relativamente cruciais acaba desapontando um pouco. Na batalha final, por exemplo, Godzilla executa um movimento relativamente normal se for analisado objetivamente, mas é tão bizarramente capturado que parece muito mais absurdo que realmente é. No geral, “Godzilla vs. Megaguirus” é uma surpresa frente às críticas que avaliaram tão mal o filme. Dentre a classificação geral da franquia, ele dá um jeito de se posicionar à frente de vários outros filmes considerados como jóias da série.