Famoso por suas interpretações como James Bond, Pierce Brosnan foi o charmoso espião de 1995 até 2002, estrelando em quatro filmes e cimentando sua fama como o Agente 007. 12 anos depois de sua despedida como 007, Brosnan retorna ao gênero que o tornou famoso com “The November Man”, um longa baseado nos livros de suspense político escritos por Bill Granger. Baseado especificamente no sétimo livro da franquia, de um total de 13, o filme é dirigido por Roger Donaldson; que já trabalhou com Brosnan em outra obra da década de 90: “Dante’s Peak”.
Assim como os livros de Bill Granger, o enredo tem um forte caráter político, envolvendo não só agentes secretos contra um inimigo como também organizações de inteligência e nações inteiras. Dentro desse contexto o espectador é introduzido a Peter Devereaux (Pierce Brosnan). Ele é ex-agente da CIA que tem aproveitado uma vida sossegada na Suiça, mas que acaba arrastado para mais um trabalho quando vê sua vida privada invadida por uma nova missão. Nela, Peter se torna o alvo de um ex-pupilo que é colocado contra ele sem mais. Para ficar vivo, Deveraux deve descobrir quais são as forças por trás desse jogo de intrigas e mentiras, no qual ninguém pode confiar em ninguém.
Tirando o nome curioso, esta obra bebe muito da fonte de clichês e filmes genéricos do gêneros, aqueles que lotam as promoções de supermercado e a televisão. A parte interessante, porém, é justamente a trama ter sua taxa de ambição, envolvendo algo mais do que o embate entre uma pessoa e um bando de bandidos. O protagonista certamente gostaria que as coisas fossem mais simples, dessa forma sua vida seria mais fácil; só que aqui há mais gente envolvida do que ele esperava, o que faz com que a trama atinja proporções gigantescas e realistas sem nunca ficar “maior que o mundo”, como é o caso da série James Bond. Não que um seja necessariamente melhor ou pior que o outro, mas construir uma história que tenha elementos o bastante para atingir níveis globais é certamente um mérito notável.
Construir uma trama de grandes proporções enormes é algo bom, executá-la de forma apropriada são outros quinhentos. O material com que “The November Man” começa trabalhando é excelente e mostra muito potencial para reviravoltas, porém o longa se enrola na execução desses elementos e transmite estas reviravoltas de forma confusa; deixando o espectador sem entender quase nada sobre o que acabou de acontecer. Eventualmente tais viradas até fazem mais sentido, clarificando as coisas. Podem até dizer que quase toda obra envolvendo mistério faz isso, só que há uma diferença entre “The November Man” e um filme que deixa o espectador no escuro de propósito para depois revelar seus segredos: no primeiro o espectador sente o impacto da surpresa e o doce gosto da manipulação invisível; no outro enxerga apenas um roteiro que deixa para remendar suas besteiras lá na frente. Quando as coisas começam a ficar claras elas já perderam totalmente o elemento surpresa, quem assiste apenas sente-se grato por não terem deixado as coisas incompletas.
Felizmente, os maiores erros de “The November Man” se limitam a um roteiro orientado pelo clichê. O resto das falhas são menores e mais facilmente digeridas, como a ação. Não há nada na condução das cenas agitadas que possa ser considerado inesperado — até porque elas sofrem influência do roteiro — mas embora todos saibam como as coisas acabarão ainda dá para aproveitar a direção de Roger Donaldson na representação destes eventos. O fator entretenimento ainda fica em boa forma para entregar uma experiência divertida por conta da ação liderada por Pierce Brosnan. Sua atuação como o agente aposentado é bem orgânica e, de certa forma, era esperada se considerarmos que há 12 anos atrás ele foi Bond, James Bond. Aos 61 anos, Brosnan consegue transmitir com sucesso os sentimentos de maturidade e experiência, próprios do personagem que ele interpreta, além dele parecer confortável e até animado de voltar ao gênero espião. O lado ruim disso é que o fato de Pierce Brosnan ter sido James Bond parece ter influenciado demais os responsáveis pelo título do filme, o que resultou em”Um Espião Nunca Morre”: uma fusão de “O Amanhã Nunca Morre” com “O Espião que me Amava” ao invés do mais apropriado “O Homem Novembro”.
No geral, “The November Man” é uma obra de ação e espionagem bem executada em muitos aspectos, mas que é impedida de ser melhor do que é por faltar punho forte em aspectos como o desenvolvimento da história. A premissa promete muito, a execução deixa a desejar e por consequências muita coisa cai no patamar do óbvio. Mesmo assim, é bom ver Pierce Brosnan de volta ao gênero em ótima forma, talvez como um possível Agente 007 aposentado nas mentes criativas.