“The Hunt for Red October” é a adaptação para o cinema do livro homônimo escrito por Tom Clancy. Famoso por seus romances militares, Clancy teve sua estreia no mundo da literatura com o este mesmo livro, que até 2014 rendeu 16 continuações ambientadas no universo. Jack Ryan é o protagonista de muitas dessas obras e de todos os cinco longa-metragens baseados nos livros, sendo interpretado por quatro atores diferentes: Alec Baldwin, Harrison Ford, Ben Affleck e Chris Pine.
No primeiro filme de todos, Alec Baldwin é a figura por trás de Jack Ryan, um analista da CIA se envolve num embate delicado entre as potências da época: os Estados Unidos da América e a União Soviética. Em meio a loucura da corrida armamentista surge um inovador e poderoso submarino soviético, posto nas mãos de Marko Ramius (Sean Connery), um respeitado oficial, para ser testado nos mares. Sua perícia como marinheiro e sua atividade na política fizeram sua fama, Ramius aparenta ser o camarada ideal nos olhos da União Soviética. Mas quando este desobedece ordens claras e parte em direção aos Estados Unidos, uma caçada pelo capitão e seu submarino começa.
Como quase todas as adaptações que tive o prazer de conferir o material base, acho complicado não fazer comparações entre os dois materiais e achar a adaptação ruim, ou não, por ser pouco fiel ao material de origem. Neste caso há um livro de mais ou menos 400 páginas condensado em um longa-metragem de 134 minutos. Como em outras adaptações de obras mais compridas, muito conteúdo é cortado em prol da criação de uma experiência mais dinâmica. O resto é encaixado conforme o roteiro planejou. Aproximadamente 30% do livro é cortado completamente e, para não dizer que são ignorados, são resumidos em mais ou menos 10 minutos.
Creio que seria inviável colocar toda essa parte cortada, pois aí a duração passaria fácil das 3 horas. Considerando que a entonação está mais focada na ação do que no suspense do livro, colocar tudo no filme simplesmente não seria viável para o que queriam com “The Hunt for Red October”. De qualquer modo, acredito que o suspense e mistério cortados seriam muito bem vindos se as circunstâncias fossem diferentes. Detalhes como as intenções de alguns personagens são reveladas muito repentinamente, sem ao menos elaborar no porquê delas, e acabam com as perspectivas de um ar misterioso tão presente no livro. Tudo foi jogado na cara do espectador sem um processo de pista e recompensa para guiá-lo até a conclusão, levando a experiência a fraquejar em temas que desenvolviam e muito os personagens. Resta a clara diferença entre uma boa caracterização e um bom desenvolvimento. Nenhum dos personagens principais é ruim, embora estejam igualmente longe de serem profundos.
Condensam tanto isso que a própria trama perde um pouco da força por pular etapas. Por exemplo, por um bom tempo o leitor fica sem saber as reais intenções de Ramius, enquanto não demora para ele relevar seu objetivo aqui. Além disso, as mencionadas conclusões atingidas pelo personagem Jack Ryan acontecem quase instantaneamente, no maior estilo “Sherlock”em vez do longo processo dedutivo que o pinta como um cara inteligente, não um super herói. Entretanto, diferenças com o livro à parte, devo admitir que a visão deste filme funciona. Claro que ela é mais burra, se posso dizer, que a do livro, mas no geral adapta bem os principais fatos da história e cria uma trama coerente. É uma obra diferente numa mídia diferente para um público diferente.
Ainda que a maioria das mudanças sejam aceitáveis, existe uma que simplesmente não consigo deixar passar, uma que afeta meu julgamento do filme pelo que faz com a melhor parte do livro. As modificações do clímax foram um tanto infelizes em representar bem seus eventos. O modo como Tom Clancy escreve é extremamente técnico, há o frequente uso de siglas complicadas para nomear aviões, navios, helicópteros e equipamentos militares, além de uma igualmente frequente descrição complexa de cargos militares, instituições governamentais e funções políticas. O filme em si não chega a ser tão técnico, embora use várias abreviações para denominar tais elementos. Dessa forma, fica claro que essas tecnicalidades seriam a primeira coisa a ficar de fora do roteiro, assim como todo o detalhamento das batalhas e estratégias militares. O problema é que, ao cortar isso, a produção recorre a uma resolução simples para um clímax gigantesco. Distorcem fortemente o realismo em prol do enredo. Mesmo com as simplificações da adaptação, fica explícito como deixam a desejar no clímax.
Divergências na hora de abordar certos pontos-chave do livro ou não, o filme por si é uma experiência muito dinâmica. O ritmo mais movimentado é enfatizado pela velocidade dos eventos da trama, ao passo que os diálogos são resumidos para acompanhar e realçar a loucura na qual os personagens vivem. Em termos cinematográficos, a maioria dos aspectos está digna: o desempenho do elenco, estrutura do enredo, trilha sonora e fotografia cumprem muito bem seu papel. Por outro lado, os efeitos especiais envelheceram muito mal. Tanto o CGI como o os efeitos práticos são mal utilizados e parecem ainda mais datados: o primeiro estava engatinhando na época, enquanto o segundo faz uso de miniaturas e modelos pouco convincentes.
No geral, “The Hunt for Red October” é uma adaptação relativamente boa — considerando a mudança de tom —e um bom filme. Meu julgamento pode até estar afetado pelas inevitáveis comparações com o material base, mas meu conceito sobre o longa poderia facilmente ser mais positivo se as qualidades cinematográficas fizessem esse favor. De um jeito ou de outro, recomendo tanto o filme quanto o livro, são ambos ótimas fontes de entretenimento.