“Toy Story” é uma franquia de filmes que os jovens adultos de hoje cresceram assistindo. Mais do que apenas um desenho marcante, ele se mantém como pioneiro no quesito de animação em computação gráfica e muito bem lembrado por isso. Enquanto alguns desenhos de sucesso como “O Rei Leão” e “Alladin” eram populares entre as crianças, “Toy Story” chegou arrebentando tudo oque se conhecia de animação ao mostrar modelos em 3D como nunca havia sido visto antes. Cerca de 11 anos depois do lançamento de “Toy Story 2” a Disney, em conjunto com a Pixar, lançou a terceira parte da história dos bonecos mais famosos do cinema.
As duas primeiras partes aconteceram enquanto Andy ainda era criança, este filme já pula vários anos para frente até um Andy crescido e quase universitário. Como acontece na vida real, uma hora os brinquedos da infância perdem a graça e ganham valor puramente sentimental e nostálgico. Mas as coisas complicam quando seus brinquedos têm vida e se sentem abandonados pelo descaso de seu dono, que naturalmente segue em frente com sua vida. Com Andy indo embora de casa para estudar, seus brinquedos ficam para trás e acabam enviados para uma creche de crianças. O lugar até parece bacana, na verdade. Crianças cheias de energia chegam e vão todos os dias, aproveitando o quanto podem. Os brinquedos de lá adotaram como líder um urso cor de rosa chamado Lotso, que também parece legal, mas exala motivações duvidosas.
Pela diferença de tempo entre os dois primeiros filmes e o terceiro há um grau bem intenso de nostalgia na mistura de elementos vistos aqui. As crianças que tinham 5 anos no lançamento do primeiro estavam com quase 20 no lançamento deste e, assim como Andy, também passaram a ver as coisas da infância como obsoletas na fase adulta. Eu sou uma destas crianças e justamente aí que está a genialidade desta obra. “Toy Story” foi um marco profundo na infância de muitos, não era uma animação, era A animação. Não é de se surpreender que exista certo medo de não gostar de “Toy Story 3”, medo de achar que talvez ele seja outra coisa que se tornou obsoleta. Para a alegria destes — e das crianças, que podem curtir essa obra sem medo — este longa-metragem regula com perfeição os graus de nostalgia, bobeirinhas, drama e até um sentimentalismo que nunca foi visto antes na franquia.
No geral, os dois primeiros longas se tratavam de apenas mais uma aventura na vida dos bonecos e eram essencialmente filmes leves com vários toques de comédia em seu meio. No terceiro, a Disney torna a franquia muito mais ambiciosa, criando um enredo com elementos muito mais potente que aborda drama, tristeza, morte, responsabilidade emocional e até mesmo o senso de dever. Considerando que os personagens são brinquedos de criança, pode-se dizer que a Disney foi bem longe no quesito de expandir os horizontes da série. Devo dizer que isto não poderia ter feito de uma maneira melhor, pois “Toy Story 3” acerta virtualmente em tudo o que se propõe. É um filme que pode ser definido como entretenimento inteligente, agrada aqueles que procuram um filme simpático para passar o tempo e os que querem uma bela viagem nostálgica.
Além da nostalgia, outro benefício que esses 11 anos entre obras trouxe foi a evolução da CGI (Computer Generated Image). Os dois primeiros longas estão muito longe de defasados ou feios quando vistos hoje, mas definitivamente não se comparam à qualidade e detalhamento do trabalho feito aqui. Tudo parece mais real ao mesmo tempo que continua sendo um desenho animado. O trabalho com sombras e luz é magnífico e cria uma experiência muito imersiva quando vai além do cenário e chega nos personagens — como a uma montanha de detalhes entrelaçados harmonicamente que é Lotso. Juntando tudo isso com o estupendo trabalho feito com o efeito 3D, o resultado é uma maravilha visual diante dos olhos da audiência; são Imagens que realmente parecem sair da tela e objetos que passam certa sensação de profundidade, ao contrário do efeito mediano do 3D convertido.
Mas não só de coisas novas vive este filme, praticamente tudo o que fez os primeiros serem muito bons está de volta. As piadas de sempre continuam fresquinhas e novos elementos de humor são convenientemente bem inseridos, para não se apoiar especialmente nos feitos do passado. Das coisas que voltaram, destaque vai para a velha trama fora de casa, que coloca os bonecos em ambientes comuns para humanos e extraordinários para eles; além de introduzir novos bonecos ao clubinho para incitar o conflito entre eles. Este novo uso das coisas antigas combinado com novas abordagens, como o 3D e a tecnologia mais avançada, dão uma boa refrescada na velha história de antes. Mais especificamente, a abordagem mais séria do enredo tira um pouco o senso de aventura típica e cria um senso de perigo, se não um suspense em cima do novo contexto.
Este é um filme que me parece ser algo completo, qualidade que muitas das obras que dei nota máxima possuem. Tenho a impressão de que tudo o que a obra tentou fazer foi feito da melhor maneira possível, nada é feito demais nem faz falta. Este não é só o melhor Toy Story mas também uma das melhores animações de todos os tempos. Woody e Buzz nunca estiveram tão bem nas telonas como nessa hora de ouro. Dessa forma, dou a “Toy Story 3” uma nota mais do que merecida, um 100 pelo excelente trabalho realizado por essa magnífica obra.