Refilmagem de um clássico britânico da década de 60, “The Italian Job” compartilha de poucas características com sua contraparte de antes, que tem personagens e trama consistentemente diferentes. Considerado um dos clássicos do cinema britânico, o filme britânico estrela Michael Caine como o protagonista, enquanto o remake de 2003 coloca Mark Wahlberg nos sapatos do personagem principal. Felizmente, este foi um remake que não ficou devendo muito ao seu legado em termos de bilheteria e crítica.
Olhando os dois filmes mais a fundo pode-se notar diversas diferenças grandes, mas um olhar mais cru mostraque ambos trabalham em cima de uma mesma temática: ladrões e o maior assalto de suas vidas. Nesse caso temos Charlie Croker, a megamente cleptomaníaca por trás de tudo, realizando um dos maiores roubos da história junto de sua equipe dos melhores profissionais do mercado ilegal. Após o roubo ser um sucesso, Croker e sua equipe são traídos e têm seu prêmio roubado debaixo de seus próprios narizes. Sem querer deixar barato, Charlie reúne sua equipe mais uma vez para retribuir o desfavor e roubar seu prêmio de volta.
Algo interessante que li sobre este filme foi o fato dele não ser especialmente um remake do original de 1969, mas sim uma homenagem a ele. Vendo que ambos não compartilham trama nem personagens esse argumento passa a fazer mais sentido; mais ainda quando apenas os 20 minutos iniciais se passam na Itália ou têm a ver com algo italiano. Enquanto o primeiro se passa quase inteiro na Itália, este se passa quase completamente em Los Angeles e, tirando as cenas iniciais em Veneza, tem pouca coisa para justificar o título — o termo “The Italian Job” é usado apenas uma vez para se referir ao grande roubo. Homenagem ou não esta obra acabou capitalizou bem o título e provavelmente teve mais atenção do que se fosse chamada de “The American Job”, um nome bem mais apropriado.
Americano ou Italiano este longa consegue ser o que alguns longas de James Bond não conseguiram: um ótimo filme de ação com sequências de tirar o fôlego casadas com uma trama minimamente inteligente. Não estou dizendo que a trama deste longa-metragem é algo de outro mundo com uma reviravolta absurda, mas ela cumpre seu papel muito bem e sem muita enrolação mostra o tal grande roubou no começo. As coisas começam interessante e se mantém assim até mesmo em cenas calmas como o planejamento da retribuição. Os roubos serem mostrados do planejamento até a execução, curiosamente, não estraga a surpresa nunca: revelam apenas o necessário para manter o espectador interessado para quando colocarem as mãos na massa.
Nesse momento é quando a ação rouba a cena. Com um nível de absurdez bem dosado, tais cenas são fora do real o bastante para se encaixarem num universo fictício, mas também realistas o bastante para não exigir que o espectador se desprenda muito da realidade. Um dos grandes méritos de tais sequências é o uso mínimo de computação gráfica para chegar um resultados bons — mínimo pois sempre há um pouco dela em explosões e coisas do tipo. De qualquer modo, fica bem claro que as cenas foram gravadas com gente de verdade dentro de carros de verdade em lugares de verdade. O melhor de tudo é que — novamente traçando um paralelo com 007— esta obra apresenta localidades extravagantes por natureza como palco de sua ação, mesmo quando o ambiente é algo aparentemente limitado como Los Angeles. É o tipo de experiência que empolga sem nunca perder o estilo, algo como uma ação elegante, se posso dizer.
A exploração do ambiente urbano é surpreendente. Diferente do senso comum, a cidade é mais que uma porção de prédios aguardando sua iminente destruição. Tudo o que é mostrado está no mesmo lugar do mapa e, no entanto, parece algo novo pela grande variedade de cenários. Em mansões extravagantes ou tubulações de esgoto nunca deixam novas idéias para trás, entregando diversidade sem negligenciar o que interessa: o que vão fazer nesses ambientes. O lugar pode até ser um pouco mais comum, mas o filme consegue usá-los de maneira inteligente. Ao abusar da típica situação de trânsito intenso, por exemplo, é criada uma cena que pode se gabar por sua criatividade, que, como esperado, tem muito a ver com a qualidade em si.
Infelizmente, tudo que é construído ao longo de “The italian Job” é quase obliterado pela absurdamente infeliz decisão de estrutura do final. Não aquele final que amarra as pontas principais do enredo, e sim o epílogo que inserem junto dos créditos finais. Não só estragam o clima bacana criado pelo final, mas o fazem da pior maneira possível: montam uma série de cenas curtinhas revelando o destino de cada um dos personagens ao maior estilo Obsidian Entertainment. Se em todo o filme conseguem manter um bom equilíbrio em relação ao absurdo, nesse epílogo cruzaram essa linha numa entonação que beira o ridículo. De qualquer modo, há cenas boas em abundância o bastante para justificar uma assistida, mesmo que o desnecessário epílogo deixe o espectador com um gosto ruim no fim das contas.