“Nebraska” é um filme lançado em 2013 e foi um dos destaques no Oscar, recebendo seis indicações ao prêmio nas categorias de: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Cinematografia, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. Infelizmente o longa-metragem não ganhou em nenhuma dessas categorias, perdendo tais prêmios para “12 Anos de Escravidão“, “Clube de Compras Dallas”, “Ela” e “Gravidade”. Devo dizer que sem dúvida este é um clássico exemplo da injustiça cometida pela academia, pois esta obra mereceu muito mais carinho — e prêmios — que recebeu.
Esta obra de Alexander Payne trata de assuntos bem simples de uma maneira lógica. Na verdade, de simples eles tem apenas o caráter cotidiano; por trás de coisas banais significados maiores se escondem. Então, não, apresentá-los de maneira lógica não é redundância, toda a profundidade dá as caras de forma descomplicada pelo conjunto da obra dar conta do recado. Sendo assim, a representação de eventos tão comuns do cotidiano ao longo da história faz desse outro filme passeio, mais focado nos personagens que em reviravoltas de enredo. Talvez alguns trechos pareçam um pouco filosóficos demais, mas seria extremamente injusto com o filme tratar deles objetivamente, sem levar em conta certo nível de introspecção. Característica esta que, mesmo não abordada diretamente pelo filme, é extraída a partir dos pequenos gestos e sentimentos dos personagens.
Este é um estudo de personagem que aborda a história de Woodrow Grant (Bruce Dern), um senhor de idade com um aparente vazio existencial. As coisas mudam quando ele recebe por correio uma carta que diz que ele ganhou um milhão de dólares, encontrando nela motivo para seguir em frente. O problema é que para todos seus parentes é bem claro que a carta é mentirosa, mas Woody prefere não dar ouvidos a ninguém e exibe sua determinação quando decide ir até seu destino nem que seja a pé. Após notar que seu teimoso pai não vai ceder, David (Will Forte) decide levá-lo até seu destino, numa esperança de fazê-lo parar de encher a paciência das pessoas ao seu redor. Porém, como logo é visto, tal jornada mostra ter mais significado para ambos os personagens do que originalmente aparenta. De um lado, um velho veementemente teimoso, senil e passando pelos seus finalmentes; de outro, um filho abandonado emocionalmente por seu pai e que apenas procura por um pouco de sentido para sua medíocre vida.
Em cada cena pequena vemos os personagens se abrir aos poucos e exibir um pouco de seu eu secreto, partes de si que estão ali escondidas do exterior por eles mesmos. O velho ranzinza mostra seu lado mais sentimental, que até mesmo para seus filhos era inexistente nele; enquanto David passa a conhecer melhor quem foi seu pai realmente, principalmente através de pessoas de seu passado. Tudo isso é demonstrado sutilmente através de diálogos simples e atitudes mínimas, mas que comunicam o bastante para passar sua mensagem e enriquecer a experiência com emoções reprimidas que se expõem. Um claro exemplo de quando poucas palavras e poucas atitudes falam muito, sem dúvida este filme dá uma demonstração exímia de como transmitir conteúdo da maneira mais rudimentar e singela possível.
Sendo assim, essas atitudes pequenas demonstram a diferença que podem fazer, algo que remete um pouco ao Efeito Borboleta: uma simples ideia com uma finalidade inicialmente mínima ganha muito mais significado e impacto ao longo de conversas, de papo furado e comportamentos cotidianos. Pouco a pouco estas minúcias aumentam o conhecimento do espectador sobre a vida íntima dos personagens, da mesma forma como eles próprios conhecem mais sobre si mesmos e sobre outros à sua volta. De certa forma, é um processo que atinge tudo e todos. O que se aprende sobre uma pessoa revela aspectos da vida que, por muito tempo, passaram em branco pelos olhos de quem obteve este aprendizado. É difícil falar sobre uma obra que se baseia tanto em coisas pequenas. Por isso, peço desculpas se este texto parecer um tanto simplista e raso. Para amenizar, deixo a desculpa de que ele reflete a natureza minimalista do filme, que é definitivamente uma experiência interessante.
“Nebraska” é um longa-metragem simples sobre coisas simples, mas quando avaliado a fundo revela as inúmeras facetas escondidas sobre seus acontecimentos comuns. Uma jornada pela introspecção dos personagens, esta obra trata dos sonhos da velhice, que por algum motivo não se concretizaram na juventude e nunca morreram o bastante para serem descartados. Sem dúvidas vale a pena dar uma conferida apesar do ritmo lentíssimo, que em certas ocasiões torna a experiência um tanto maçante. De qualquer modo, é uma obra que merece mais atenção do que lhe foi dada pela Academia, que podia ter cedido pelo menos um prêmio a algo tão merecedor.