Confesso aqui o preconceito que eu tive com esse filme por um bom tempo. Sempre olhava para ele achando que era apenas mais uma ficção científica antiga um pouco acima da média, noção que só piorou após a recepção negativa do remake de 2008. Anos depois decidi dar uma chance a “The Day the Earth Stood Still” e ver do que o a obra se tratava. Surpreendentemente, gostei muito mais do filme do que achei que gostaria.
A história trata de uma nave alienígena que subitamente pousa no meio da cidade de Washington. Depois que ela causa alarde e pânico pela cidade as forças armadas posicionam-se em torno da nave, aguardando qualquer tipo de contato. Entretanto, logo no primeiro diálogo a raça humana demonstra sua agressividade característica, ferindo o emissário do espaço antes mesmo dele ter a chance de dizer qual suas intenções no planeta Terra. Assim começa uma das mais influentes obras de ficção científica da história, com direito a uma exímia atuação de Michael Rennie e críticas sociopolíticas bem fundamentadas.
Ao contrário do que normalmente se pensa quando fala em Sci-Fi, este é um filme que não envolve raças extraterrestres e batalhas espaciais, pelo contrário, o elemento humano é a parte mais explorada no filme. Não há designs extravagantes nem nada do tipo no visual de Klaatu, o protagonista em questão. Ele é exatamente igual um ser humano normal. A princípio isso foi um pouco decepcionante, especialmente quando há expectativa sobre um alienígena saindo da nave, momento no qual o personagem se revela pela primeira vez. Porém mais breve que mais tarde esse artifício é usado de maneira inteligente pela trama, sendo central para um dos aspectos mais positivos de toda a obra.
Quando se fala em pontos positivos de “The Day the Earth Stood Still”, mencionar a atuação esplêndida de Michael Rennie como Klaatu é imprescindível. Se por um lado a aparência de Klaatu é igual a de um terráqueo comum, suas atitudes e comportamentos logo exibem a diferença das duas culturas diferentes; tudo isso, sem dúvida, devido a qualidade dos diálogos e a atuação de Rennie. Atuar como um completo estranho não é uma das tarefas mais fáceis, agir como um estranho de maneira natural e até um pouco charmosa é motivo ainda maior de prestígio. A interação e aproximação entre humano e alienígena é especialmente interessante, pois ao mesmo tempo que Klaatu descobre sobre a humanidade, o próprio espectador é induzido a um processo de autoconhecimento e reflexão. O trabalho sobre valores, moralidade e até o que é considerado inerente é no mínimo fenomenal.
Há também um aspecto envolvente em cima da trama e do motivo da vinda da nave alienígena para a Terra, que tem toda uma fundamentação crítica extremamente bem colocada. O motivo pelo qual a Terra é visitada fica pendente por quase o filme todo, até que no fim ele é explicado em mais um momento forte do protagonista. Em um discurso bem elaborado é explicado o motivo da visita, introduzindo também uma argumentação sobre a natureza humana e as tensões políticas da época. O filme foi lançado em plena Guerra Fria, mas as críticas podem se aplicar a situações contemporâneas com tranquilidade. Longe de ser um filme propaganda, “The Day the Earth Stood Still” consegue se sustentar muito bem sem a mensagem anti-guerra, pois apenas os momentos finais abordam o tema mais diretamente. Eu mesmo não sabia que o longa possuía essa mensagem,e estava curtindo muito antes dela ser mencionada.
Assistindo ao longa lembrei de “Gojira” e sua temática antinuclear. Apesar de nem de longe serem parecidos, os filmes possuem essa pequena conexão semântica. Ao contrário do primeiro, “The Day the Earth Stood Still” passa uma análise mais sutil do comportamento humano. Nenhum personagem aponta e exclama o problema abertamente; a mensagem é passada em meias palavras, mas transmitida tão bem quanto a outra. O que chama a atenção não é tanto a discussão proposta sobre política, e sim sobre a natureza agressiva do ser humano. Antes de qualquer coisa, a primeira resposta da humanidade é a violência e conforme a trama prossegue essa posição só piora. Assim como em “Gojira“, as agressões são gratuitas e sem precedentes, outra vez retornando ao ponto tão discutido da violência humana.
Mais do que mostrar a insignificância do ser humano perante o universo, “The Day the Earth Stood Still” mostra também como somos falhos e longe de perfeitos como pensamos ser. No geral, é um longa-metragem bem mais completo do que esperava que fosse; não só é um Sci-Fi de qualidade, mas um que conta com atuações sólidas e uma crítica afiada. Este é o tipo de filme que não até mesmo quem não gosta muito de Ficção Científica pode curtir, uma boa história que não se sustenta em efeitos especiais e não envelheceu mal após mais de 60 anos.