“Grease: Nos Tempos da Brilhantina” é mais uma obra exibida pelo Cinemark em sua recente mostra de filmes antigos. Surpreendentemente, havia muita fila para a compra de ingressos e a sala estava completamente cheia. Para uma sessão de Quarta-Feira à noite isso é no mínimo incomum, ainda mais para um filme cuja exibição não foi tão divulgada. Com direito a rostos jovens e outros nem tanto, isso no mínimo tem muito a dizer sobre a competência deste filme como uma obra que manteve-se interessante ao longo dos anos. Além de um base de fãs fiel após tantos anos, o longa mostra que não vive de mera nostalgia por ser um dos grandes papéis de John Travolta nos Anos 70, ele é realmente um musical de muita competência. Simples e eficiente.
Os últimos dias de verão são difíceis. É preciso dar adeus a toda a diversão de não ter nada para fazer o dia todo, abandonar os famosos romances de férias para abraçar a rotina de voltar à escola e aturar a chatice diária de estudar. Para Danny Zuko (John Travolta), é ainda mais difícil porque ele conheceu a garota de seus sonhos, Sandy (Olivia Newton-John). O problema é que ela tem de voltar para a Austrália em breve e eles nunca mais se verão, exceto por um detalhe: ela acaba ficando e passa a estudar na mesma escola de Danny. Eles se reencontram e o rapaz mostra que não é o mesmo, tentando fazer pose de durão na frente dos amigos para não parecer frouxo. Conforme o ano passa, os dois tentam se reconectar como naquele fim de verão na praia.
Adaptação de um musical de sucesso da Broadway, “Grease” permanece até hoje como o musical de maior êxito comercial de todos os tempos. O filme acompanha as vidas de um grupo de adolescentes estereotipados da Califórnia dos anos 50: há a dupla de com olhos para carros, garotas, couro, e cabelos penteados; os amigos da dupla, sempre contentes em segui-los por aí; a menina durona que não liga para os padrões da sociedade; a moça que mais sonha do que vive; e, por fim, a linda, inocente e ingênua garota que conecta os hormônios do protagonista na rede de alta tensão. Ingredientes relativamente estereotipados, sim, e também usados de forma funcional e competente, diferente da maioria das vezes em que o clichê é sinônimo de preguiça criativa.
No geral, tudo parece muito um álbum dos “Beach Boys” em versão cinematográfica. Todos os temas abordados pela sua música dos anos 1960 estão no pacote: os efêmeros amores adolescentes, que começam no verão e terminam na volta às aulas; a fixação por carros, corridas, modificações e ostentação alheia; a eterna paixão pela garota dos sonhos; a preocupação com o topete e a jaqueta pomposa acima de qualquer coisa; e vários outros sonhos e desejos que fazem dessa fase tão excitante. A banda criou na cultura musical algo que viria a ser conhecido como o espírito Califórnia e, para bem e para mal, ficou eternamente conhecida por isso, a despeito de uma parte considerável de sua carreira transcender o assunto. “Grease” poderia ser tido como o equivalente cinematográfico desse mesmo espírito, fazendo tão bem narrativamente com seus personagens icônicos e números marcantes o que a banda fez com sua música.
Felizmente, “Grease” falha em manter o espectador preso ao assento, uma vez que o clima eufórico, com seus ritmos enérgicos e músicas animadas, forçam pernas e braços a se movimentar ao passo da batida animada. Momentos naturalmente tranquilos são romantizados e os mais excêntricos são exagerados, transformando qualquer tipo de situação em algo extraordinariamente dinâmico. Não só as melodias são clássicos automáticos, como toda sua extravagância parece reconhecer que este longa estava destinado a entrar pra história. E de fato isso aconteceu. Independentemente da data nascimento do espectador, este musical representa muito bem o que se passa na cabeça dos adolescentes dessa fase ao redor do mundo, especialmente naquela época e naquele lugar. A moda pode ser passar do skate ao longboard ou do roller ao surfe, mas a ansiedade de uma vida inteira pela frente, de experiências novas e imprevisíveis sempre permanece.
Apresentando seus personagens de maneira descompromissada, “Grease” tem destaque por seus personagens não parecerem pretensiosos, ou seja, não tentam ser mais do que são realmente. Mesmo com sua unidimensionalidade, o filme faz bom uso dessas caracterização simples ao encaixar diversas cenas de humor entre as sequências musicais e até durante elas. Cada personagem ostenta uma qualidade proeminente e caricata dos adolescentes de ontem e hoje, representando o universo variado e excêntrico da adolescência de maneira fielmente bem-humorada. Maneirismos mudam, roupas de couro são substituídas e os topetes brilhantes dão lugar a novos cortes, mas algumas coisas simplesmente não mudam. Que atire a primeira pedra aquele que nunca babou semanas e até meses por aquela garota, aquela que te dava a certeza do mundo que você casaria sem pestanejar, e que mais tarde mostrou que a história não era bem essa. Tudo isso e mais um pouco se encontra aqui.
“Grease: Nos Tempos da Brilhantina” é outro filme que exalta as qualidades do estilo de vida Califórnia: carrões, raios de sol, areia quente, garotas estonteantes, dança, lanchonetes lotadas, música e todo o romance que vem com o pacote. Começando com as expectativas e sonhos quentes de um amor de verão, o filme fecha o ciclo com as expectativas para o depois da escola. Por mais clichê e simplória que possa parecer, a história consegue representar a experiência essencial de passar por essa fase única da vida. Fazer isso mantendo os ânimos sempre em alta e com canções impossíveis de esquecer apenas torna tudo muito mais memorável.