Muito foi dito sobre “Don’t Worry Darling”. Ou talvez minha ex-namorada tenha ficado muito empolgada pelo filme e falado tanto sobre ele que acabei pensando nele mais do que pensaria normalmente. Faz sentido, já que ela é uma grande fã de Harry Styles e vivia antenada em tudo sobre ele. Para ser justo, recentemente alguns boatos sobre os bastidores viraram assunto nas redes sociais, principalmente os TikToks de fofoca, que falavam sobre rivalidades e atritos na produção envolvendo a substituição de Shia LaBeouf, sua possível demissão e até Styles indo até Veneza para cuspir na perna de Chris Pine. Pois é, a internet fez sua parte em criar teorias mirabolantes. Como esperado.
A história se passa nos Anos 50, em uma comunidade isolada da sociedade em que algumas famílias vivem nos arredores de uma empresa misteriosa, mas que também possibilitou aquele ambiente agradável para todos. A vida é calma, feliz, previsível e colorida, tão certinha que não há do que reclamar. Os maridos chegam em casa para encontrar suas esposas lindas como no ápice de sua juventude, sem um cabelo fora do lugar e com o jantar quente esperando por ele, como uma recepção dos sonhos. Já as esposas estão mais do que felizes com seu papel de serem felizes em suas vidas caseiras. No entanto, algumas coisas parecem perfeitas demais para serem verdade e Alice Chambers (Florence Pugh) percebe isso, e desconfiança é algo que a empresa não aceita muito bem.
Queria ter gostado mais desse filme. É chato ouvir muito sobre alguma coisa e se decepcionar ao encontrar algo que não corresponde toda a atenção que estava recebendo. Claro que isso é sempre relativo, mas em todo caso é ruim esperar certo nível de competência e encontrar algo abaixo disso; ainda pior nos casos em que não se espera uma obra-prima, apenas algo meramente decente, e nem isso se acha. “Don’t Worry Darling” foi uma das experiências mais mornas e de baixo impacto que tive nos últimos tempos com cinema. Chegou ao nível dos roncos na sessão de imprensa serem audíveis de longe, coisa que eu nunca tinha presenciado até então, a não ser que fosse eu o sonolento. Novamente, não é parâmetro para nada, mas foi uma situação única e engraçada de qualquer forma.
Eu mesmo cheguei a dar uma piscada das mais longas e tive que recorrer ao famoso beliscão no braço para me manter acordado. Em vários momentos, “Don’t Worry Darling” não conseguia se manter interessante o bastante para me manter vidrado em seus eventos. O que ele apresenta de início é um clássico cenário dos Estados Unidos pós-guerra, em que reinava um otimismo a respeito do futuro com a recente vitória na guerra liderando os americanos em um renovado Estilo de Vida Americano. Além da necessidade de se convencer que as coisas estavam melhores do que estavam de fato, esquecendo os muitos jovens mortos ou mutilados nos últimos anos em prol de impulsionar uma nova geração, fazia toda a diferença manter uma imagem limpa, moral, estética e perfeita aos olhos do mundo, visto que havia uma guerra ideológica acontecendo com a União Soviética. Pois bem, é dessas raízes que o enredo floresce.
E a recriação desse ar polido demais, limpo demais, perfeito demais, é incrível. O design de produção e todo o departamento artístico, incluindo a direção de fotografia, merecem todo o aplauso em sua recriação de um cenário que de fato não parece ter uma folha de árvore no asfalto ou uma grama mal cortada. Tudo é colorido e bonito, os carros saíram direto de um polimento e ninguém acordou atrasado e ficou sem tempo de arrumar o cabelo e fazer a barba. Tudo está no lugar onde deveria, até demais talvez. Isso impressiona inicialmente e funciona dentro da proposta de apresentar algo perfeito em um nível incômodo, tanto êxtase que acaba transbordando em sexo oral e carros saindo da garagem em sincronia. Isso não dura, é claro, e logo “Don’t Worry Darling” se vê na necessidade de avançar sua trama relativamente conspiratória para fazer jus ao gênero Suspense que ostenta.
É nesse meio do caminho que as coisas desandam. Assim que passa o impacto inicial causado pela estética geral de “Don’t Worry Darling”, começam a surgir as pistas de que há algo sob a superfície a ser descoberto pela protagonista. Mas o que seria? É claro que ela, em um momento não muito original de pílula vermelha, percebe que as aparências talvez estejam enganando. É como em “Matrix“, “Vanilla Sky” ou mais recentemente em “WandaVision”: a perfeição excessiva desperta a desconfiança. Não é o conceito mais original de todos, claro, isso incomoda bem menos do que a eventual conclusão de todo esse suposto grande mistério. Aliás, fica ainda mais feio quando o filme parece estar tentando forçar um sentimento de evento épico ou tenso sem de fato estar atingindo isso. A relação de Florence Pugh e Harry Styles representa fielmente o desequilíbrio encontrado aqui, com a primeira parte entregando bem mais de si do que o roteiro exige e fazendo a segunda parecer insuficiente perto dela. Fica bem clara a diferença entre atores quando os dois contracenam, é um desbalanço que desfavorece Styles, infelizmente para ele e para o filme.
Não sei que tipo de relação grande parte do público terá com “Don’t Worry Darling”, considerando toda a constelação de fofocas e os grandes nomes envolvidos. Imagino que muitos venham só pelas estrelas, talvez pela superficialidade de ver Harry Styles se amassando com Florence Pugh, o músico e a atriz em alta juntos no mesmo trabalho, ou até para ver o resultado do trabalho do casal Harry Styles e Olivia Wilde. Isso não importa, contanto que o julgamento sobre a obra seja justo e não tenha nada a ver com fatores externos não relacionados com o conteúdo. Quanto a isso, também não culpo quem ache o filme bem menos fantástico do que as histórias absurdas rondeando ele. Para tanta comoção, queria poder dizer que está à altura de sua recente popularidade na internet. Não há muito para encontrar aqui além de uma estética acertada, algumas boas idéias e um tanto menos de consistência na execução, no roteiro e nas atuações.