Qualquer pessoa sensata que tenha assistido ao detestável “Suicide Squad” deve ter ponderado sobre o que diabos alguém teria na cabeça para querer repetir a idéia. E, bem, assim foi feito com “Birds of Prey“, que não deixa de ser uma reciclagem do conceito de unir vilões, anti-heróis e gente estranha para lutar contra o crime. Só os detalhes mudam, mas esse último não deixa de parecer uma continuação com Arlequina formalmente no posto de protagonista em vez de ser destaque involuntário antes. O resultado foi um pouco melhor, nada de mais. Trabalhar o mesmo conceito pela terceira vez, dessa vez usando exatamente a mesma idéia do primeiro e o mesmo título se não fosse um artigo, aí sim é de se questionar o que está acontecendo na Warner Bros. Pelo menos finalmente o acerto vem na terceira tentativa: “The Suicide Squad” é o que todos queriam, esperavam e que foi prometido em 2016.
O esquema é o mesmo: Amanda Waller (Viola Davis) opera uma divisão secreta do governo que recruta criminosos direto da cadeia e tira 10 anos de suas penas por missão completa. Se eles sobreviverem, é claro. Caso morram, que pena para eles. Isso é recapitulado nos 10 segundos iniciais e a missão logo começa. Dessa vez, Waller precisa montar uma equipe nova para invadir a ilha soberana de Corto Maltese, que teve seu governo recentemente derrubado por um golpe militar, e destruir um centro de pesquisas confidenciais.
Estou impressionado com quão bom esse filme é. Como dito, achei que investir pela terceira vez na mesma coisa seria bem idiota depois de um fracasso feio como o primeiro e um resultado morno como o segundo. De todas as possibilidades, por que investir na porcaria do Esquadrão Sucida em vez de fazer logo um filme do Lanterna Verde, do Flash ou dos Jovens Titãs? Como bem se sabe, a Warner não tem o mesmo nível de organização que o a Disney com o Universo Marvel, então não é de se esperar muito sentido nas decisões. Bem, a falta de sentido se encontra também na qualidade vista em “The Suicide Squad”. Tudo bem que a direção de James Gunn foi um bom sinal e a liberdade total dada pela Warner foi outro, mas também se sabe que ninguém faz milagres ou é passível de erros. Não é difícil imaginar algo dando errado depois de duas tentativas.
Mas não dá errado. Dá tudo, absolutamente tudo, certo. É até estranho falar isso porque de fato não consigo pensar em nenhum problema gritante, algo que me faça gostar menos da obra nem que seja apenas um pouco. Ela é perfeita, imaculada, então? Não é uma nota 10, se é essa a preocupação, mas uma alta o bastante para ter chegado lá por seus méritos exclusivamente. Não posso dizer que ela seria maior se não fosse algum deslize. “The Suicide Squad” é o que o original deveria ter sido na época: engraçado, ousado, violento e com uma história que faça o espectador se engajar e se importar pelo menos um pouco pelos personagens e pelo que acontece. Antes era uma equipe de vilões insípida com pequenos destaque no Deadshot de Will Smith e na Arlequina de Margot Robbie, essa última que retorna aqui para uma terceira rodada e continua tão fantabulosa quanto antes, só que com um papel não tão grande quanto em “Birds of Prey” e só um pouco menos que em “Suicide Squad“. A evolução é ver que a equipe inteira é interessante de sua forma aqui, sem exceção.
Por quê? Eles são a pior equipe possível. Certo, talvez não a pior das piores, mas é só olhar para a imagem acima e ver quanto respeito e firmeza são passados. O mais aceitável é um soldado que consegue transformar qualquer objeto em arma e tem uma mira perfeita, quase uma versão do Mercenário da DC. O resto envolve um tipo de brutamontes com um antiquado uniforme apertado em cores saturadas e um capacete cromado estranho, uma menina controla ratos com um controle remoto estranho, um tubarão antropomorfo que fala como Sylvester Stallone e um cara de collant branco com bolinhas coloridas que veste muito mal. Nem no figurino eles acertam e essa é a idéia desde o começo. Essa não é a Liga da Justiça, James Gunn quer ressaltar como esses caras foram arrancados da cadeia e são um tipo de improviso tosco para uma equipe. O lado bom é que “The Suicide Squad” não se importa mais.
Nem a Warner se importava mais. O estúdio queria colocar o diretor em uma produção do Superman antes de ele acabar em “The Suicide Squad”, então, de acordo com um dos membros do elenco, Gunn pôde fazer o que diabos ele queria com o filme. E ele fez. Por sorte e pela graça do universo, ele fez. Esquecendo a premissa que não mudou, o roteiro melhora significativamente. O começo econômico do que é o tal Esquadrão Suicida logo é seguida por uma apresentação apropriada dos personagens sem texto animado na tela e ficha informativa. A missão vem logo no próximo corte e o espectador já sabe o que está vendo. Ou melhor, acha que sabe, pois na verdade assiste a uma espetacular forma de começar um filme. E o sucesso da introdução perdura pelo resto do tempo em uma progressão dinâmica de idas e voltas e algumas boas reviravoltas, surpreendendo um espectador que passou o tempo todo achando aquilo muito bom para ser verdade e quase esperava por alguma besteira descomunal para derrubar a seqüência de sucessos.
O que se espera numa história do Esquadrão Suicida não é algo espetacular ou profundo. A idéia de usar vilões numa equipe, além do benefício inato de serem vários seres poderosos unidos, é que eles não possuem as mesmas restrições de heróis. Sem código moral, eles podem usar armas de fogo, cortar gente no meio e pintar o cenário de sangue sem problema. Não sei se a intenção em 2016 foi tentar fazer os vilões parecerem mais simpáticos e dar o escudo do roteiro para que pudessem ser usados em outras continuações. “The Suicide Squad” não se importa com isso. Os vilões matam muita gente. É até difícil lembrar de todos porque é tão comum, quase uma constante que alguém vai acabar numa poça de sangue a cada punhado de minutos. Nada chocante, um misto de Quentin Tarantino com Shane Black e talvez até um pouco de Mortal Kombat: explícito, sempre presente, exagerado e com um toque cômico que não deixa tudo ficar muito sério. E isso é muito importante. O choque de antes de encontrar um tom austero um filme que tinha se promovido como descolado, animado e enérgico não existe mais. Todo o humor que James Gunn trouxe em “Guardians the Galaxy” retorna em até melhor forma, já que agora não há mais nenhum tipo de limitação no tipo de piada. Humor negro em seu ápice, nada que a Disney aceitaria algum dia.