“The Dirty Dozen” é normalmente considerado a maior conquista de Robert Aldrich. Depois de reviver as carreiras de Bette Davis e Joan Crawford com “Whatever Happened to Baby Jane“? e de fazer algo similar com “Hush… Hush, Sweet Charlotte”, o diretor finalmente chega na Segunda Guerra Mundial com uma história fora dos cenários comuns da invasão à Normandia, Berlim, campos abertos e artilharia à vista. É centrando a história em desajustados, delinqüentes e criminosos propriamente ditos que esta obra também quebra certas convenções de seu tempo. Mas de que isso vale hoje? Existem exemplos aos montes de histórias sobre gente de moralidade dúbia, poucos bons. Este filme, embora esteja um pouco abaixo de sua grande reputação, é merecidamente lembrado por vários méritos de sua execução.
O Major Reisman (Lee Marvin) sofre sendo alvo constante de seus colegas de profissão. A maioria desgosta de sua insubordinação e de ele não ter problema em quebrar ou dobrar as regras de vez em quando. A maioria daqueles que regozijam ao escutar uma ordem vida de cima considera Reisman a escória dos militares e isso finalmente começa a atrapalhar o homem. Sua reputação traz à sua porta uma missão de caráter secreto, inexistente para os não diretamente envolvidos. O Major fica responsável por doze soldados condenados por crimes de guerra e deve treiná-los, discipliná-los e se juntar a eles numa missão de assassinato de um grupo de oficiais nazistas. O perigo é alto, mas pode ser a única chance dos condenados de não cumprir suas penas se tudo der certo.
A construção do roteiro é bastante simples. Chega a parecer besta quando esmiuçada porque são etapas claramente definidas sem muita maquiagem escondendo a passagem de uma para a próxima. Assim, já se pode concluir de início que “The Dirty Dozen” não embasa seu entretenimento na surpresa. O plano é apresentado já nas primeiras cenas quando o General Worden (Ernest Borgnine) dá as ordens para Reisman e lhe diz exatamente o que fazer. E é isso que acontece, basicamente. O primeiro passo é recrutar os homens, conhecer cada um deles e suas características distintivas; o segundo envolve dar-lhes a disciplina e treinamento necessários para cumprir ordens, trabalhar em equipe e lutar como soldados em prima forma; o terceiro é cumprir a missão exatamente como planejado ou, no mínimo, tentar.
A primeira parte pode parecer boba e, sim, há mais de uma cena apresentando cada um dos prisioneiros um a um e especificando qual a pena, além de aprofundar um pouco mais no que levou alguns a serem presos pela polícia do exército. É relativamente óbvio pensar que algo do gênero existiria porque é um princípio de desenvolvimento de personagem, uma caracterização inicial que dá rosto e nome para cada um dos doze membros do esquadrão. Ao mesmo tempo que pode soar irrelevante porque a audiência dificilmente se lembraria de todos os doze e se prenderia a poucos deles, acontece diferente. “The Dirty Dozen” subverte essa expectativa ao fazer o espectador se lembrar da maior parte dos soldados, nem que seja por uma característica pontual ou pelo ator no papel. Este último caso ajuda muito, por sinal, pois o suposto elenco coadjuvante é repleto de rostos conhecidos.
É fácil reconhecer alguns de cara. Ernest Borgnine como o General que dá as ordens para o protagonista de Lee Marvin; Charles Bronson, Telly Savalas, Donald Sutherland e John Cassavetes entre os mais populares dos membros do esquadrão. Se isso não servir como algo marcante, sempre há outra coisa, como Jim Brown ser alguém condenado por revidar ataques racistas e Clint Walker ser o grandão do grupo. Nada que soe como um motivo concreto para valorizar um personagem, mesmo assim. “The Dirty Dozen”, como se reconhecesse isso, busca tornar relevante a participação destes coadjuvantes em pelo menos um momento da história, que dispõe de 150 minutos para preencher o esquema relativamente simples da trama. Há muita coisa entre as ordens dadas e a eventual execução da missão, algo que poderia parecer o longo trecho entre o começo e o fim em que não acontece nada muito interessante. Certamente não é.
O personagem de Donald Sutherland é um bom exemplo do bom uso que o roteiro faz até mesmo dos mais secundários. Hoje é fácil reconhecer o ator por conta de todo seu trabalho em filme como “MASH” e “Ordinary People“, mas “The Dirty Dozen” veio antes da fama, então o público da época apenas via um ator interpretando um soldado bobão. Eventualmente chega a vez de ele participar um pouco mais ativamente da história em certo ponto do treinamento do esquadrão, onde uma excelente cena de caráter cômico se desenrola e nasce um motivo para lembrar do personagem. Mesmo assim, nem estas participações legais roubam a cena de Lee Marvin, ainda podendo ser chamado de protagonista a despeito do elenco extenso. Isso se dá não só porque ele é o líder da missão, mas porque sua interpretação sempre se faz notar positivamente. É difícil imaginar uma melhor escolha quando o ator demonstra exatamente as qualidades necessárias para que seu personagem seja convincente. Não apenas confiança crua mas também uma aliada à rebeldia. Reisman quebra algumas regras e não teme bater cabeças com os outros, mas só porque tem todas as palavras selecionadas com cuidado para responder aqueles que o atormentam, continuando inabalável em sua posição.
Curiosamente, aquilo que poderia ser chamado de parte chata de “The Dirty Dozen” consegue ser ainda melhor do que a missão propriamente dita. Podem perguntar quem gostaria de ver soldados em treinamento e achar isso melhor do que a ação, porém é só olhar “Full Metal Jacket” para ter uma resposta. Pouco importa ver os soldados entrando em forma porque a intenção das seqüências não é o mesmo dos treinamentos de Rocky Balboa, por exemplo, eles mais buscam trabalhar o extenso rol de personagens. Exceto pela trilha sonora, que às vezes soa muito alegre e animada do que o tom de certas cenas e, assim, deixa o filme incompativelmente mais leve, não há motivo para reclamar do que vem antes da missão. Esta, por sua vez, sofre ocasionalmente com a presença de alguns clichês de época do gênero Ação: inimigos se jogando de janelas de vidro depois de tomar um tiro, darem piruetas caindo do telhado, cenas de morte exageradas, tiroteios simplificados e conveniências ocasionais. Não chega a estragar nada, apenas incomoda um pouco por ser bastante ultrapassado.
Talvez este seja mesmo o melhor filme da carreira de Robert Aldrich, mas sinceramente espero que não. “The Dirty Dozen” é bom e demonstra várias razões para continuar sendo lembrado ao longo dos anos, incluindo algumas regras da época a respeito de soldados americanos cometendo crimes de guerra voluntariamente. É irônico até, pois é uma representação polêmica por mostrar o exército cometendo atos imorais sem que haja um olhar reprovador opinando diretamente sobre esses atos, uma inferência do diretor ou do roteiro. Quanto a esperar que este não seja o melhor de Aldrich, é apenas uma questão de ver que ainda há espaço para melhora, o que talvez se encontre em outros filmes.