Hoje em dia se fala tão pouco de “Iron Man 2” que poderia ser considerado o filme mais esquecido do Universo Cinematográfico Marvel. Ele gerou um burburinho na época por ser a continuação do bem-sucedido “Iron Man” e não mais do que isso, pois mal se pensava em construção de universo como atualmente, na introdução de personagens, objetos e eventos com impacto direto no enredo de produções ainda longe de verem a luz do dia. Curiosamente, foi justamente o mais insosso da primeira fase que começou essa idéia de fato, fazendo inclusive uma das pontes com ligações mais notáveis de todo o Universo. Uma pena todo o resto ser tão sem graça.
A história continua seis meses após Tony Stark (Robert Downey Jr.) revelar numa coletiva de imprensa que é o Homem de Ferro. As consequências desse ato se mostram principalmente na pressão do governo pelo compartilhamento da tecnologia da armadura, alegando que ela traria significativas mudanças para a manutenção da ordem global. O discurso é esse, mas nem todos os membros da oposição de Stark têm objetivos nobres em mente. Justin Hammer (Sam Rockwell), o principal concorrente das Indústrias Stark no mercado bélico, busca uma armadura a qualquer custo principalmente por questões de ego, enquanto uma parte antiga e esquecida do passado volta para se fazer lembrada: Ivan Vanko (Mickey Rourke), alguém que domina a tecnologia para se tornar o vilão Whiplash e se vingar de Stark.
Chega a ser difícil falar sobre a premissa de “Iron Man 2” porque não há muito a ser dito. Ou melhor, o pouco que existe dá uma idéia de quão fraca é a base de uma história afligida pelo clássico mal das continuações de cinema: mais simples, menos inspirado e de menor sucesso. Colocar mais informações seria revelar detalhes sobre a personalidade dos personagens, sobre motivação dos vilões e talvez até mesmo o resultado de tudo, embora este último detalhe seja previsível o bastante para qualquer pessoa que já tenha visto um filme de super-herói antes — ou a maior parte dos blockbusters no mercado. São poucos fatores envolvidos na construção do enredo e isso se mostra bem claramente na barriga imensa no corpo da obra. Se existe um bom exemplo de como um roteiro pode esquecer que há algo entre um final explosivo e um começo eletrizante, este é um deles.
Quando as sementes são ruins, dificilmente algo bom surgirá delas. O que esperar quando a história levanta vários pontos de relevância questionável e sequer os desenvolve? Nada impressionante, com certeza. Primeiramente, a questão do Homem de Ferro se tornar uma tecnologia do governo. De todas as implicações políticas possíveis da existência de um super-herói, um indivíduo amplamente mais capacitado que qualquer ser humano comum — como os eventos de “Guerra Civil” nos quadrinhos ilustram — foi-se escolher logo uma questão de outras instituições tentando recriar a armadura. Não que tal embate entre Stark e o governo sobre o assunto seja incoerente, mas não é o assunto mais interessante de todos, menos ainda quando ele se traduz na figura de dois vilões fraquíssimos.
O primeiro deles é Justin Hammer, um invejoso querendo ser igual a Stark mais do que tudo. É a típica rivalidade unilateral, com apenas um dos lados competindo enquanto o outro sequer considera o primeiro um concorrente de fato. O fato da interpretação de Sam Rockwell colocar o personagem como alguém chato e sem graça só piora a criação de qualquer tipo de interesse por ele. Nada do que ele fala parece ter peso de qualquer tipo: nem raiva, nem graça, nem desdém, nada. A única coisa que falta é o personagem rir de si mesmo ou, pensando bem, isso até seria um traço melhor do que ele apenas agir como um pateta. O segundo vilão, bem, é apenas mais um caso de vingança porque sim e uma caracterização detalhada sem desenvolvimento algum de personalidade. É o inventor russo de sotaque forte, vingativo, cheio de tatuagens, um palito de dente na boca e chicotes de energia.
O vazio de conteúdo é facilmente notável quando se pensa na obra em retrocesso. E não é por falta de tentar abordar coisas diferentes, e sim por não levar nenhuma adiante o bastante. O que o roteiro faz é um malabarismo entre os vários pontos narrativos para tentar manter o interesse e é isso que ele consegue fazer. Não quer dizer que é uma técnica boa ou recomendável, pois o máximo que ela consegue é trocar de assunto vezes o bastante para manter a atenção renovada. Em meio a este revezamento, alguns momentos bons dão as caras entre diversos outros de impacto desprezível: as cenas de ação concentradas nas partes inicial e final e a comentada ponte para o futuro do Universo Marvel. A apresentação de Nick Fury e Natasha Romanoff foi inusitada para a época e ainda hoje se mostra como alguns dos bons momentos da obra.
Existem vários problemas em “Iron Man 2”, o maior deles sendo sua superficialidade no tratamento da maioria dos assuntos que tenta abordar. Um vilão é bobo e o outro está apenas muito bravo, o atrito entre Stark e Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) tem de pouca a nenhuma atenção, assim como o problema de ego dele resulta em apenas uma cena relevante em 125 minutos. Daria para facilmente centrar uma história inteira neste último aspecto, por exemplo, considerando como Robert Downey Jr. se mostrou uma escolha tão certeira para o papel de um herói de grandes capacidades e uma opinião ainda maior sobre si. O que se encontra é apenas uma pincelada em cada um desses assuntos, algumas melhores que outras e a impressão de que a maior parte de “Iron Man 2” é gasta com nada em particular.