É impressionante que “Halloween” preste. Não nego que a expectativa era de mais uma continuação ruim porque boa parte delas deixa muito a desejar em comparação com o original. Há menos consistência do que em “Sexta-Feira 13” e “A Hora do Pesadelo”; ou talvez mais por conta do fracasso ser a constante. Até mesmo a cronologia é uma bagunça, pois existem quatro delas atualmente. Uma composta pelo primeiro, segundo, quarto, quinto e sexto filme; outra pelo primeiro, segundo, “H20” e “Resurrection”; mais uma pelo remake de Rob Zombie e sua continuação; e esta, que ignora todos os outros além do original. Definitivamente não se soube renovar e desenvolver o conceito original de John Carpenter ao longo dos anos, mas isso muda aqui.
Em 1978, Michael Myers (Nick Castle) foge de um sanatório e volta para sua cidade natal em Haddonfield, Illinois, para começar uma onda de assassinatos em plena noite de Halloween. Apenas Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) sobrevive, mas não sem seqüelas. Sua vida se torna paranóia e estresse pós-traumático, o que a leva a criar sua família sob o medo do retorno do assassino para terminar o que começou. É justamente isso que acontece quando Michael Myers escapa de sua prisão durante uma transferência. Ele retorna para matar novamente na noite de 31 de outubro, 40 anos após o primeiro ataque.
“Halloween” poderia muito bem se chamar “H40: 40 Years Later” e estaria totalmente certo. Assim como sua contraparte de 1998, “H20: 20 Years Later”, esta é uma continuação que ignora várias outras a fim de tratá-las como um erro e voltar para as origens. Essencialmente, o resultado é o que se espera da série, com um assassino a solta somando vítimas até chegar nas pessoas que realmente interessam: Laurie Strode e sua família. Algumas mudanças pequenas aqui e ali fazem com que a história não seja a mesma em ambos fórmula e detalhes, como mudar pormenores específicos entre Michael e Laurie e chamar o psiquiatra de “novo Loomis”, mas nada que faça o conjunto da obra ser uma renovação de franquia ou algo do tipo. Há muito conteúdo familiar aqui e a intenção é justamente essa.
As obras são diferentes, porém ao fim de “Halloween” não consegui evitar pensar em “Pânico 4”. Ambas não tentam ser muito distantes daquilo que foi feito no passado, sem querer inovar e reintroduzir a série para novos fãs. A novidade vem na forma de uma maturidade que apenas um tempo na geladeira poderia trazer, alguns anos para repensar o que funcionou bem no passado e o que levou ao fracasso. Dito isso, “Halloween” é um slasher padrão na maior parte do tempo, só que bem executado. Aparentemente, basta criar um elenco de personagens de importância secundária para fornecer contexto e continuidade, matá-los aos poucos até que sobre apenas um e a perseguição se torne mais intensa do que qualquer outra. A fórmula parecer simples nunca impediu vários resultados horríveis ao longo dos anos, portanto é de se comemorar que o resultado aqui seja agradável.
Parte das pequenas mudanças pretendidas como novidades provém do fato que toda a mitologia questionável de Michael Myers deixa de existir completamente. Isso quer dizer que não há mais um culto de druidas responsável pela maldição que dá imortalidade e a necessidade de matar constantemente a Michael. Nada de explicações bizarras e relações de anos e anos entre personagens para tentar manter o interesse do público em mais uma continuação pouco inspirada; ou Donald Pleasence com 75 anos tentando derrotar um assassino de poderes sobrenaturais. “Halloween” é mais simples, um retorno às origens sem necessariamente recontar todo o passado do vilão como o remake de Rob Zombie; trata-se de origens conceituais, não literais. Assim, nota-se algo que boa parte das séries grandes, como “007” e “Star Wars”, já fez em algum momento, especialmente quando as coisas saem do trilho demais e se distanciam muito daquilo que funcionou inicialmente.
Isso se traduz em uma experiência slasher clássica e, melhor de tudo, bem realizada. Depois de quase 10 anos desde o último filme, outro item da coleção de desastres da série, “Halloween” traz de volta a mistura entre Suspense e Terror que funcionara tão bem antes. Por um lado, é excelente que tenham voltado a dar atenção ao lado criativo das mortes. Várias delas resgatam a simplicidade brutal dos melhores momentos de Michael Myers, quando ele aproveita seu tamanho e poder para bater pessoas contra objetos, arremessar contra paredes e arrebentar antes de finalizar com uma facada de cozinha no meio do peito. Outras, em contrapartida, estão mais para o lado inovador de tirar uma vida. Prefiro me limitar a dizer que não há uma morte sequer que seja sem graça. Exemplificar estraga as mortes diferentes entre estrangulamentos e gargantas cortadas.
Também é mais do que isso. É mais do que escolher um objeto peculiar para matar uma pessoa e arranjar outra forma igualmente peculiar de usar o cadáver como decoração do ambiente para assustar os sobreviventes, muito mais do que levar a contagem de corpos às alturas. “Halloween” investe na tensão de um conflito crescente desde os primeiros momentos. Laurie Strode está afetada pelos eventos do passado, louca e desequilibrada e abraçando um papel exageradamente cômico de alguém preparada para a batalha final sendo que ninguém está exatamente preocupado. Então o problema finalmente se apresenta e fica tarde demais para se preparar adequadamente. De garota final a um tipo de Crazy Ralph que anda armado pela cidade, é essa a mudança que mostra presença, embora não seja novidade Jamie Lee Curtis ocupar um lugar de destaque na série.
Há pouco para reclamar aqui. Poucos momentos fracos além da atuação de Judy Greer, que perde o controle sobre sua personagem em momentos de maior emoção e rompe o fino véu da credibilidade. Tirando isso, nada de grave vem à mente. Vale dizer também que, a despeito de fazer tudo certinho, ainda falta aquele algo a mais. No que se trata de criar uma experiência competente, é isso que “Halloween” faz. E só. Ainda resta uma impressão de que apenas se tentou reproduzir uma fórmula clássica do jeito correto, sem nenhum momento extraordinário ou pontos altíssimos elevando o filme a algo mais que um produto sólido.