Se alguém me perguntasse uns 4 ou 5 anos atrás sobre uma possível continuação da série “Jurassic Park”, provavelmente diria que não é uma idéia muito boa. Considerando o impacto mais modesto das duas continuações e do tipo de blockbuster que enchia as salas em 2014-2015, super-heróis e super-heróis, não colocaria minha mão no fogo e muito menos alguns milhões de dólares na proposta. Mas “Jurassic World” chegou com tudo e emplacou uma das maiores bilheterias de todos os tempos, mostrando que dinossauros ainda empolgam as pessoas. Logicamente, não demorou para anunciarem uma continuação para tentar repetir o investimento ridiculamente lucrativo. Eis que nasceu “Jurassic World: Fallen Kingdom”.
Quatro anos se passaram desde que o parque dos dinossauros foi reaberto para milhares de turistas terem a chance de ver gigantescas criaturas ressuscitadas com ajuda da genética. Quatro anos depois que estes mesmos répteis gigantes mataram incontáveis pessoas quando o Indominus Rex fugiu de cativeiro e instaurou o caos dentro do parque. Owen (Chris Pratt) e Claire (Bryce Dallas-Howard) seguiram suas vidas, mas se reencontram quando o vulcão da Ilha Nublar voltou à atividade ameaçando extinguir todos os animais do lugar. Uma força-tarefa especial é montada para transportar os animais para outro lugar, porém más intenções arriscam colocar as pessoas em risco novamente.
Por um momento achei que “Jurassic World: Fallen Kingdom” fosse seguir os exatos passos de “The Lost World: Jurassic Park“, no estilo da recente trilogia Star Wars. Evitando trailers ao máximo, só tive contato com trechos limitados do filme. A erupção do vulcão, o resgate dos animais, gente mal-intencionada, crianças e dinossauros soltos em algo que parecia uma cidade. Só faltava voadora em Velociraptor para o pacote estar completo. Felizmente, não se seguiu o caminho da falha continuação do clássico de Steven Spielberg nem de perto. Nunca diria que esta continuação é devagar, estúpida e apenas uma sombra de seu predecessor direto. Ao menos a mudança aqui é para melhor, sem perder tempo com saudosismo gratuito ou com mera reciclagem do que se viu em 2015. Pode não ser a proposta mais original de todos os tempos, mas é mais que o bastante para um filme de ação competente do início ao fim.
Por exemplo, é fácil notar que alguns conceitos são reciclados descaradamente. Novos dinossauros foram introduzidos para substituir o Tiranossauro Rex como antagonista desde “Jurassic Park III“, no qual o Espinossauro cumpre o papel. “Jurassic World: Fallen Kingdom” é ainda menos original porque basicamente traz outra nova espécie de dinossauro criada geneticamente a fim de formular o predador perfeito. Ao menos não se copiou o design do Indominus Rex, mas ainda assim há uma apresentaçãozinha dramática da criatura e seu nome quase científico. O mesmo acontece com o arco entre Claire e Owen, que repete quase ao pé da letra a dinâmica de casal separado que se encontra depois de muito tempo. Por sorte, não diria que isso incomoda muito. Embora tais elementos estejam ali e devam ser considerados, eles nem de longe incomodam tanto quanto o arco da família infeliz que se torna unida novamente depois de uma tragédia, visto anteriormente.
Se for para traçar semelhanças boas com o predecessor, o foco na ação e a boa execução dela é o caminho a se seguir. Ao mesmo tempo que não é um filme caótico e cheio de explosões, fugas, brigas jurássicas e gente morrendo, “Jurassic World: Fallen Kingdom” não decepciona por abraçar seu escopo mais modesto sem desmerecê-lo em momento algum. Particularmente, não senti falta de gente correndo como formigas esperando ser pisoteadas, pois todas as cenas de agito aqui cumprem bem seu papel de ser engraçadas, violentas ou tensas. Não fez falta ver pessoas morrendo aos montes quando as poucas mortes presentes são de qualidade. É fácil perder impacto quando uma multidão corre e é afinada por dinossauros voadores, mas não quando uma perseguição envolve menos elementos e é tratada com atenção de lá a cá. Inclusive os pedaços sangrentos que servem como alívio retribuição moral a alguns personagens maus.
Outro sucesso continuado aqui é a trilha sonora de Michael Giacchino, que segue os passos do grande trabalho de John Williams e até impressiona por si. O compositor novamente mostra que não está ali para simplesmente herdar os sapatos do dono anterior de modo que apenas vistam grosseiramente, com temas que lembram a música de antes em uma ou duas notas. Não foram uma nem duas ocasiões em que percebi que a música estava acrescentando muito à experiência; às vezes em momentos que poderiam soar ordinários sem nada acompanhando. O clímax de “Jurassic World: Fallen Kingdom” por exemplo, não tem nada de muito especial e seria ainda mais manjado por repetir uma técnica herdada de filmes prévios e ainda ser previsível dentro do próprio enredo. isto é, se não fosse a música servindo como um belo complemento.
Mesmo com tudo isso em mente, não diria que “Jurassic World: Fallen Kingdom” é uma experiência marcante ou inesquecível, marco numa série que já teve pontos bem altos e outros mais perto da mediocridade. Está mais para um avanço daquilo que foi visto em “Jurassic World” pelo simples fato de alguns problemas do primeiro não estarem aqui. A direção é menos fantástica e megalomaníaca que a de Colin Trevorrow, mais preocupado com as doses cavalares de eventos fantásticos em cena, e isso já resulta em uma boa diferença para uma história com impacto, menos leviana. Ah, e dois pontos importantes. Um susto no começo é o que resta da criatividade invejável do roteiro do predecessor, que usa o Mosassauro não uma, nem duas, mas três vezes como artifício narrativo. E nada de fugir de Tiranossauro usando salto alto.