O Terror é um dos gêneros mais peculiares de se explorar. É muito fácil cair no clichê e apelar para os “jump scares” ou tentar algo novo e ser criticado por não corresponder às expectativas de um público que já entra esperando o de sempre. Chega a ser paradoxal encontrar um meio termo entre esses dois, por isso o gênero muitas vezes se apoia em outros, como Comédia e Suspense, para abrir um pouco o leque de possibilidades. O mesmo pode acontecer com uma técnica, como é o caso de “The Dark Tapes”: um filme que explora o formato de filmagem encontrada para amarrar segmentos de história não conectados narrativamente.
É difícil estabelecer exatamente qual a premissa como um todo. São alguns contos sem ligação alguma exceto por serem chamados Fitas Sombrias, vídeos gravados no estilo amador envolvendo pequenas histórias de Terror. Cada sequência tem título e número, como “Os Caçados – Fita Sombria 2”, mas nenhuma conexão específica, o que me faz pensar que o título é uma conveniente forma de juntar vários curtas-metragens e chamar de longa. Uma das histórias envolve uma dimensão habitada por demônios, outra é sobre garotas de webcam com fetiches peculiares. A única constante é o estilo de filmagem e o gênero. De resto, “The Dark Tapes” não oferece muita ligação entre suas pontas.
Devo elogiar a edição e a pós-produção de “The Dark Tapes”. Pontualmente. Ainda que o conjunto da obra não seja bem amarrado tematicamente, a estilização visual faz um bom trabalho em costurar a colcha de retalhos e estilizar algumas cenas de forma que os valores baixos de produção sejam maquiados. Não me refiro aos créditos identificando cada segmento, estes não têm nada de mais. Quando perspectivas trocam inteligentemente e efeitos especiais simulando problemas com a câmera surgem, então o clima de Terror se estabelece e assegura que a obra usa o formato de gravação amadora do jeito certo. Com um baixíssimo orçamento de U$65.000, é de se esperar que não haja muito dinheiro para efeitos práticos e fantasias complexas. Neste caso, uma pós-produção competente garante, em parte, que os limites orçamentais sejam estilizados e não pareçam tão baratos assim.
Mas para todos os elogios que acabei de apresentar sobre “The Dark Tapes” há uma contraparte tão negativa quanto, se não pior. Infelizmente, as partes boas não são predominantes nem compensam os deslizes. O filme começa bem. As primeiras sequências são tranquilamente as melhores. A primeira não começa pelo óbvio, ela traz uma abordagem documental do conceito a ser explorado. Os personagens teorizam sobre uma dimensão paralela à normal, onde criaturas vivem invisíveis ao olho humano porque o tempo passa muito rápido para elas. Mas como é de se esperar, as criaturas preferiam seus segredos desconhecidos, levando a uma série de complicações. Quando as coisas começam a ficar interessantes, uma nova Fita Sombria surge: a história de um casal e sua casa assombrada. Parece clichê, mas há uma virada criativa em cima de uma premissa bem conhecida.
Este segundo segmento entra num ponto em que não deixa o primeiro fazer falta e ainda impressiona por ser bem desenvolvido. É depois dele que o trem descarrilha. As histórias subsequentes sofrem das atuações fracas já existentes desde o começo sem uma trama cativante para torná-las toleráveis. A ausência de um roteiro apropriado torna as seções seguintes numa combinação de atuações incompetentes e conceito crus, mal explorados ou simplesmente decepcionantes. Não ter a mesma eficiência de antes torna negativamente evidente as divisões de “The Dark Tapes”. De um possível longa dividido em histórias de terror no estilo “Twilight Zone” a uma coleção de curtas de qualidade irregular e gradualmente insatisfatórios.
Ver que a situação começa a piorar e não para até o epílogo torna a experiência enfadonha e desinteressante. Lá pela metade de “The Dark Tapes” eu já estava pensando nas possibilidades: se o segundo capítulo não tivesse acabado tão cedo e tomasse mais tempo da história sobre garotas sádicas ou qualquer coisa que trouxesse a parte boa de volta. Senti que conforme a qualidade caía, não só algumas atuações horríveis surgiam, o elogiado cuidado com o orçamento também sumia. Particularmente, o começo apresentou muito bem o design de uma criatura através de ângulos incomuns e efeitos que encobriam sua aparência na medida certa. Depois, talvez num impulso de mostrar mais, a direção desliza ao revelar demais e estabelecer o ar de produção barata, que havia começado a se instalar desde que a tela havia sido invadida por janelinhas representando imagens de webcam. Quando as coisas dão errado, é de uma vez só. Os novos conceitos não cativam numa primeira olhada, são mal desenvolvidos mais adiante, ostentam as piores atuações e ainda deslizam nas boas escolhas estéticas de antes. Claramente falta um cuidado geral nestes capítulos mais fracos, como se a produção talvez tivesse sido apressada. Melhora um pouco no fim porque ele dá continuidade a uma trama introduzida ainda no começo, seguindo apenas os passos melhor dados dessa parte.
“The Dark Tapes” é uma produção independente dirigida por Michael McQuown e Vincent J. Guastini, o primeiro trabalho de ambos como diretores. Não vou dizer que gostei do resultado final. Havia potencial para ser uma experiência próxima ao clássico “Twilight Zone”, uma coleção de bons episódios cuja divisão não seria tão criticada se a qualidade fosse constante. Infelizmente, a experiência sai dos eixos abruptamente. O que era interessante no começo, logo perde a graça de um conceito novo ou da execução criativa de algo velho. Os acertos do começo não seguram a avalanche de insatisfação quando esta vem com tudo.