Depois de uns meses longe, volto para a última leva de filmes de Babylon 5. Dessa vez, apesar do título, a história funciona como o episódio piloto para a primeira tentativa de spin-off de “Babylon 5”: a brevíssima e mal fadada “Crusade”. Tentaram lança-lá já no primeiro ano depois do fim do seriado principal, mas uma série de fatores e burrices impediram que ela fosse além da primeira temporada. Curiosamente, “Babylon 5: A Call to Arms” está entre os melhores filmes lançados, o segundo melhor depois de “In the Beginning“. Em parte por não tentar se encaixar no meio de uma história corrente, há mais liberdade para explorar a narrativa por não haver tantas preocupações com continuidade e outros fatores.
O aniversário de 5 anos da Aliança Interestelar está por vir. John Sheridan (Bruce Boxleitner) permanece como o presidente da organização, mas anda ausente por uns tempos. Apenas rumores se aventuram a dizer por onde ele anda sem nenhuma certeza. Em segredo, Sheridan está desenvolvendo uma nova frota de naves para a Aliança, trabalhando com as novidades da tecnologia Minbari e Vorlon para melhorar o poder de fogo. Então visões estranhas chamam a atenção de Sheridan para uma ameaça iminente. Quando ele embarca numa jornada conhecida só por ele, pois ele não pode dar detalhes, seus aliados passam a questionar sua sanidade.
O que torna “Babylon 5: A Call to Arms” melhor que o resto dos filmes? É um pouco mais difícil engolir “Thirdspace” e “River of Souls” como parte do universo, pois este é um que se construiu gradualmente. A estrutura dos episódios, ainda um tanto próxima da “aventura da semana”, era presente, mas a série transcendeu seu formato estabelecendo um elenco tridimensional e relações complexas entre seus personagens. Um filme de 1h30 não tem nem chances de igualar um desenvolvimento de episódios e temporadas inteiras. Mesmo se agregasse algo, complicaria para quem assistiu apenas ao seriado, os quais poderiam achar que o desenvolvimento é inconsistente. “In the Beginning” e “Babylon 5: A Call to Arms” se saem melhor porque contam histórias de origem, destacados de uma narrativa em curso. A guerra contra as Sombras já começou e terminou, a Aliança se consolidou e Sheridan já não é mais capitão da estação espacial.
Com um novo papel em suas mãos, ele tem novas responsabilidades e uma posição de respeito maior. O roteiro aproveita justamente essas características para complementar uma narrativa que flerta com o clássico modelo de uma nova ameaça na galáxia. Aliados das Sombras de fato são usados como estopim — o incidente incitante — para a história, mas o desenvolvimento decorrente não se limita a mobilizar uma equipe para derrotar esse mal, como “Legend of the Rangers” executou tão mal. Os Tecno-Magos retornam depois de aparições breves no seriado para satisfazer um pouco a curiosidade sobre seu culto e para ajudar Sheridan, que não pode revelar os fatos recém descobertos. Não seria difícil guardar um segredo dos outros numa situação normal, mas ele precisa do apoio dos outros em uma grande aventura cujos detalhes só ele conhece. Quando seus pedidos envolvem mobilização de frotas inteiras, a confiança cega de seus companheiros deixa de ser suficiente, situação que só piora com seu comportamento ocasionalmente sem sentido.
Além disso, o enredo funciona como introdução a uma nova história. Não vou dizer que estava empolgado para começar “Crusade” no mesmo minuto que os créditos de “Babylon 5: A Call to Arms” começaram a rolar, só sinto que o longa cumpre seu papel. Fim. Dentre os filmes do seriado, este realmente está entre os melhores, mas não por muito; uma margem marginal, se posso dizer. No geral, a história tem partes interessantes e mais funcionais que algumas apresentadas antes, ao mesmo tempo que não é rica ou bem executada como a de outra. A narrativa é estruturada de forma que as coincidências sejam justificadas, o problema sendo o fato dos conflitos serem resolvidos muito rapidamente. O filme todo prepara o espectador para algo grande, até que chega a hora de conhecer o motivo que causou tanto alvoroço e ele passa muito rápido, além de muito simplesmente.
Ainda falta um pouco para chegar no patamar de “In The Beginning“, por exemplo, que consegue amarrar o passado e o futuro de um grande arco narrativo sem que a falta de influência direta nele seja sentida. De todas as coisas que são mostradas aqui, o mais interessante é rever personagens queridos depois de muito tempo, o que pode ser encarado como algo subjetivo já que fui eu quem passou meses longe deste universo. Embora não seja gigantesca, criou-se expectativa pelo que “Crusade” pode trazer. Os personagens novos são legais e é sugerido que os antigos também têm certa participação, tal como o Tecno-Mago e a promessa de que finalmente explorarão a cultura deste povo misterioso. Infelizmente, já é sabido de antemão que o spin-off não foi além de sua primeira temporada, tornando “Babylon 5: A Call to Arms” um tiro na água, ainda que não seja culpa do filme propriamente dito.