Não é nenhum absurdo dizer que filmes de zumbi já estão um tanto batidos atualmente. Depois dos três clássicos de George A. Romero ainda vieram outros três não tão bem sucedidos enquanto outros cineastas expandiam o modelo para todos os lados. Alguns foram remakes, como o “Dawn of the Dead” de Zack Snyder, e outros buscaram novos horizontes, como o humor em “Shaun of the Dead”. Depois de décadas com tantas obras diferentes, parece que finalmente não sobraram muitos lugares para explorar, então que chance um filme sul coreano teria nesse meio? Aparentemente, muita. “Invasão Zumbi” se tornou inesperadamente popular ao redor do mundo, talvez o mais popular entre outros similares.
Seok Woo (Yoo Gong) é um homem que trabalha demais para ter tempo para qualquer outra coisa em sua vida, incluindo sua própria filha, que mal passa um tempo de qualidade com ele. Ultimamente, no entanto, a situação consegue ficar ainda pior. Quando chega seu aniversário, o presente que ela pede é uma passagem de trem para ver a mãe na cidade de Busan, alguém que estaria mais feliz em vê-la. Seok Woo amarguradamente concorda e acompanha a garota numa viagem enquanto o mundo cai num apocalipse zumbi. Fora e dentro do trem.
Não sou nenhum conhecedor do cinema sul coreano para afirmar qualquer coisa absoluta sobre as tendências do país, mas posso dizer que os filmes que vi me deram esperança de que “Invasão Zumbi” poderia ser algo realmente diferente do que já foi visto. E foi exatamente assim como o filme foi vendido para mim: diferente do que já fizeram antes. Bem, fez sentido para mim. Como Hollywood raramente foge dos moldes para não arriscar desastres financeiros, pensei que o cinema de outros países poderia tentar renovar os zumbis nas telonas. Infelizmente, posso dizer que quanto a isso me senti um tanto decepcionado quando não encontrei a novidade tão recomendada. Existem alguns clichês terríveis que vão na direção completamente oposta da inovação, mas nada que faça do resultado final ruim.
Olhando por cima, realmente não há muita coisa nova. Os zumbis são ágeis, correm e são até um pouco inteligentes, não diferente do já citado remake de Snyder; hordas atropelando a si mesma pela quantidade de zumbis também já apareceram em “World War Z”. O grande acerto de “Invasão Zumbi” é apostar no contexto em que os eventos acontecem. Apresentar o começo do apocalipse não é nada novo e fazer o conceito funcionar depende de como ele é usado, em primeiro lugar. Aqui isso acontece num trem, no espaço confinado de um corredor estreito cercado por poltronas e cheio de passageiros sem nada para se defender. Isso significa que sobreviver é improvisar com o que estiver disponível, o que não é muito. Falta espaço e faltam armas, então nada de tiros na cabeça e zumbis mutilados com katanas. Os personagens não sabem o que enfrentam e isso fica claro pelo jeito como lidam com as criaturas. Ainda há um pouco de receio de atacar velhos amigos e pouco conhecimento de como a pandemia funciona, fazendo os melhores momentos serem feitos de soluções criativas que arranjam. Usar barulho para atrair os monstros ou partir para a boa e velha porrada mesmo, em dois exemplos bem aproveitados.
Mas antes disso, claro que muitos morrem quando criaturas desalmadas partem para cima de gente que mal sabe o que está acontecendo. Com exceção de alguns momentos em que a parte técnica deixa a desejar com tomadas claramente aceleradas ou efeitos especiais ruins, representam o caos de um jeito tragicamente belo, sem nenhum tipo de economia em mortes sangrentas e violência explícita. Com zumbis até mais selvagens que o normal, não existe muito espaço para poupar a audiência de boas carnificinas, com gente escalando poltronas e até outras pessoa na esperança de se salvar. Tais cenas são apenas rivalizadas pela breve, mas bem executada, exploração da moralidade dos que sobreviveram, representados por um vilão decente para não fazer disso o acerto momentâneo de uma sequência só, mas algo mais prolongado.
Por outro lado, há uma porção de clichês aqui. Muitos clichês, honestamente. Talvez encontrar um filme de zumbi com algumas idéias boas tenha um ar atraente o bastante para chamar a atenção, mas isso não chega nem perto de poupar “Invasão Zumbi” de seus próprios erros. Não me refiro a reutilizar idéias de outras obras, pois isso não constitui crime algum; a fonte de onde este longa bebe é uma que exala a falta de originalidade de filmes de ação em geral, não limitando-se aos de zumbi. Tudo bem, não vou negar que várias sequências são bem pensadas e aproveitam bem o conceito de gente se virando sem recurso algum, mas a própria obra dá um tiro no pé quando repete essas mesmas táticas em sequência; sugerindo talvez que não seja tão difícil sobreviver, afinal de contas, é só uma questão de fazer a mesma coisa vez após vez. Mas esse não é o maior dos defeitos, a situação piora quando não só usam como repetem os clichês mais baratos do gênero para solucionar os conflitos que o roteiro apresenta. Nessa percurso de falhas, o ápice da desgraça chega quando usam o drama para tentar aprofundar o enredo sobre gente morrendo e zumbis fazendo o que fazem, dizer que por trás da luta por sobrevivência existem motivos concretos envolvidos, como culpa e a própria índole dos personagens. Algumas vezes funciona, como em uma cena onde a moralidade é vista num grupo de pessoas, mas quando o conceito é aplicado a personagens individualmente, temos os clássicos sacrifícios em nome de um bem maior, cenas expositivas, uma tentativa de crítica ao corporativismo e até crianças chorando em horas convenientes para tocar o coração do espectador.
Algumas boas idéias foram as responsáveis pelo barulho que “Invasão Zumbi” fez e ainda está fazendo, porém sem elas este não passa de um filme repleto de clichês que vão da Ação ao Drama, pecando gravemente neste último. Coreano ou não, há muito que este longa poderia aprender com si mesmo. Basear-se na criatividade de suas partes boas mais a fundo certamente tiraria espaço dos estereótipos desnecessários.
2 comments
Um detalhe importante para o contexto do filme, e talvez a repetição dos mesmos recursos, é que a Coreia do lado de baixo está entre os mais países mais rigorosos no tocante a restrição de armas de fogo.
Tem que aprovar sim, evita spam e flood. hue
Então, não foi nem sentir falta de armas de fogo, foi mais repetir as mesmas coisas sempre. Não me importaria de ver umas cenas a mais de porrada em vez de usar a parada da luz + som várias vezes. Abraço!