Nem todo filme de Guerra segue o clichê do gênero. Felizmente também, porque metralhadoras, trincheiras, tanques e granadas ficariam batidos muito rápido, caso contrário. “Where Eagles Dare” é um exemplo que foge à regra e coloca nazistas contra aliados sem um campo de batalha à vista. Dessa vez, a guerra acontece longe de Stalingrado e da praia de Normandia, lugares eternizados pelas grandes batalhas que lá aconteceram. Com um pouco mais de espionagem e mistério, mas não menos perigo, esta história coloca Richard Burton e Clint Eastwood num labirinto de pedra que esconde mais que um batalhão inteiro de nazistas entre suas paredes.
Um importante general americano é capturado por nazistas quando seu avião é abatido perto dos Alpes bávaros. Suas informações são importantíssimas para os Aliados e mais ainda para o inimigo alemão, que com certeza sabe como aproveitar estratégias da oposição em primeira mão. Para evitar que a vitória aliada seja comprometida, um grupo é selecionado a dedo para resgatá-lo antes que qualquer coisa seja entregue. Só há um problema: ele está preso num castelo praticamente impenetrável. Mesmo com poucas chances de sucesso, o Major Smith (Richard Burton) lidera confiante sua equipe numa missão com alguns detalhes obscuros por trás do perigo.
“Where Eagles Dare” é considerado um clássico e não é difícil ver o porquê: basta olhar para Wolfenstein, popular série de jogos de tiro, para ver como a influência do filme se alastrou. Ambos envolvem uma fortaleza nazista impenetrável e ação sem freios, com metralhadoras e uma contagem de corpos alta sendo comuns na história. O conceito de uma missão complexa retorna em “Bastardos Inglórios” e também não é à toa: “Where Eagles Dare” é um dos filmes favoritos de Tarantino. Talvez ainda esteja um pouco longe de ser um dos melhores filmes de ação de todos os tempos, como algumas listas o colocam, mas já é bem claro que um plano elaborado, perigo, bons atores e uma falta de modéstia na ação são os ingredientes certos para conquistar a audiência. Não tem como um castelo medieval lotado de nazistas, um prisioneiro a ser resgatado e toneladas de dinamite dar em coisa ruim.
Curiosamente, não foram os tiroteios intermináveis que me chamaram mais a atenção aqui. Obviamente, a ação é um fator crucial, tendo o vista o gênero em que o longa está, e tem diversos momentos marcantes, do caos completo a uma troca de murros a centena de metros de altura; mas como colocá-la num pedestal quando há tantas outras coisas boas aqui? É até mais justo dizer que ela é responsável por certos problemas aqui, melhor dizendo. Quando a parte agitada já foi imitada e até melhorada ao longo dos anos, fica um pouco difícil se prender muito a ela, muito mais quando trama e personagens são tão interessantes. Richard Burton, reconhecido ator shakespereano e indicado a 5 Oscars na época, estrela uma obra que não poderia estar mais longe dos dramas que fez no passado e, no entanto, isso não prejudica ninguém. “Where Eagles Dare” só se beneficia de ter alguém tão competente num papel que poderia ter sido menos relevante nas mãos de outro ator. Ele marcha pela missão como se não sobrassem razões para se estressar, adotando um ar de meia-segurança que só se sustenta porque ele realmente é um cara competente. E claro, porque há um companheiro confiável em Schaffer, outro personagem de Clint Eastwood que entrega o tipo de poucas palavras para se encarregar das cenas de ação.
Mais do que isso, a dinâmica criada entre ele e Burton funciona perfeitamente com o modo como a própria trama se desenvolve. Não é um filme de ação pura ou de história do começo ao fim. O que existe é uma bela mistura entre os dois que certamente faz falta no gênero. Schaffer é trazido para a missão sem saber direito porque ele, sendo americano, está numa missão totalmente britânica. Quem sabe dos detalhes ocultos é o Major Smith, seu comandante, que sabe um pouco mais da situação e a conduz de modo peculiar, mais usando a cabeça que uma arma para conseguir o que quer. Ele bola seus planos e os dispõe sem necessariamente deixar suas intenções à vista, enquanto quem lida com a loucura resultante é seu companheiro. Funciona por boa parte tempo. Infelizmente, a ação acaba se mostrando um pouco limitada e logo surgem sinais de cansaço. Existir quase 3 horas filme não é um problema por si, com um revezamento entre trama e sequências agitadas — um modelo bem comum no gênero — alimentando essa duração. Mas quando um dos lados começa a falhar, tanto tempo parece demais. Em um misto de repetição de idéias com uma execução que deixa a desejar — indo do clichê ao medíocre — a ação por vezes mostra que nem tudo é ouro aqui.
Apesar dos pesares, “Where Eagles Dare” acerta demais para entregar um saldo que chegue minimamente perto de ser negativo. Para cada explosão forçada e tiroteio sem sal no estilo John Woo, com munição infinita e mira infalível, há algo e mais um pouco para trazer o saldo para cima de novo, como um enredo cheio de segredos que dá algo para o espectador pensar em momentos de adrenalina descerebrada. Talvez não um dos melhores do gênero, com certeza uma obra competente e digna de nota por seus méritos e consequente influência em outros trabalhos.