Depois de defender a qualidade dos filmes de “Babylon 5” finalmente dei com a língua nos dentes com “The Legend of the Rangers”. Pelo menos, em minha própria defesa, este não é exatamente um filme derivado do seriado clássico, e sim um episódio-piloto de 90 minutos para um spin-off no mesmo universo. No começo até tinha pensado que era uma lástima o seriado não ter engrenado, mas eventualmente vi que a justiça foi feita quando falta de qualidade e uma administração ruim do canal responsável fizeram questão de enterrar o projeto.
Focando na organização dos Anla’Shok, este longa acompanha David Martell (Dylan Neal), um ranger que está para ser expulso depois de uma atitude controversa: com a nave sem armas e quase destruída, David decide recuar para salvar sua equipe em vez de perseguir o inimigo. Tal manobra é tratada como uma afronta ao princípio elementar dos rangers e coloca a fúria do conselho contra ele. Após sua carreira ser salva quando falam em seu benefício, ele ganha o comando da Liandra, uma nave velha cuja última tripulação desapareceu misteriosamente. Sua primeira missão é simples: escoltar uma nave de diplomatas. No caminho, um novo inimigo coloca todos em risco.
O começo de “The Legend of the Rangers” realmente mostra promessa. Os efeitos especiais finalmente mostram uma qualidade que hoje em dia não fere tanto os olhos e às vezes chegam a ser convincentes, enquanto os efeitos práticos — especialmente a maquiagem — estão bons como nunca. Para representar essa evolução não poderiam ter escolhido um personagem melhor: G’Kar (Andreas Katsulas). A maquiagem do Narn sempre foi uma das melhores do seriado e aqui conseguiram deixá-la ainda melhor. Não há nenhuma mudança drástica, porém parece que a prótese ganhou mais detalhes, deixando-a mais realista. Interessante é saber que, se as coisas continuassem como é visto aqui, o personagem teria um papel ativo na história. Uma ótima notícia, considerado que ele era um dos meus personagens preferidos. Há também a promessa de finalmente explorar a organização dos Rangers: o que eles fazem, quais são seus valores etc. Infelizmente, este piloto decepcionante é o mais próximo que o mundo vai chegar de um “Babylon 5” em alta definição.
Quando finalmente chega a hora de colocar à prova tais promessas, “The Legend of the Rangers” mostra a grande decepção que é. Em primeiro lugar, a história é cheia de inconsistências. O Lurker’s Guide to Babylon 5 (Link) coloca este piloto entre o penúltimo e o último episódio da quinta temporada, depois que G’Kar e Lyta Alexander partem da estação — o que também me fez achar que esta seria uma história como “Thirdspace” e “River of Souls“. Se ninguém sabia onde G’Kar estava, como ele aparece aqui? E mesmo se ele tivesse escolhido ficar entre os rangers, o que ele fez com Lyta? A idéia era ficar longe de Babylon 5, então por que ele volta para lá no final do filme? O pior de tudo é que os Anla’Shok, o assunto principal da obra, são representados de uma forma bem frustrante, para não dizer totalmente contraditória com o que foi mostrado antes. Meu problema não é tanto com a tripulação da Liandra, pois eles são um pouco rebeldes desde o começo, o estrago é visto nos rangers como organização. “We live for the one, we die for the one” é seu lema, repetido mais vezes em 90 minutos que em cinco temporadas inteiras. Longe de uma instituição orientada por valores e filosofias, aqui ela é representada quase como uma seita de fanáticos que segue ensinamentos ao pé da letra e pune sem remorso os que saem minimamente desse caminho.
O elenco principal dá um gosto do que já foi visto em “Babylon 5”: um grupo de pessoas de raças e personalidades diferentes. Tripulando a nave estão alguns humanos, três minbari, um drazi grandalhão e uma narn mal humorada. Como equipe acredito que eles teriam funcionado bem, algo como uma versão menos satirizada do que se viu em “Guardians of the Galaxy“. No entanto, um elemento desse grupo foi escolhido como porta-estandarte de tudo que é ruim aqui. A encarregada dos armamentos da nave têm de longe os piores momentos do longa, principalmente quando ela entra em sua estação de combate. Até então as batalhas espaciais eram bem diretas ao ponto, mas aqui tentam inovar este conceito quando a personagem entra numa câmara de gravidade zero, onde os projéteis da nave são controlados pelo corpo de quem está ali. Até aí tudo bem, exceto pelo fato de cada tiro ser lançado com socos e chutes do controlador em qualquer direção — o que nem sentido faz. Em suma, a personagem gira no ar chutando e o socando o nada enquanto geme para destruir seus oponentes.
Antes a culpa fosse apenas do canal Sci-Fi — hoje SyFy — que soltou o piloto no mesmo dia que um jogo da eliminatória da NFL mas “The Legend of the Rangers” tem uma boa cota de erros reforçando que foi melhor o seriado ter ficado só no papel mesmo. Não só isso, mas a premissa de uma nova força malévola ameaçando a galáxia não é lá muito interessante. Este novo inimigo supostamente faz as Sombras parecerem insetos, porém como espectador eu quero mais que um seriado inteiro baseado num oponente mais forte.