Basta ler um pouco sobre os filmes de “Babylon 5” para notar que eles não são exatamente amados pelo público. Francamente, não sei bem qual o problema. Reclamam das histórias, mas o que mais poderia ser feito? O forte do seriado é a forma como os arcos são explorados ao longo de vários episódios e até de temporadas. Falando dessa forma pode parecer algo banal, pois esse é o modelo da maioria das séries atuais, mas naquela época isso era inédito e até hoje não deixa de ser um ponto positivo. Não há como condensar temporadas de desenvolvimento em um longa-metragem de 90 minutos. O máximo que podem fazer é criar uma história bacana nesse tempo, que é exatamente o que “River of Souls” faz. Não são as melhores tramas possíveis nem necessariamente insatisfatórias por isso. Relembrando que o texto contém spoilers do seriado inteiro, com exceção do último episódio.
Os membros da clássica equipe da estação seguem pelo caminho pelo qual suas vidas os levam, que infelizmente é para longe de Babylon 5. Dos conhecidos, permanecem Zack Allan (Jeff Conaway) e a Capitã Lochley (Tracy Scoggins), mas Michael Garibaldi (Jerry Doyle) aparece sem mais com a promessa de encrenca seguindo logo atrás. Não demora para a Capitã ter problemas com um holo-bordel — onde as prostitutas são hologramas — e para um visitante com intenções suspeitas surgir. Os negócios deste sujeito logo se tornam uma grande complicação quando ele traz consigo um artefato roubado dos Caçadores de Alma, que não estão muito felizes com isso.
Ver pequenos arcos que começam e terminam no mesmo episódio — ou filme, neste caso — podem parecer um retrocesso diante do que é desenvolvido na série, mas têm seu lado bom. Por exemplo, essas histórias fechadas são um respiro bacana entre a enxurrada de conclusões dos últimos episódios do seriado, algo como uma lembrança da primeira temporada. Assistindo todos os episódios em 2 semanas ou 6 meses, ainda fica aquele sentimento de que o começo de tudo ficou muito atrás no tempo. Da mesma forma, os Caçadores de Alma que haviam aparecido apenas uma vez no primeiro ano de “Babylon 5” voltam agora em “River of Souls”. Sua primeira participação foi mais ou menos um episódio de sequestro e resgate com pequenas revelações do mistério envolvendo Sinclair. Aqui a mitologia envolvendo esse grupo é expandida e usada para dar mais profundidade à história, além de também mostrar que os episódios estilo “caso da semana” têm sua importância. No mínimo eles acabam desenvolvendo o universo, que é praticamente a função da primeira temporada.
Depois de “In the Beginning“, “River of Souls pode ser considerado o melhor filme derivado do seriado. A história traz de volta uma raça que há muito tempo não era comentada e faz isso muito bem. Não é de graça que Martin Sheen foi chamado para o papel de Caçador de Alma. Aqui não se encontra o ar cinematográfico de “Thirdspace“, embora ter um ator de peso no elenco traga seus benefícios quando o personagem em questão tem um papel muito maior que sua contraparte de antes. O Caçador agora tem uma personalidade mais profunda que um simples louco varrido. Ele interage com os humanos e procura resolver o problema junto com eles para evitar uma desgraça maior, falando um pouco mais sobre seu povo nessas conversas.
O roteiro também apresenta uma melhor estrutura da história, dessa vez sem apelar para efeitos especiais e soluções fáceis para problemas complicados. No entanto, ainda resta um pouco disso quando o Caçador de Alma se convence um pouco rápido demais de que está errado, o que é meio esquisito considerando que ele faz parte de uma ordem quase fanática. Ao menos ainda há como defender essa mudança de opinião porque o deus ex machina é mais subjetivo, se posso dizer, nada tão explícito como a bomba atômica de “Thirdspace“. Meu único problema seria com o enredo em si. Mesmo explorando uma raça há tempos esquecida, sinto que a trama é pouco ambiciosa. Não poder desenvolver personagens para não atrapalhar os planos da série não limita os filmes. Ainda era possível criar algo maior. O mais longe que vão é apresentar uma trama secundária envolvendo o holo-bordel, que, querendo ou não, serve mais como um alívio cômico do que qualquer outra coisa. É nesse ponto que me incomoda a falta de escopo. Poderiam ter criado uma segunda trama para suplementar a principal e complicar a situação ou talvez ajudar a desamarrar os nós do enredo, mas preferem a saída mais simples.
Talvez seja este o problema do público com os filmes, talvez seja o que mencionei antes, talvez nenhum dos dois. De qualquer forma, “River of Souls” não é ruim ou terrível como podem apontar, embora também não seja nada de outro mundo. Acho que o espectador gostar ou não de “River of Souls” depende muito do quanto este gostou da primeira temporada e dos arcos de um episódio.