A primeira vez que vi “Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull” e seu título gigantesco foi em 2008 com a pior qualidade de imagem possível. Lembro de não ter achado ruim, nem feio, mas talvez os tão criticados efeitos visuais passaram batidos pela resolução pior que VHS. Depois de quase uma década de críticas e apedrejamentos decidi que daria outra chance para o filme, o que se mostrou uma ótima idéia. Sim, esta obra tem seus defeitos e pode até ser considerada desnecessária depois que a trilogia foi concluída tão bem com “Indiana Jones and the Last Crusade“, mas no fim das contas ela foi melhor do que o esperado.
Décadas depois dos primeiros filmes, nos Anos 50, Indiana Jones (Harrison Ford) é capturado por Irina Spalko (Cate Blanchett) e seus agentes russos; o arqueólogo é levado para a famosa Área 51 para localizar um artefato polêmico de uma aventura passada. Numa eterna briga de gato e rato, Indiana Jones, Spalko e até Mutt Williams (Shia LaBeouf), um garoto arrastado para a confusão, viajam pelo mundo tentando descobrir o mundo de segredos por trás da Caveira de Cristal, artefato ligado aos conquistadores espanhóis e às civilizações maias.
Uma das primeiras coisas que chamam a atenção é a parte visual deste longa. Por um lado, este é o filme mais bonito da série em vários momentos, por outro essa nitidez de detalhes revela muita coisa que poderia ter sido deixada de lado. Os três primeiros filmes de fato ficaram maravilhosos em alta definição, mas este apresenta uma sofisticação visual diferente do que foi visto antes, totalmente apropriada aos Anos 50 e seus designs limpos. Toda a imagem de família perfeita, de limpeza e integridade dentro do lar era tão grande que ganhou uma esfera cultural e é destaca especialmente pela produção publicitária da época. Para alguns isso pode ser negativo, pois a série perde um tanto daquele ar de seriado de aventura dos Anos 30 e seus visuais granulados; para mim a mudança foi bem vinda e deu originalidade a algo clássico sem perder a identidade.
Por outro lado, toda essa gama de detalhes mostra seu lado negativo quando expõe o romance entre Steven Spielberg e a computação gráfica. Várias cenas que usam CGI ou são inteiramente feita delas dão as caras desde o começo. Até aí não há problema, muitos filmes funcionam bem com bastante CGI. O problema vem à tona quando o recurso deixa de ser suplementar para o diretor e se torna uma muleta para evitar efeitos práticos. A série é famosa o bastante para garantir um orçamento farto de 185 milhões de dólares, o que permitiria a construção de sets tranquilamente. Mas não, decidiram criar ambientes relativamente simples com computação gráfica para que o Blu Ray, infelizmente, revele sua artificialidade. Essas decisões preguiçosas me enfurecem, porém é algo mais pessoal do que necessariamente ruim; o que não pode ser dito de cenários, horizontes e outros elementos que são tão descaradamente falsos que dão uma desanimada geral. Parece que Spielberg se empolgou com as possibilidades da CGI e se perdeu no caminho, criando sequências que — mesmo considerando o histórico da franquia — vão longe demais no quesito fantasia. Poderia dar uma série de exemplos, mas prefiro deixar o espectador tirar suas próprias conclusões. Por texto tudo pode parecer melhor do que é realmente.
De resto, esta obra é feita com exatamente os mesmo ingredientes que trouxeram fama anos antes. As excêntricas perseguições com os heróis em posições desfavoráveis estão de volta, assim como aqueles clássicos momentos em que os eles reconhecem sua desvantagem e simplesmente botam as pernas para funcionar. Tudo isso inserido no tradicional cabo de guerra entre Indiana Jones e o vilão, no qual o protagonista involuntariamente complica sua própria situação ao ajudar o inimigo com sua inteligência e intuição apurada. Aproveitam também a nostalgia ao reintroduzir gente do passado do Dr. Jones, chegando a expandir o conceito de ajudante com o personagem de Shia LaBeouf. Devo dizer que fiquei impressionado por não achar sua presença negativa aqui, pois, de alguma forma, ele evita aquela aura de personagem bunda mole e até consegue ser um pouco carismático. Na maior parte do tempo este filme é um clássico renovado que faz jus a trilogia de antes, mas infelizmente vai longe demais com suas ambições no clímax. Tudo bem o fator sobrenatural sempre estar meio presente nas histórias, mas aqui o exagero é explícito em termos de enredo e de computação gráfica.
Sim, este é o “Indiana Jones” mais fraco da quadrilogia. Não, ele não é tão ruim assim. Para um filme tão criticadoposso dizer que me diverti bastante, especialmente no começo, quando a trama permanece longe de qualquer coisa que possa ser minimamente criticada. Ver o protagonista usando o chicote que nem o Homem-Aranha é lamentável, mas a perseguição de moto pela cidade é ouro puro. Existem sequências ruins e outras excelentes. No geral, o saldo ainda é positivo, apesar do frequente excesso de CGI.