A série “Frankenstein” é cheia de maus entendidos. O primeiro e mais clássico é achar que a criatura principal é chamada Frankenstein; na verdade este é o nome do cientista que criou o monstro, interpretado por Colin Clive, o personagem de Boris Karloff nunca recebeu nome próprio. Algo similar acontece com o deformado assistente do Dr. Frankenstein, frequentemente chamado de Ygor, embora ele não tenha nome. Outros enganos incluem algumas cenas clássicas que supostamente aparecem no original, mas só foram mostradas na continuação. Nos anos que sucederam a lendária história de Mary Shelley, fatos deram lugar a mitos. Em 1935, “Bride of Frankenstein” vem para superar absolutamente todos os sucessos do filme original.
Um pouco antes de saber o que acontece depois dos eventos de “Frankenstein” o espectador é apresentado à Mary Shelley. Não à escritora em pessoa, pois ela havia morrido em 1851, mas à uma atriz que apresenta a trama da mesma forma como no predecessor. O moinho está em chamas e a criatura, supostamente, queimou junto com ele. No entanto, o pai da garota afogada fica para ver os ossos negros do monstro com os próprios olhos. Ao cair em um alçapão, ele descobre amargamente que quem ele procurava não havia morrido. Em outro lugar, o Dr. Pretorius (Ernest Thesiger) tenta convencer Henry Frankenstein (Colin Clive) a retomar seus experimentos, nem que isso vá contra sua vontade.
Surpreso é um adjetivo que descreve bem como me senti quando assisti a este longa. A maioria, se não todas, as decepções que tive com o primeiro foram corrigidas aqui, desde falhas de ritmo e roteiro até cenas icônicas que faltaram. O original de 1931 permanece como um bom filme até hoje e seus deslizes não têm nada a ver com cenas que eu esperava que estivessem presentes, mas ver que elas existem em “Bride of Frankenstein” foi uma surpresa agradável. Toda a sequência do laboratório está muito mais próxima da imagem que eu tinha em mente e, por algum motivo, até mesmo o “She’s Alive! ALIVE!” foi mais icônico que o “It’s alive!” de antes. Sendo uma continuação, era de se esperar que muita coisa de antes estivesse presente — nota-se que ambas as sequências mencionadas já estavam no predecessor, mesmo que um pouco diferentes. O trabalho feito aqui é exatamente o que se procura em uma continuação, trabalham em cima de conceitos bons e os tornam ainda melhores.
O laboratório é muito parecido com o de 1931, só que agora toda a sequência torna-se muito mais complexa. Enquanto antes a mesa de operações subia e descia sem mostrar o equipamento da parte de fora, agora mostram todos os passos da criação da criatura de maneira muito mais detalhada, dando mais atenção a partes que antes ficaram mais escondidas. Basicamente decidem mostrar ao público mais do que realmente importa: monstros. Felizmente, isso significa dar mais espaço a Boris Karloff, que novamente brilha em seu papel de ser incompreendido e perdido. Solto num mundo que o odeia, o monstro vaga de canto a canto procurando sua posição entre a morte e a sobre-vida. A figura passa a humanizar-se e os grunhidos, que nunca chegam a ser negligenciados, dão lugar à palavra, criando uma nova face para o personagem. Curioso é ver como aqui este processo funciona tão bem, ao mesmo tempo que é uma característica tão negativa na franquia “Godzilla”, que apresenta algo similar em sua pior fase.
Outro ponto notável é o fato de conseguirem fazer a história funcionar mantendo uma duração quase igual a de antes. No original, toda a trama pareceu acelerada para caber em 70 minutos; personagens acabaram mal desenvolvidos, eventos aconteceram sem nem meia pausa entre eles, nem um respiro para aliviar a tensão. Pensando no motivo desta correria, a extensão do livro de Shelley me veio em mente. O primeiro longa tinha uma história muito mais comprida para condensar, ao passo que a continuação tinha apenas uma sub-trama como base. Essa foi a jogada de sorte desta obra, nunca na história do cinema a falta de uma história fez tão bem para um filme. Sem eventos pré-definidos por um livro, os roteiristas tiveram mais espaço para trabalhar com o material que sobrou — os personagens, no caso. Frankenstein não vai mais de cientista maluco a marido desesperado de uma hora para outra, sua personalidade se mantém sólida; o monstro ganha mais expressividade e espaço para desenvolver seu papel; e até novos personagens são introduzidos.
No final dos contas, o que rouba a cena e fica como a cereja no bolo é o final do filme; onde tudo acontece muito rápido, dessa vez para um resultado muito mais positivo. Se não fosse pelo poder das cenas finais, diria que este é um filme com melhoras notáveis frente ao original, mas elas por si mostram que um final bem pensado pode fazer pela obra.