“Wayne’s World” é outro daqueles filmes dos Anos 80 com algumas cenas icônicas o bastante para instalar o filme na memória de sua platéia. Gostando dele ou não, não há como ficar sem lembrar da cena em que cantam “Bohemian Rhapsody” dentro do carro; e mesmo que ela comece a escapar, sempre haverá algum fanático pelos Anos 80 para lembrar dela por você. Apesar de momentos como este, vale lembrar que existe uma linha entre o estúpido bom e o ruim, tal como funciona a lógica de filmes trash bons e ruins.
Adaptado do quadro homônimo do “Saturday Night Live”, com Mike Meyers e Dana Carvey reprisando seus papéis como Wayne Campbell e Garth Algar, este longa conta a história destes rapazes; mais perto dos 30 que dos 20, eles são as estrelas do Wayne’s World, um programa de TV aberta lotado de bordões, palhaçadas e riffs de guitarra. Em um dia aparentemente normal, um produtor de televisão pega o programa em sua TV e decide usá-lo para seus próprios interesses. Achando que a proposta do produtor é uma chance fácil de ganhar dinheiro e promover seu programa, Wayne e Garth topam uma associação com um dono de uma rede de fliperamas chefiada pelo tal produtor, mas as coisas não saem exatamente como planejado.
Por mais que algumas cenas sejam memoráveis e genuinamente engraçadas — ou ao menos genuínas em sua estupidez — o filme carece de um elo que faça da obra mais que uma série de piadas em sequência. Em um momento estamos dentro do programa, provavelmente da mesma maneira como acontecia no “Saturday Night Live”, e em outro estamos acompanhando os dois protagonistas esperando um avião sobrevoar de perto seu carro, estacionado perto da pista do aeroporto. Em ambas as ocasiões há certa fartura de piadinhas e palhaçadas para preencher eventos sem substância, embora não haja nada para conectar as duas. Poderia-se dizer que a história deveria ser este tal elo, algo para dar um plano de fundo ou uma mínima continuidade ao real foco do longa, mas como diversos outros filmes mostram, uma trama elaborada não é imprescindível para uma execução sólida.
Quantos filmes de ação tiveram histórias risíveis e ainda assim foram bons por seguirem bem sua proposta? Ainda que exista um enredo bem construído, a maioria do público irá para os cinema para ver chumbo voando e sangue espirrando. Afinal de contas, após mais de 10 filmes da Marvel, quem ainda se preocupa com os detalhes sobre o Tesseract ou coisas do tipo? O público busca ação ininterrupta com super-heróis. Por outro lado, aqui o que se busca é humor, inteligente ou burro, mas que seja de qualidade. Fica claro que das duas opções, decidem ir com o humor burro, que não é automaticamente ruim, mas aqui frequentemente falham em entregar algo significativo o bastante para compensar a falta de plano de fundo. Em um cenário ideal, piadas boas desviariam a atenção do roteiro falho, enquanto aqui os trocadilhos fazem com que o espectador repare tanto em como o filme é infeliz nos seus objetivos primários quanto nos secundários. Também é possível que eu não tenha gostado tanto do humor por ele estar atrelado ao quadro original do “Saturday Night Live”, o qual eu não acompanhei, então qualquer opinião exposta estaria mais para uma visão de fora, imparcial ao que foi feito antes deste longa-metragem.
Os momentos bons, pelo menos, são realmente bons. Por mais que estejam em menor quantidade que o ideal, é ótimo ver que quando eles funcionam, funcionam de verdade. Não é a piada legalzinha que causa um sorriso de simpatia, mas sim aquela que faz com que o espectador pare e pense no quão bom aquilo realmente é, nada abaixo do melhor que o “Saturday Night Live” oferece até hoje. A maioria, se não todos, destes momentos conta com os dois protagonistas como os responsáveis por este mesmo sucesso. Mesmo quando os bordões falham e a Comédia torna-se galhofa, os personagens principais salvam um pouco a situação, esquisitos do jeito como foram concebidos e funcionando bem exatamente por este motivo. Os dois parecem ter saído diretamente de um desenho animado retardado, algo como Freakazoid, cheios de comportamentos caricatos e surreais; tudo passa a ser excelente, mulheres bonitas são “babes” e Pepsi é a escolha da nova geração. De maneira mais indireta, Wayne e Garth ainda fazem com que algumas conquistas menores estejam presente; seu amor pelo rock and roll traz para a trilha sonora uma porção de músicas de extremo bom gosto, entre elas “Foxey Lady” de Jimi Hendrix e a mencionada “Bohemian Rhapsody” do Queen. Até chegam a trazer Alice Cooper em uma participação especial, mas tirando uma música, sua presença é bem dispensável.
Infelizmente, o filme não conta com bons momentos o tempo todo, o que torna toda a experiência um pouco redundante e rasa num geral. Isso se agrava por não haver um esqueleto para sustentar a série de piadinhas, pois quando o bordão falha, os defeitos ficam mais explícitos e o longa vai de “Excellent” para “No way”.