Se existe um filme que represente a idéia de entretenimento sem preocupação, este é um ótimo pretendente. Hoje em dia os exemplos mais visíveis são os filmes de super-herói da Marvel, que fazem o gênero Ação continuar comandando o ideal de pouco cérebro e muita porrada. Porém em meados dos Anos 80 existia competição para os bíceps de Schwarzenegger, constituída em grande parte pelo gênero Terror e os slashers que eram lançados aos montes. Baseado em um pequeno conto de H.P. Lovecraft, este longa-metragem pode ser considerado como um dos primeiros do Terror Paródia. Seu conteúdo é tão absurdo que frequentemente não dá a mínima para convenções clássicas, como explicar elementos da história, e até chega a fazer piada pelo simples prazer do ato. Qualidades que com certeza fazem a diferença para um aproveitamento diferenciado.
Expulso de sua universidade na Suíça depois de um incidente com seu professor, Herbert West (Jeffrey Combs) se muda para outra instituição de ensino nos Estados Unidos. Narcisista, arrogante e impetuoso, Combs é mais do que um aluno com grandes ambições acadêmicas, ele acredita ter em suas mãos o segredo para a vida depois da morte. Através de um reagente reluzente, ele faz com que tecidos mortos voltem à vida. Sua transferência faz com que seu caminho cruze o de Dan Cain (Bruce Abbott), um estudante dedicado de Medicina com quem partilha seus experimentos cada vez mais ousados.
Admito que achei que o conteúdo seria um pouco mais sério por conta de todo o plano de fundo com o nome Lovecraft, ainda mais quando filmes baseados em obras de grandes autores costumam ter uma atmosfera mais sóbria, filmes de Terror sobretudo. A entonação descompromissada veio como surpresa e com um efeito ambíguo: a diversão se deu através de outro meio, enquanto a execução acaba sofrendo um pouco com esta pegada. O interessante desta mudança é que não houve decepção por conta de expectativas não correspondidas, mas uma experiência diferente de qualquer coisa que eu tinha imaginado. Em vez de uma exploração mais séria, e até filosófica, do poder da ressurreição se tem um festival de sangue, loucuras e excentricidades.
Usando termos mais chulos, este seria um exemplo do Terror trash odiado por muitos, principalmente por aqueles que levam a sério aquilo que claramente procura ser estúpido desde o começo. Entretanto, vale ressaltar que há dois tipos de trash: aquele que identifica uma obra que saiu direto do lixo para as telonas e aquele que tem uma aparência intencionalmente tosca e trabalha com isso. As continuações ruins de franquias de terror entrariam no primeiro grupo, já a trilogia “Evil Dead” caracteriza bem o segundo. Este é o tipo que contém absurdos tão grandes que abalam os filtros críticos usados para analisar outros filmes, o tipo de obra em que um cadáver com fetiches sexuais é aceito e até valorizado. É um jeito diferente de curtir quase duas horas de cinema.
Mas ao mesmo tempo que a obra seja divertida desta forma, há uma impressão que poderiam ter feito muito mais com o material. Não precisariam mudar o que se planejava inicialmente, poderiam muito bem manter a entonação cômica e, de alguma forma, aproveitar melhor o conteúdo que a história oferece. Os protagonistas, por exemplo, não são do tipo que vão entrar para o panteão de personagens icônicos, porém cumprem seu papel bem o bastante. Jeffrey Combs como Herbert West é mais característico por sua aparência do que por sua personalidade e talvez o mesmo possa ser dito da trama em geral. Ela é interessante por conta da premissa atraente, mas não vai muito além disso por se limitar a usar piadas pequenas como algo grande. Parte da experiência é ver como boa parte do último ato do filme se sustenta em uma base quase prepóstera de tão absurda; por outro lado, esta mesma base poderia ter sido um detalhe interessante de algo maior. Pensando dessa forma é até um pouco deprimente que tenham usado algo raso para sustentar um ato inteiro, definitivamente faltou um pouco da ambição do protagonista para que o conteúdo decolasse.
A expectativa definitivamente não é correspondida. Não por ser menos do que eu esperava, mas por ser totalmente diferente, algo como uma surpresa em vez frustração. De todos os filmes de Terror que eu achava que poderiam ter um tom de comédia, este certamente não era um deles; e ainda que esta mudança tenha seus benefícios, transmitidos através da pegada descompromissada, permanece um sentimento de que ainda havia mais para ser feito. Mesmo puxando para o lado do humor havia espaço para uma desenvolvimento maior, nem que fosse para contar uma piada um pouco mais complexa do que aquela dos três estrangeiros num avião.