Dos atores que vestiram o smoking do agente 007, George Lazenby é quem possui a história mais interessante. Enquanto a grande maioria da equipe da produção dos filmes era de origem britânica, Lazenby conseguiu um dos papéis mais cobiçados do cinema sendo um modelo australiano sem nenhuma experiência como ator. Mas não foi essa parte de sua história que o fez ter mais mais fama no papel que atores como, o injustamente subestimado, Timothy Dalton. Todos os outros artistas fizeram ao menos dois filmes como Bond, Lazenby fez apenas um. O motivo para ele não continuar na franquia foi, aparentemente, para evitar que ele ficasse conhecido apenas por um papel. Ironicamente, há quem diga que fazer apenas um filme como 007 é o maior feito de sua carreira como ator.
A busca por Ernst Stavro Blofeld (Telly Savalas) não têm trazido resultados, fato que desagrada os patrões de James Bond (George Lazenby) profundamente. O agente é eventualmente desligado da operação, mas continua sua missão ao buscar na jovem Tracy (Diana Rigg) um meio de chegar até seu objetivo. Usando um disfarce, ele é levado até os alpes suíços para investigar um suspeito laboratório de pesquisa, chefiado por Blofeld. No entanto, o agente deixa o sentimento se misturar com seu trabalho ao se envolver mais do que deveria com a tal garota, trazendo um novo tipo de perigo ao cotidiano do agente.
Não sei bem se George Lazenby considerou bem suas opções ao recusar um papel que pagava muito bem, pois sua aterrissagem como 007 foi uma chance em um milhão. Se ele fosse um ator de certo renome, até entenderia sua posição, pois sua competência poderia trazer o sucesso eventualmente. Mas sua falta de prática acabou sendo sua ruína, além de ser o motivo pelo qual muitos fãs o consideram o pior de todos os atores da série. Embora seu único filme esteja entre os melhores, é notável que suas habilidades dramáticas são extremamente limitadas; fato tornado explícito pela sua provável incapacidade de reproduzir um sotaque ou voz diferente. No momento em que James Bond tem de se passar por um acadêmico, colocam o ator que interpretou tal personagem para dublar Lazenby. Não é o tipo de coisa que acontece com Marlon Brando ou Dustin Hoffman, com certeza.
Ao menos a produção tinha certa consciência desta desvantagem e compensou com um foco maior na parte física da atuação. Armas e apetrechos dão lugar a espionagem e violência à moda antiga. De certa forma, este é o primeiro retorno aos básicos da franquia, mudança que aconteceu no mínimo 3 vezes ao longo dos anos. Os acessórios que James Bond mais usa aqui são seus punhos e seu treinamento. Ainda que a Era Dalton tivesse apresentado um Bond mais físico, sério e violento, foi apenas na Era Craig que se viu lutas corpo a corpo realmente calorosas — uma das mudanças mais elogiadas depois do reboot. Creio que uma montagem melhor executada poderia elevar ainda mais o nível da briga, mas o resultado final mostrou-se extremamente satisfatório. Enquanto Connery preocupava-se com tornar-se japonês e receber pancadas na nuca, Lazenby estava quebrando cadeiras nas costas de seus oponentes e chutando armas de suas mãos. De fato este foi um caminho interessante para a franquia e que, infelizmente, não foi levado adiante em “Diamonds Are Forever” ou na Era Moore.
Por trás dos murros existe, curiosamente, um lado sentimental nunca visto na franquia até então. Novamente nota-se uma ligação entre este filme e a Era Craig quando se vê James Bond envolvendo-se como não se veria até “Casino Royale”, algo que só poderia ser sustentado por uma Bondgirl forte como a de Diana Rigg. Por este motivo, este é um filme que dificilmente pode ser taxado como convencional. Em momentos ele é sereno, mostrando de pouca a nenhuma ação; em outros temos a ação clássica dos outros filmes, vista nas perseguições de carro; e até mesmo um desenvolvimento da relação entre Tracy e Bond. Qualquer pessoa que se incomode com o tratamento das mulheres deveria dedicar um tempo para ver que o agente secreto não foi sempre sem coração. Além disso, este também foi um dos poucos filmes realmente fiel ao livro de Ian Fleming. Sem dúvida isto é refletido no ritmo bem conduzido da trama, que faz da inconstância sua melhor qualidade e evita que o espectador se entedie no processo.
Por melhor que esta fidelidade possa ser, ela causa um conflito de continuidade grave: aqui vemos Bond encontrando Blofeld, supostamente, pela primeira vez, enquanto os dois já haviam se visto em “You Only Live Twice”. Resta ao espectador acreditar que Blofeld realmente caiu no disfarce de Bond, alternativa prepóstera, ou que esta história se encaixa antes de “You Only Live Twice” na cronologia. Dizem que até pensaram em justificar a troca de atores no universo dos filmes através de uma cirurgia plástica, mas é melhor acreditar que os produtores não ligaram para as consequências e deixaram a interpretação nas mãos da platéia.
A mudança de ator foi uma manobra interessante — possivelmente muito mais na época — mas não acho que a perda de Lazenby foi algo trágico para a franquia. A abordagem mais física que utilizaram com o ator foi ótima e poderia ter sido mantida, mas sua saída possibilitou que outros bens viessem para a franquia; Roger Moore entraria no papel anos depois, entregando um Bond muito melhor interpretado no geral.