Quando vemos um diretor refazer um próprio filme seu é difícil não achar o fato curioso. Por que ele faria isso? Teria ele ficado descontente com o resultado final ou gostado tanto a ponto de querer fazer de novo? Uma vez é o bastante para levantar sobrancelhas, mas dois remakes de uma mesma obra mostrma que há realmente algo estranho ali. Desde o lançamento de “Rio Bravo” em 1959, Howard Hawks lançou dois filmes muito parecidos com ele, chamados de variações ou remakes: “El Dorado” em 1966 e “Rio Lobo” em 1970, lançados consecutivamente. Não se sabe bem porque esses dois longas aconteceram, em primeiro lugar, mas o que torna tudo mais curioso é que eles foram os dois últimos filmes da carreira de Hawks.
O termo remake é usado aqui mais no sentido do esqueleto da história e de alguns aspectos serem similares nas obras, não que tudo seja exatamente igual. O conto aqui novamente envolve o confronto de um grupo de pistoleiros da lei contra um bando criminoso, com o lado do bem usando a cadeia como fortaleza. Uma disputa por água entre os Jason e os MacDonald resulta nos primeiros buscando por ajuda externa para resolver seu problema. Cole Thornton (John Wayne) é o homem chamado para o trabalho, mas ele recusa quando descobre que terá de enfrentar seu amigo J.P. Harrah (Robert Mitchum). Um bando infame é contratado em seu lugar e Thornton acaba ficando na cidade para ajudar seu parceiro no confronto iminente.
“El Dorado” não é o tipo de Faroeste que possui alguma característica única que o torne memorável, pelo contrário, ele está mais para um filme de gênero convencional; um ótimo filme convencional, diga-se de passagem. Não é de hoje que críticos classificam o próprio Hawks como um diretor do comum, porém que trabalhava muito bem com esse comum. Não há muito segredo quanto a isso, ele mesmo dizia que a fórmula de seus filmes era fazer algumas cenas interessantes e não incomodar o público. Este longa segue à risca estas afirmações, pois há qualidade a ser ostentada aqui sem que elementos muito singulares estejam presentes. Não é à toa que parte do conteúdo daqui seja emprestado diretamente de outra obra do cineasta.
Por mais que a história pareça um tanto direta ao ponto, ela possui alguns elementos que a tornam mais interessante. Não é um simples embate entre a lei e os maus elementos, são os caras malvados contra um bêbado, um amador, um índio velho e um quase aleijado. Faroestes possuem uma centena de clichês bem conhecidos hoje, indo desde o pistoleiro mais rápido que as câmeras até o bandido desfigurado; e como em todo filme formular, sempre há aquele suspense para ver como as coisas vão se desviar do padrão, normalmente no tiroteio final. Não há motivo para reclamar do que Hawks faz aqui, uma vez que ele concebe uma história com um plano de fundo seguro e varia uma porção de componentes para renovar a experiência de sempre. O diretor conhece o material com que está lidando e por isso mostra seu controle através da moderação de elementos de gênero vistos aqui. Não há muito humor, muita ação ou muito clichê para fazer com que o espectador aponte o dedo em julgamento. Há um fino equilíbrio que deixa o conteúdo bem na linha ideal do conhecido.
Sendo uma obra de Howard Hawks, não é de se surpreender que o movimentos dos corpos seja a essência do sucesso de sua direção. Boa parte do mencionado equilíbrio sem dúvida deve à influência do cineasta, mas os agentes de sua palavra são estrelas como John Wayne e Robert Mitchum. Wayne está tão em forma como em seus grandes papéis, atuando em uma de suas variações do mesmo personagem: um misto de cara durão com momentos de humor frequentemente compartilhados com James Caan ou com o próprio Mitchum. Sem chumbo voando com frequência, momentos de camaradagem preenchem as lacunas com elegância, apresentando novamente os laços de amizade característicos da carreira do diretor. Entretanto, isso não é dizer que a ação sofre de alguma forma por estar menos presente. Todos os momentos com um pouco mais de agito no ar são executados com a mesma polidez das partes mais calmas, todo cuidado é pouco neste filme.
Tirando qualidade, este filme, como muitas obras do diretor, não traz muita novidade para a mesa. Quando os mesmos atores não são usados, outros são colocados para ocupar a mesma posição dos antigos; elementos de gênero estão presentes como nunca e até um plano de fundo de um filme anterior é trazido de volta. Não há problema nenhum com tudo isso, contanto que a execução seja agradável, qualidade que este longa-metragem pode ostentar com tranquilidade.