Expectativa é algo realmente complicado de se lidar. Eis que alguém me recomendou um filme, que não é muito popular e até parecia ser mediano. Ainda assim, dei uma chance e assisti ao longa para ver do que ele se tratava. Às vezes há uma surpresa agradável, às vezes há “The Boondock Saints”. Além de ter Norman Reedus, uma das estrelas de “The Walking Dead”, a única característica relevante aqui é a clara inspiração nos trabalhos de Quentin Tarantino e Guy Ritchie. Ainda assim, nenhum dos fatos faz muito para evitar que esta obra seja algo mais que simplesmente medíocre.
Dois irmãos, Connor (Sean Patrick Flanery) e Murphy (Norman Reedus) MacManus, vivem uma vida pacata na cidade de Boston, trabalhando em um açougue e passando as noites em um bar tradicional. Quando este bar sofre ameaça de ser fechado pela máfia russa, os irmãos acabam se envolvendo na briga. Após uma série de eventos, os dois decidem combater a corrupção da cidade; não através de meios legais, mas com chumbo, sangue e um pouco de humor.
Troy Duffy é o nome por trás deste longa-metragem. Sendo roteirista e diretor Duffy consegue, de alguma forma, falhar em todas as tarefas de que ficou encarregado. Embora existam casos em que um aspecto acaba compensando as falhas do outro, como quando a direção é regular e a história é excelente a ponto de distrair a atenção da mediocridade, isto não é o que acontece. O que presencia está mais para uma direção terrível supervisionando uma história rasa e uma narrativa ainda pior. Um lado expõe todos os defeitos dos outros, críticos ou mínimos, constantemente. Isso significa que aquele típico sentimento de desconfiança, que costuma surgir com o primeiro momento ruim do filme, fica cada vez mais forte e frequente. Ao fim de tudo já se conhece de cor a estrutura deste longa e porque ela é tão falha.
É relativamente comum no Cinema ver filmes entregarem a conclusão antes do próprio evento ocorrer. Isso abre um leque de opções para quem estiver responsável pela história: pode-se dar a entender que algo óbvio acontecerá e entregar uma coisa diferente; pode-se aumentar o suspense ao induzir o espectador a especulação; ou simplesmente aumentar o impacto dramático da cena, dependendo de como ela for conduzida. As opções são várias e o artifício é interessante, exceto quando este sustenta um filme inteiro. O tempo todo somos expostos a um cenário de pós-conclusão de algum acontecimento, nada muito longe de uma carnificina arranjada como cena de crime. Sem saber o que aconteceu, somos levados ao passado por meio de flashbacks para que toda a situação seja explicada. A primeira vez até chega a ser interessante, mas quando o final do filme finalmente chega, fica bem óbvio que o uso repetido deste artifício é apenas reflexo de um roteiro preguiçoso.
A cereja do bolo é que nem o humor, os diálogos ou as atuações fazem muito para que esta obra seja mais aproveitável. Quem esperava ver Norman Reedus em um bom papel, que não seja Daryl Dixon, sairá desapontado ao encontrar um personagem muito pouco cativante. Seu parceiro Sean Patrick Flanery até ganha um pouco mais de destaque, mas também está bem longe de ser memorável. É difícil de gostar de qualquer um deles quando não há um mínimo desenvolvimento ou bons diálogos, não existe algo que justifique qualquer tipo de interesse. A relação entre os dois inclusive sofre com a decisão do diretor de enfeitar seus personagens em vez de desenvolvê-los. Eles são cheio de tatuagens excêntricas, bordões e costumes icônicos, mas não possuem um traço que faça sua relação fraternal ser algo melhor que casual e tosco. Ao menos o elenco conta com Willem Dafoe em uma interpretação completamente cômica. Não genuinamente engraçada, mas pode-se notar que ele está claramente se divertindo; um típico cenário de filme ruim com bons atores.
Ao menos alguém aproveitou este longa-metragem de alguma forma, ainda que este seja Dafoe e não o espectador. Atuações fracas, um humor risível, não no sentido literal, e uma direção péssima são apenas alguns dos elementos que compõem o fracasso visto aqui, mas já são o bastante para garantir que o resultado passe longe do agradável. Tomar como inspiração o trabalho de outros diretores não foi o bastante aqui e nunca será quando não há perícia para fazer jus aos cineastas. O máximo que se vê aqui é que talento não é algo que todos tem, nem que é facilmente replicado.