Além de ser um dos maiores mestres da maquiagem em Hollywood, Tom Savini teve algumas aventuras na cadeira de diretor em sua carreira. De todos seus trabalhos, a maioria sendo a direção de segmentos de trabalhos pequenos, o maior de todos é sem dúvida o remake do clássico de George A. Romero, “Night of the Living Dead”. A idéia para este filme surgiu à partir de uma série de brigas legais sobre os direitos do longa de 1968. Mesmo ganhando o caso, Romero saiu perdendo pois a distribuidora que devia dinheiro a ele havia falido. Com medo de que fizessem um remake não autorizado, Romero e Savini se juntaram para trabalhar neste projeto.
Quando os mortos começam a levantar de seus túmulos sem explicação, Barbara (Patricia Tallman) é pega desprevenida em uma visita ao túmulo de sua mãe. Tentando escapar dos mortos-vivos, ela se refugia em uma casa de fazenda próxima. Procurando por gasolina, Ben (Tony Todd) aparece na casa e decida usá-la como abrigo até que possa bolar um plano melhor. Para a surpresa dos dois, um grupo de outras 5 pessoas se escondia no porão da casa. Não demora para uma série de conflitos surgirem entre o grupo, ameaçando suas chances de sobrevivência com cada hora que passa. Essencialmente a mesma história, com algumas leves alterações adicionadas aqui e ali.
Os créditos iniciais logo revelam que Romero estava envolvido no processo, mas ver que na verdade ele escreveu o roteiro para este filme foi uma surpresa. Considerando que ele foi um dos principais roteiristas do original, sua influência aqui seria óbvia; e não sendo uma refilmagem quadro-a-quadro, era de se esperar que algumas mudanças seriam incluídas. Imagino que uma pessoa que visse defeitos no original, caso tivesse a chance, mudaria alguns detalhes para tornar a obra melhor. Sendo assim, é no mínimo curioso ver que o próprio Romero foi o responsável pelas modificações vistas aqui. Para atualizar a trama em termos sociais, alguns personagens são reescritos; a protagonista feminina, mais especificamente, recebe um tratamento Ellen Ripley e acaba bem diferente de sua contraparte passiva e indefesa de 1968. Em sua maioria, essas mudanças são moderadas e até chegam a ser interessantes para que a experiência pareça renovada. A única decisão duvidosa é a substituição do espetacular final de antes por outro que não é ruim, mas nem chega perto em termos de qualidade.
Mesmo com esta decisão, a leva de mudanças, no fim das contas, não é o que realmente fere este longa-metragem. Nos Anos 60 o contexto era outro: o orçamento era quase nulo, reduzindo as chances de atores bons serem escolhidos. Levando isso em consideração, muita coisa acaba sendo relevada em uma visualização recente. Mais de 20 anos depois era de se esperar que escolheriam um elenco competente com o investimento maior, expectativa que torna o festival de atuações fracas visto aqui ainda mais inaceitável. Em um filme como esse, o estabelecimento de um clima apropriado é essencial para uma execução sólida de um assunto saturado como zumbis; e justamente onde a direção e ambientação têm sucesso, trabalhando bem com a claustrofobia, o elenco falha completamente em cumprir seu papel.
Ainda que a culpa de muitas das falhas aqui seja quase inteira do elenco, dizer que não há um ator que faça bem seu trabalho é uma injustiça. Tony Todd e Tom Towles compõe o núcleo dos conflitos da casa de fazenda através da briga entre seus personagens e, felizmente, entregam os dois bons exemplos de atuação que fazem com que o clima de tensão esteja presente. Infelizmente, essa presença não é material o bastante para que ele seja realmente efetivo. O sentimento é criado, mas não é desenvolvido. Através do impacto causado pelos atritos as pessoas do ambiente se mostrariam afetadas e estabeleceriam a atmosfera. No entanto, atuações ruins impedem que este processo se concretize, fazendo com que qualquer ramificação do conflito inicial morra imediatamente com os gritos incessantes dos personagens.
Devo dizer que em termos estéticos ver a mesma história em cores e com efeitos especiais de qualidade foi uma boa surpresa. O fato de manterem os efeitos de violência em uma mesma entonação do antigo também é uma homenagem bem vinda, ainda mais pelo fato da quantidade de sangue nunca ter sido o real atrativo do original. No fim das contas, as mudanças não previnem que esta obra seja melhor do que é, pois os responsáveis podem ser facilmente reconhecidos nas atuações ineficientes de alguns membros do elenco.