Normalmente sou contra qualquer tipo de alteração do título original nas traduções, mas há alguns casos em que exista uma necessidade por um subtítulo que deixe o nome mais chamativo. Existem sim alguns exemplos que passam longe da idéia original, a ponto de ser difícil relacionar os títulos de alguma forma; mas por outro lado, também existem filmes como este, que tornam difícil pensar como escolheram um nome tão simples, “O Barco” na tradução literal, para uma produção multimilionária. A falta de entusiasmo do título foi tanta, que o longa foi divulgado com o título alemão, “Das Boot”, nome pelo qual muitos conhecem o filme até hoje.
A época é a Segunda Guerra Mundial e o ambiente, incrivelmente, não é a praia da Normandia. A ação e a maior parte das mais de 3 horas de filme se passam dentro de um submarino alemão, enviado para atacar barcos de suprimentos na região da Inglaterra. Werner (Herbert Grönemeyer) é um correspondente de guerra enviado ao barco para tirar fotografias e acompanhar o cotidiano dos marinheiros, para fins de propaganda nazista. O que ele encontra no submarino, no entanto, é um pouco mais de ação do que esperava, uma vez que os britânicos passaram a reagir contra os ataques alemães. As ofensivas, antes devastadoras, vêm sendo repelidas com cada vez mais eficácia pelos destroyers inimigos, causando perdas graves para o lado alemão.
Um aspecto forte deste filme, e que não se encontra em “The Hunt for Red October“, é a sensação de claustrofobia de estar dentro de um espaço como um submarino. Passando das 3 horas de duração, este longa usa bem seu tempo ao introduzir o espectador ao palco onde a maior parte da ação toma lugar. Desde o começo, fica claro que estar dentro de um barco como aquele é uma experiência pouco confortável. Não há uma cama quente para descansar os nervos e mal há espaço para pensamentos em situações calmas, quem dirá ter qualquer tipo de sossego quando o trabalho é ainda mais árduo nas situações de perigo. O uso do ambiente, que por si já é de um caráter estético belíssimo, por Wolfgang Petersen é notável, trabalhando perfeitamente com a falta de espaço para acentuar o drama e o suspense.
No geral, a direção é extremamente competente no que se refere a manter uma atmosfera singular, que por si faz valer o filme. Câmeras de mão e tomadas longas mantém o espectador apropriadamente aflito em momentos-chave, como as experiências tensas que são os conflitos vistos aqui. Se no espaço não há ninguém para escutar gritos, aqui certamente não há para onde correr quando seu barco está submerso e é bombardeado da superfície. Em contraposição, um aspecto desagradável destes vários ataques foi sua aparência. É aceitável que a maioria, se não todas, as cenas na ponte do barco sejam gravadas em estúdio com projeção ao fundo, mas a representação dos bombardeios dos destroyers simplesmente não é. Citando desta forma pode parecer uma minúcia perante o resto da obra, ainda mais quando até mesmo o tipo de navio é mencionado. O ponto é que este é o principal obstáculo dos submarinos alemães da época, tornando os confrontos com eles frequentes o bastante para incomodar.
Toda a ilustração dos ataques é simplesmente pouco impactante, parecendo algo não pertencente a um filme de orçamento tão alto. Enquanto os interiores do barco são muito detalhados, temos uma imagem não tão complexa dos exteriores. O mar é completamente verde e as bombas mal passam a impressão de impacto com a embarcação, gerando assim um choque quando tais cenas cortam para o ambiente minucioso do interior sofrendo danos. A única impressão transmitida é que se preocuparam tanto com a caracterização do submarino, que esqueceram do resto do oceano. Ainda pior é o uso repetido de sequências iguais, ou muito parecidas, trazendo consigo um indesejável ar de filme de baixo orçamento; coisa que esta produção, em sua maioria, sofisticada certamente não é.
O sentimento que sobra, no final das contas, é que esta falta de cuidado com outros elementos, além do barco em si, é um pouco mais generalizada. A introdução ao ambiente, aos personagens e ao contexto é excelente, o que não pode ser dito de outras coisas como a conclusão, ou talvez a exploração mais profunda do enredo. Resta uma sensação que poderiam ter ido um pouco além em alguns temas, como talvez construir alguma trama mais bem definida; não através de uma duração ainda mais longa, mas talvez com um uso melhor do, já considerável, tempo de filme. Ainda assim, os momentos de suspense são estupendos e ajudam a manter um bom ritmo por sua recorrência, além de ilustrar alguns dos melhores momentos da vida de marinheiro dentro de um submarino. Isso em termos estritamente de entretenimento, pois sofrer ameaça constante de afundamento não é exatamente uma opção popular para sábados à noite.
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