Após tantos anos sem ver os filmes do arqueólogo mais famoso do Cinema, devo dizer que senti certo alívio ao ver que o terceiro continua como o melhor até hoje. Ainda que a estrutura em si não seja muito diferente do que se viu nos dois longas anteriores, alguns aspectos melhor executados se fazem notar e transformam esta obra em outro bom exemplo de como usar uma fórmula para entregar bons resultados. É evidente que a originalidade se perca um pouco neste processo, o que felizmente não significa que a qualidade sofra de alguma forma no processo, como pode ser visto em diversas outras franquias de várias entradas.
A aventura da vez coloca Indiana Jones (Harrison Ford) na trilha de um dos artefatos mais lendários da história da humanidade, perseguido por muitos e alcançado por poucos, o Santo Graal. Mais do que isso, Indy acaba revisitando uma parte de seu passado há muito tempo deixada de lado, seu próprio pai, Henry Jones (Sean Connery). O que liga os dois pontos, aparentemente desconexos, é a obsessão do Jones sênior pelo tal artefato, que acaba o levando a ir atrás da peça e eventualmente ser capturado. Cabe então a Indiana Jones salvar seu pai de seus captores e no caminho fazer o possível para encontrar o cálice usado por Jesus Cristo na última ceia.
Apesar de muitos odiarem a segunda aventura de Indy, devo dizer que o ritmo deste filme está mais para o que está ali, do que para o que se vê na primeira aventura. Curiosamente, esta abordagem funciona muito melhor aqui que em qualquer um dos predecessores. As cenas de ação não são necessariamente frequentes, sendo distribuídas ao longo de uma condução mais contida, sem tanta preocupação com manter os ânimos altos o tempo todo. No lugar de sequências agitadas, que nem sempre acertam as notas certas, há um desenvolvimento mais profundo dos elementos do roteiro no geral. Personagens novos são introduzidos, uma exploração do passado dos já conhecidos é apresentada e até chegam a dedicar um tempo maior para elaborar a trama. Ainda não se fala em personagens tridimensionais, nem de reviravoltas repletas de choque, mas é interessante ver que há uma preocupação maior com a obra, por mais simples que seus elementos sejam.
A apresentação de Sean Connery não poderia ter sido melhor, pois realmente há poucos atores que poderiam contracenar com Harrison Ford e causar uma boa impressão, ainda mais quando o personagem de Ford é alguém gigante como Indiana Jones. Algo interessante sobre a interpretação de Connery aqui foi que, neste meio tempo entre assistidas, minha lembrança se confundiu com seu personagem em “The Untouchables”, consideravelmente mais sério. Com isso, uma surpresa genuína surge à partir da excelente interpretação de Connery, que além de ser uma ótima adição ao repertório de personagens da franquia, ainda consegue quebrar o padrão de atuações do tipo “cara durão” do ator. Desde sua introdução, há um competente casamento entre o desenvolvimento dos personagens e a introdução de novos rostos. Ao mesmo tempo que ganhamos um novo personagem, cria-se uma boa desculpa para vermos uma pedaço do passado do aventureiro; enquanto mais tarde uma relação interessante de pai e filho passa a ganhar foco, tendo como palco lugares totalmente apropriados, como tanques de guerra e dirigíveis nazistas.
Desenvolver bem os elementos do roteiro por sorte não ocorre em detrimento das sequências de adrenalina do filme, pois várias sequências excitantes mostram presença aqui. Em especial, o que as torna superiores às suas contrapartes do passado é a notável melhora de nível da direção de Spielberg. Excluindo aspectos estritamente estéticos, que não se aplicam aqui, os esforços do diretor transmitem um tom mais claro de sofisticação em relação às duas outras aventuras. Uma administração mais sólida do suspense e de elementos dramáticos acaba por ser a peça que faltava para corrigir alguns dos erros de entradas prévias. Extintas estão as incongruências em cenas de ação, e com elas a sensação de que os obstáculos são ainda menos ameaçadores que o padrão do gênero dita. O mesmo acontece com o humor anti-climático, que aqui dá lugar a um de caráter mais apropriado, representado pela entonação mais leve do longa. Como aqui os principais responsáveis pela comunicação do humor são atores de competência, incômodos com galhofa e piadas forçadas não serão coisas que a serem encontradas. Ainda assim, o personagem Short Round, uma das fontes de humor do predecessor, faz um pouco de falta, e até me entristeço de pensar no possível destino do personagem no universo relativamente perigoso da franquia.
Mesmo não sendo o filme mais icônico, posto ocupado por “Raiders of the Lost Ark“; nem o com a personagem mais chata de todos os tempos, que está em “Temple of Doom“, esta obra continua a experiência mais agradável de toda a franquia. A presença de um elenco consideravelmente mais competente que os dos predecessores faz a diferença, sendo um dos elementos que faz a diferença na estrutura formular de “The Last Crusade”.