Voltando para uma quinta rodada como o agente secreto da IMF, Tom Cruise mostra que seus 53 anos não são um obstáculo para estrelar em filmes de ação. Não só isso, pois ele se destaca pela famosa decisão de não usar nenhum dublê nas cenas de ação, o que quase nunca acontece em Hollywood. De fato, é uma conquista bastante considerável quando agarrar-se a um avião decolando e voar baixo com motocicletas são alguns dos exemplos das sequências em “Rogue Nation”. Curiosamente, o tempo parece estar fazendo bem para o ator, que surpreende ainda mais por estar em melhor forma aqui do que no último “Missão: Impossível”, de 2011.
Após a desativação temporária da IMF decorrente de escândalos em que havia se envolvido, a organização é investigada a fundo pelo governo, o que pode acarretar no fim definitivo dela. No entanto, isso não impede que Ethan Hunt (Tom Cruise) continue suas atividades como agente e investigue os planos de uma associação terrorista que pretende acabar com a ordem mundial a partir de uma filosofia distorcida. Contudo, tal ato não é bem visto pelos indivíduos do governo. Perseguido pelos homens de seu próprio país e por seus inimigos, Hunt e equipe são homens sem pátria em um jogo de mentiras que pode se provar fatal.
Não que eu tenha de alguma forma desgostado da trama, pelo contrário, só é difícil olhar pra ela e não notar que esta é quase a mesma de seu predecessor. Alguns detalhes mudam, obviamente, mas novamente se encontra: a integridade da IMF em perigo; Ethan e sua equipe perseguidos por alguém além dos vilões — e que, no fim, nem tinha razão para tal ato; e a equipe de protagonistas agindo independentemente. Dá para ver que “Rogue Nation” faz um mínimo esforço para tentar interligar sua história com a do predecessor, escolha interessante em um trabalho do gênero — mesmo que não funcione sempre, como em “Quantum of Solace” —, só é difícil entender de que maneira isso é justificativa para copiar descaradamente boa parte da trama de “Ghost Protocol“. Talvez isso seja um sinal. Em vez de refazer os lançamentos de há menos de 10 anos atrás, Hollywood agora está fazendo remakes nas continuações imediatas.
Apesar da trama, a ação apresenta significativa melhora frente ao último lançamento. “Ghost Protocol” mostrou algumas sequências realmente de tirar o fôlego: Tom Cruise escalou um dos prédios mais altos do mundo e perseguiu em alta velocidade um carro durante uma tempestade de areia, citando alguns exemplos. O resto é outro departamento e não chega a ser tão marcante, minado por um roteiro falho e CGI ocasionalmente fraca. Já em “Rogue Nation”, há sequências extraordinárias— como a tão divulgada cena de Hunt agarrado no avião — sem decepcionar em aspectos como efeitos especiais. Para chegar nisso, o caráter da ação no geral é suavizado, apresentando ótimas sequências com os pés um pouco mais firmados no chão. Isso em termos de um gênero que se baseia em façanhas complexas e absurdas, claro. Uma perseguição de motocicleta, que pode ser considerada batida e comum por estar em diversos filmes de ação, mostra-se um dos pontos fortes. É justamente o fato desta cena não ser o tipo de coisa que venderia um filme que faz do sucesso dela tão inesperado, mesmo que tudo sugira o clichê. Complicam menos sequências isoladas e executam melhor outras que seriam apenas secundárias, mostrando uma execução mais sólida e equilibrada no geral. Nada de megalomania exacerbada que não consegue se sustentar direito. Definitivamente fazem valer o ditado de que menos é mais.
Apresentada totalmente sem CGI e sendo uma presença de maravilha visual, Rebecca Ferguson é outro motivo pelo qual “Rogue Nation” supera seu predecessor. Não que a coadjuvante feminina do último longa seja ruim de alguma forma, mas no geral sua personagem é completamente dispensável. Neste caso, Ferguson é uma peça crítica para uma das melhores partes da história, na qual é colocada como uma agente secreta de motivação duvidosa. Além de proporcionar vários deleites com sua imponente beleza, a personagem adiciona um toque de individualidade à trama que dá ao roteiro ao menos uma qualidade não emprestada de seu predecessor. Não se sabe quem ela é exatamente, para quem trabalha ou por que faz as coisas que faz. Mistério cerca a personagem conforme ela muda de lado constantemente, seja salvando o protagonista ou enganando-o. Ela também se destaca por não estar ali como simples objeto de desejo do espectador ou par romântico do protagonista. Até chegam a criar uma leve tensão sexual entre ela e Ethan, mas preferem trabalhar com a sutileza do que com a exposição propriamente dita, uma decisão certamente feliz. Mais do que tudo, a presença da personagem representa a parte da história que não é praguejada pela mesmice.
Tendo assistido aos três primeiros e pulado o quarto por algum motivo, criei certa empolgação quando “Rogue Nation” foi anunciado. Contudo, ela logo morreu um pouco quando finalmente vi “Ghost Protocol“, que não foi ruim ao mesmo tempo que pareceu uma experiência bem insossa. De qualquer forma, fui ao cinema conferir do que o quinto filme se tratava e acabei descobrindo uma surpresa ainda maior que a expectativa inicial. Ainda existem ainda alguns bons passos entre “Rogue Nation” e o melhor filme de ação do ano, “Mad Max: Fury Road“, porém não significa que este “Missão: Impossível” não seja extremamente divertido por si.