Ao contrário do que o título sugere, este não é mais um dos poucos Faroestes a ter ganhado o Oscar de Melhor Filme. Por mais que cowboy esteja no nome, esta é uma história que se passa uns bons anos após o apogeu da conquista do oeste, em tempos onde ser fora da lei é realizado de uma forma bem diferente. Inicialmente esquisito para os desavisados, e talvez até mesmo para os melhor versados na história, esta obra de seu jeito chega a tocar no coração do sonho americano, em uma de suas várias faces.
Nos Anos 60, um texano decide tentar ganhar a vida no leste do país, realizar o sonho americano em Nova York. Em vez de procurar um emprego e começar carreira, Joe Buck (Jon Voight) procura se aproveitar de seu físico escultural para ser um acompanhante de luxo, trajando roupas de caubói para a tarefa. A empreitada não dá tão certo quanto planejado, e Joe passa a sentir na pele as dificuldades que a cidade dos seus sonhos não ostentava em sua bandeira. Uma das figuras do caminho árduo de Buck é Enrico Salvatore Rizzo (Dustin Hoffman), um malandro que sobrevive com trocados e trapaças nas ruas e logo se torna um grande amigo em meio a situação difícil.
Essencialmente outro filme sobre o lado negro do estilo de vida americano, o que se vê aqui é um trabalho bem focado nessa proposta; sendo ainda mais direto ao ponto que um “Scarface” no que se refere ao ataque do comercialismo de ideais da América. Indo além de apenas usar a trama como ferramenta crítica, esta obra faz uso frequente de objetos do dia a dia para complementar e reforçar este argumento. Algumas vezes este complemento é atingido com sucesso, como quando o protagonista diz ser um verdadeiro garanhão para justificar o fato de não ser um caubói autêntico; mas algumas escolhas infelizes por vezes acabam batendo nesta mesma tecla de uma maneira não tão eficiente, refletindo um cinema de qualidade claramente inferior a diversas conquistas vistas aqui. Mostrar uma televisão com diversos comerciais tendenciosos sobre a estilo de vida americano, hoje em dia já não é uma mecânica tão eficaz na hora de comunicar um significado implicitamente; pois com o passar dos anos e com o aumento da popularidade da televisão, comerciais de todos os tipos se tornaram coisas comuns demais para serem levados minimamente a sério, especialmente os que tentam transmitir sua mensagem tão diretamente.
Interessante é ver como os fins aqui não são exatamente justificados pelos meios, pois a mensagem se mantém efetiva e atual até hoje, mesmo que os métodos não sejam totalmente sólidos em sua execução. O modo americano não é atacado ou criticado arduamente, como se existisse algum caráter propagandista forte por trás dos panos; apenas uma história boa é apresentada e ela fala praticamente por si mesma. Justamente quando o filme tenta falar mais do que deve, como se mais explicações fossem necessárias, é que as coisas desandam um pouco. Através do relacionamento entre os dos protagonistas, por exemplo, muito já é dito. Pessoas diferentes em situações similares se encontram, e à partir deste ponto uma amizade incomum se desenvolve; dois sonhadores decepcionados em um ambiente inóspito e imperdoável, unidos pelo fracasso.
Pelo enredo ser tão bem desenvolvido, é mais fácil relevar os vários momentos em que a mensagem é passada como se o espectador fosse desprovido de inteligência. Mas ainda assim uma perfeição está longe de ser atingida quando até mesmo a qualidade mais redentora, a história, mostra ter seus próprios pecados. Enquanto os protagonistas são bem trabalhados o bastante para que um carinho por eles exista, algumas coisas são simplesmente desnecessárias para o entendimento de qualquer parte da trama. Saber o que aconteceu no passado traumático de Joe Buck simplesmente não adiciona nada para o filme, tudo o que tem valor o bastante é absorvido através de outros elementos. Quem sabe se este passado fosse explorado de modo que se tornasse algo relevante para o enredo, ele poderia ser minimamente importante para o espectador.
Se o comentário social não for do gosto do espectador, sucesso ainda poderá ser encontrado, pois, apesar de qualquer crítica no plano de fundo, esta ainda é por si uma competente história sobre as dificuldades da vida no geral, como sonhos nem sempre entregam o que prometem e como amizades se desenvolvem nas mais aversivas situações.