Admito que pelo tanto que apedrejaram este filme, achei que seria outro daqueles exemplos de continuação que dá errado o bastante para fazer o original parecer melhor do que é. Francamente, devo dizer que lembrava de “Raiders of the Lost Ark” melhor do que minha percepção recente, mas por outro lado não lembrava de absolutamente nada deste longa-metragem. Não me recordava dos coadjuvantes, da história, dos ambientes… praticamente nada. Então apesar de esta não ser a primeira vez que vejo esta obra, creio que posso considerar que foi uma assistida pura; e ver que o longa não era nem de longe tão ruim quanto pintaram foi uma surpresa genuína.
Acontecendo um ano antes dos eventos do filme anterior, as aventuras do arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford) o levam para a Ásia, mais especificamente para a Índia. Após um desentendimento enérgico na China, Indiana Jones se vê perdido em um pequeno vilarejo da Índia. Lá ele descobre que as crianças da cidade e uma pedra sagrada estão desaparecidos, e que aparentemente a realeza local está envolvida. Cabe ao arqueólogo descobrir o que se passa realmente, e quando a situação mostra-se mais que um mal entendido, as coisas complicam para o lado de Jones e sua equipe.
De todos os aspectos desta obra, positivos ou negativos, o mais protuberante é sem dúvidas a personagem Willie Scott (Kate Capshaw). Parceira de aventuras por acaso e interesse amoroso do Dr. Jones, a moça é uma personagem tão icônica que sua presença no filme é digna dos livros de história do cinema. Sendo uma manifestação de características singulares, é quase impossível não notar os limites alcançados por sua personalidade. Em primeiro lugar, pode-se dizer com tranquilidade que Willie sozinha é material o bastante para fazer uma nação de feministas pegar fogo, pois de alguma forma consegue reunir todas as qualidades negativas mulheres e estereótipos opressores em uma só pessoa. Some isso às primeiras 50 características negativas que um ser humano pode ter e esta é Willie Scott, cantora e artista do show business de Shangai. Por vezes impressionando mais que algumas das melhores sequências de ação vistas aqui, é quase absurda a capacidade de Kate Capshaw interpretar uma personagem de maneira tão péssima; seja pela gritaria gratuita, pelos diálogos explicativos alheios, ou pela simples inutilidade de sua personagem no filme todo.
Por outro lado, mesmo com a pior personagem da história do cinema, superando até mesmo o infame Jar Jar Binks, devo dizer que se esta obra não está no mesmo nível do original, não está muito longe atrás. Mesmo não tendo cenas tão fantásticas e icônicas como “Raiders of the Lost Ark“, acredito que boa parte das qualidades deste longa se dá por conta desta continuação não tentar ser o que seu predecessor foi. Não que seja uma característica necessariamente ruim, mas analisando sob um olhar comparativo, parece que o primeiro filme tinha um foco muito intenso em causar um impacto quase constante. Se um evento acontecia, quase sempre este era de um caráter totalmente fantástico e absurdo. Este longa, por outro lado, mostra ter seus pés mais firmes no chão no que se refere à sua estrutura em geral.
No geral, a preocupação não é tão relacionada a causar uma impressão forte em todas as cenas, pois por boa parte do tempo a trama caminha em passo constante, sempre criando suspense para alguma consequente cena maior. Isso se dá muitas vezes em sequências que procuram introduzir o espectador aos elementos da trama, seja o cenário, o figurino, ou até mesmo a atmosfera geral do novo ambiente. Por este motivo acredito que, embora mais escassas, as cenas de ação mostram-se mais chocantes. Outro ponto positivo, obviamente desconsiderando a infame coadjuvante, é a diminuição geral das bobeirinhas do enredo. Parece que cada coisa está melhor estruturada, e a entonação geral adotada aparenta estar mais bem concretizada. Muitos espectadores reclamaram da pegada mais obscura deste longa, porém dizer que esta obra carece de humor é no mínimo prepóstero. O que acontece é que enquanto a trama aborda seus temas de maneira mais séria, alguns personagens acabam encarregados de levar o humor e leveza adiante. Por um lado isso funciona muito bem, que é o caso do carismático Short Round (Jonathan Ke Quan), enquanto em outros nem de longe é o que acontece. De qualquer forma, esta divisão faz muito pela análise crítica deste obra em si, pois fica muito mais fácil delimitar onde o filme erra em geral.
Mas acima de tudo, dou a esta obra um mérito especial por apresentar a pior Bondgirl de todos os tempos, a escolha definitiva de qualquer lista do gênero. Mesmo sem fazer sequer uma aparição nos filmes de James Bond, Kate Capshaw faz por merecer o título, pois o nível de sua atuação de mau gosto não é equiparável. Talvez por muito pouco esta obra não seja melhor que sua predecessora, mas a segunda aventura de Indiana Jones contém acertos o bastante para ser um excelente filme de aventura.