Devo dizer que das últimas animações da Pixar não vi nenhuma, a mais recente sendo “Toy Story 3” de 2010. No entanto, pelo que muita gente andou falando a Pixar não produziu algo de alto nível desde então. Não posso dizer se concordo ou discordo pois não assisti os 3 filmes lançados entre a última aventura de Woody e esta obra, mas com certeza digo que acertaram a mão com gosto em “Inside Out”. Além de um bom filme este é uma agradável surpresa, uma vez filme que não parece muito atrativo na primeira vista, aparentando ser mais uma animação filler que uma de alto escalão.
Imagine que em vez de neurotransmissores, proteínas, e impulsos elétricos seu cérebro fosse regido por cinco monstrinhos, cada um representando uma emoção. Temos a Felicidade, a Tristeza, a Raiva, o Medo, e o Nojinho, e todos os cinco ficam em uma sala de comando controlando as reações da pessoa adequadamente. Então se um cachorro sujo de sangue aparecer na frente do indivíduo, a reação apropriada seria a do medo, criando assim uma memória de medo. Com isso em mente, temos Riley, uma criança feliz de Minnesota que tem uma vida quase perfeita: sua família é bem estruturada, sua escola é ótima, e seu time de hóquei é tudo para ela. Mas quando seus pais decidem se mudar, a vida de Riley começa a se desestruturar, uma coisa de cada vez.
Apesar de parecer um tanto idiota, do nível daqueles cassetes educativos que vêm junto com enciclopédias, essa idéia é melhor aplicada do que parece ser. A estrutura do filme se baseia nesse esquema da sala de comando, mas nem de longe se limita a isso. Avaliando sob um viés psicológico é impressionante como muito dessa interpretação do funcionamento do corpo é fidedigna, pois mesmo com uma pegada mais infantil e simplificada, ela ainda funciona tão bem como é ditada em muitas teorias psicológicas. Por exemplo, ao longo da trama Riley vai se entristecendo com sua realidade na cidade nova, e com isso modificações vão tomando lugar em sua estrutura psicológica.; essa estrutura por sua vez é representada por diversas ilhas, cada uma simbolizando uma característica elementar da personalidade de Riley. Mais do que isso, esta curiosa ilustração é criada de forma que renda a maior quantidade de entretenimento, ao mesmo tempo que corresponde alguns preceitos fundamentais da própria Psicologia.
Sendo assim, essa pode ser facilmente considerada como outra daquelas animações salpicadas com uma inesperada maturidade; um desenho animado para crianças adultas, ou para adultos meio criança ainda. Por boa parte do tempo esse sentimento se mantém firme, mas por vezes parece que a Pixar tenta compensar sua entonação madura com lapsos de estupidez alheia. Em um momento se vê a protagonista caminhando diretamente para uma depressão, enquanto em outro se tem uma sequência de humor digna do pior dos episódios de Bob Esponja. Me perdoe quem gosta do Sr. Calça Quadrada, mas ele é um forte candidato a pior desenho da história e eu espero que ele morra. Ao menos tais cenas de bobeirinha alheia estão em número reduzido, pois elas se destacam como um batom borrado quando comparadas com outras sequências geniais de humor e com o próprio tom maduro do longa.
Tendo uma estrutura muitíssimo aplicável ao gênero Aventura, é de se esperar que a odisséia apresentada seja algo tão excelente quanto outros aspectos do enredo. Em sua grande maioria isso é o que acontece, com o mundo de dentro da cabeça de Riley sendo abalado e suas emoções fazendo o possível para corrigir a instabilidade. Ao longo desta aventura diversas partes da mente são visitadas, como o limbo o esquecimento, a biblioteca da memória de longo prazo, a fábrica de sonhos e até as memórias reprimidas. No geral estes lugares rendem criativas sequências e são de muito bom gosto, mas em certo ponto parece que os roteiristas sem empolgam com suas idéias e esquecem da história; tentando corrigir tal erro em poucos segundos de filme, e assim deixando aquele sentimento de leve desleixo no ar. A suposta solução usada por eles está longe de ser ruim, mas fica a pergunta do porquê diabos não fizeram isso no começo. Se fosse assim, a mente do espectador também se desestabilizaria por não presenciar alguns vários momentos de genialidade; mas ainda assim digo que se tais pessoas conseguiram criar sequências tão boas, creio que não foi por falta de capacidade que não manusearam bem este trecho em questão.
No geral, este é um ótimo longa-metragem por criar e manusear tão bem idéias geniais, estando em um patamar de qualidade digno das melhores obras da Pixar, apesar de não superar os melhores trabalhos. Inicialmente esta obra mostrou-se como um forte candidato a obra prima, mas no decorrer do filme acaba falhando em atingir seu potencial, mesmo mantendo seu status como uma animação extremamente competente.